Ex-presidente dos SPMS acusa Ministério de não ter reforçado SNS24 em março

José Sena Goulão / Lusa

António Costa visita Linha Saúde 24

O ex-presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) acusou o Ministério da Saúde de ignorar alertas sobre a necessidade de reforçar a linha SNS24 no início da pandemia, em março.

Numa audição por videoconferência na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à covid-19 e do processo de recuperação económica e social, na Assembleia da República, o antigo presidente dos SPMS, cujo mandato terminou a 5 de março de 2020, considerou que “a evolução da pandemia em Portugal podia ter sido diferente” face à reação da tutela aos primeiros casos de infeção pelo SARS-CoV-2.

“O conselho de administração teve o cuidado de alertar a tutela de que o número de enfermeiros com contrato para dar resposta era insuficiente. Enviei um e-mail, alertando para a urgência de que se mobilizassem enfermeiros para que fossem alocados em full time no serviço do SNS24. Esse reforço não aconteceu na terça-feira [3 de março], não aconteceu na quarta-feira, e houve mais de 20 mil chamadas que não foram atendidas”, afirmou Henrique Martins.

O ex-presidente observou que “este erro podia ter sido evitado”, já que acabou por culminar em “milhares de pessoas que não tomaram medidas de isolamento, encaminhamento e que, provavelmente, não foram testadas”, sublinhando ainda que “não houve energia” para ouvir os alertas, mas que “houve energia para ser assinado o despacho de substituição do conselho de administração”.

Questionado pelos deputados sobre a postura do Ministério liderado por Marta Temido, o ex-presidente dos SPMS criticou a ausência de resposta da tutela aos alertas e revelou que o tema chegou a ser abordado numa reunião de crise, mas que “rapidamente foram criadas uma série de barreiras administrativas e burocráticas” que afastaram os alertas do conselho de administração.

Henrique Martins visou também a atual liderança dos SPMS, cuja gestão está a cargo de Luís Goes Pinheiro, para apontar uma “redução de informação” dos profissionais disponíveis para atendimento no SNS24 e a alegada “falta de transparência” dos serviços junto do público.

“Essa informação deixou de estar online. Há uma falta de transparência e um retrocesso numa política de dados abertos que vinha sendo seguida há algum tempo. Deixámos de ter também online os números de vacinação”, notou Henrique Martins, acrescentando posteriormente que “a falta de transparência dos dados é algo que mereceria uma audição ou investigação”.

Insa vai avançar para rastreios em massa

O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) confirmou, no último domingo, que a nova variante já estava a circular em Portugal Continental: 16 casos que se juntaram aos 18 inicialmente detetados na Madeira.

Em declarações ao jornal Público, João Paulo Gomes, investigador do INSA, explicou que em alguns destes 16 casos “não existirá historial de viagem ao Reino Unido, o que, a confirmar-se, será um indicador de transmissão comunitária“.

O investigador acrescenta que estes casos “estão a ser investigados pela Saúde Pública” e que está a ser feito “um estudo muito dirigido a esta variante em particular”. “Estamos a processar dezenas de amostras suspeitas vindas do Porto, do Algarve, de diversos locais.”

Para além deste estudo, escreve o diário, nos próximos dias irá arrancar um rastreio em massa para detetar a nova variante​. “Vamos passar a fazê-lo numa base mensal, como no início da pandemia. Vamos solicitar aos laboratórios do país amostras, analisaremos centenas de amostras“, disse João Paulo Gomes.

Portugal contabiliza pelo menos 7377 mortos associados à covid-19, em 446.606 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS). Esta quarta-feira, o país registou, pela primeira vez, mais de 10 mil casos diários.

ZAP // Lusa

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