Os dados do Reino Unido e dos Estados Unidos indicam que os millennials estão a contrariar a ideia de que a população se torna mais conservadora à medida que envelhece.
“Se não és um liberal aos 25 anos, não tens coração. Se não és conservador aos 35, não tens cérebro”. A famosa frase de Winston Churchill não existe sem razão de ser já que, historicamente, há mesmo uma tendência para a população se tornar mais conservadora à medida que envelhece.
No entanto, a geração millennial está a contrariar esta regra informal. De acordo com uma análise do Financial Times aos padrões de voto no Reino Unido, a tendência está agora a reverter-se.
A geração “silenciosa” nascida entre 1928 e 1954, por exemplo, estava cinco pontos abaixo da média nacional na escala de quão conservadores eram aos 35 anos. No entanto, esta mesma geração já estava cinco pontos acima da média nacional aos 70 anos. O mesmo se sucedeu com os baby boomers e a geração X.
Os millennials, nascidos entre 1981 e 1996, começaram por seguir a mesma trajectória — até que não. Os dados do FT mostram que os millennials no Reino Unido votam 15% menos nos Conservadores do que a média da geração silenciosa, os boomers e a geração X quando estes tinham a mesma idade.
Nos Estados Unidos, o cenário é parecido: os millennials também estão mais de 10% abaixo das gerações antecessores quando o assunto é o voto nos Republicanos. Esta mudança pode vir assim a ter um grande impacto no eleitorado futuro destes partidos e estes dois países podem ser apenas exemplos de uma tendência global.
Isto indica que não é a idade em si que influencia a evolução da ideologia política de alguém, já que a geração millennial tem os adultos de 35 anos menos conservadores da história, tanto nos EUA como no Reino Unido.
Analisando os efeitos periódicos, que afectam todas as faixas etárias da mesma forma, podemos ver que o apoio aos Conservadores britânicos caiu a pique em todas as faixas etárias durante a curta passagem de Liz Truss pelo Governo e que houve apenas uma ligeira reucperação após a sua demissão.
No entanto, estes factores são específicos apenas ao Reino Unido e não explicam a mesma tendência nos Estados Unidos. Isto sugere que a geração millennial, no geral, tem experiências muito diferentes das de outras gerações anteriores, o que levou a que formassem valores e crenças políticas também distintas.
A falta de dinheiro e a precariedade laboral que afecta esta geração pode ser a resposta. Tendo chegado à idade adulta no rescaldo da crise financeira global de 2008, os millennials estão a demorar muito mais tempo do que as gerações anteriores a acumular riqueza suficiente para conseguirem comprar uma casa e começar uma família, por exemplo.
O combate às alterações climáticas, que também tende a ser mais desvalorizado pelos partidos de direita, é ainda uma principais das bandeiras políticas dos millennials, o que explica também esta alienação do eleitorado jovem.
Os dados nos Estados Unidos indicam precisamente que os millennials têm visões económicas muito mais à esquerda do que as gerações anteriores e que favorecem políticas de redistriuição da riqueza.
No Reino Unido, o cenário é o mesmo, mas o Brexit agravou mais a situação — mesmo antes de Truss, dois terços dos millennials que apoiavam os Conservadores antes do referendo de 2016 diziam não ter planos de voltar a votar nos Tories e um em cada quatro diz agora desaprovar fortemente a conduta do partido.
Esta “guerra de gerações” também já alimentou inúmeros memes, incluindo o famoso “Ok, boomer” que os millennials e a geração Z atiram contra os adultos e idosos que criticam os mais jovens sem entenderem o contexto diferente em que estes vivem. E pelo que dizem os dados, o conservadorismo pode mesmo ser a próxima “vítima” das gerações mais jovens.