Militares ucranianos vão congelar células reprodutivas para ter filhos após a morte

Os espermatozoides ou óvulos dos soldados mortos que tenham sido preparados com esta técnica podem ser usados para criar descendentes após a morte, sendo a paternidade ou maternidade legalmente reconhecida.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, assinou esta terça-feira uma lei que permite aos militares congelar as suas células reprodutivas para que possam assegurar descendência através de técnicas de reprodução assistida após a sua morte.

A lei, anunciada na página de Internet do parlamento, oferece aos combatentes a possibilidade de preservarem gratuitamente as suas células reprodutivas através do congelamento por um período máximo de três anos, a partir do momento da morte do militar.

A nova lei introduz alterações para garantir o direito dos soldados mortos à reprodução póstuma, dando um passo à frente em relação à legislação anterior que permitia apenas a reprodução assistida com células reprodutivas congeladas a soldados que sofressem lesões impeditivas de terem filhos.

A anterior legislação ordenava a destruição das células reprodutivas após a morte do doador, que não tinha o direito a ser reconhecido como pai ou mãe após a sua morte.

Congelar esperma: um ato patriótico

Com a invasão do país pela Rússia em curso há mais de dois anos, várias viúvas de soldados que congelaram o seu esperma exigiram, com diversas ações públicas, a mudança legislativa aprovada por Zelenskyy.

Centenas de soldados ucranianos fazem-no. Foi o caso de Vitali Kirkatch-Antonenko, que morreu na linha da frente da guerra. “Vitali será o pai de todos os nossos futuros filhos”, diz a sua viúva, Natalia, em declarações ao The New York Times.

Para muitos ucranianos, a ideia de preservar o esperma de soldados não é meramente uma questão pessoal, mas também patriótica. É um ato de resistência e de consolo e esperança para as parceiras. É a forma de ucranianos baterem o pé e mostrarem que não são um povo ficcional, tal como o Kremlin tenta vender.

Natalia Kirkatch-Antonenko tornou-se uma espécie de porta-voz da causa. Quando as notícias chegaram à Rússia, o ato de resistência não é visto com bons olhos por alguns.

A jornalista pró-Kremlin, Olga Skabeeva, disse recentemente na televisão estatal russa que o facto de soldados congelarem o seu esperma equivale a “experiências genéticas para construir uma nação”. Na ótica de alguns russos, a Ucrânia não é um país.

ZAP // Lusa

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