Mais de metade dos maiores lagos e reservatórios do mundo está a secar, devido principalmente às alterações climáticas e ao consumo humano de água, colocando em risco a futura segurança hídrica da humanidade.
Uma equipa internacional de investigadores revelou que algumas das fontes de água doce mais importantes do mundo perderam água a uma taxa de cerca de 22 gigatoneladas por ano durante quase três décadas.
Segundo os cientistas, a quantidade de água armazenada globalmente em grandes lagos diminuiu principalmente devido a fatores climáticos e ao excessivo consumo humano.
Observações de imagens de satélite, além de modelos climáticos e hidrológicos ajudaram os investigadores a mostrar que mais de 50% dos grandes lagos e reservatórios naturais sofreram perdas de volume de água.
Os resultados do estudo, publicado esta semana na revista Science, vêm reiterar a importância de melhor gestão da água para proteger os ecossistemas essenciais à vida.
O grupo de trabalho, liderado por Yao Fangang, investigador do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais da Universidade do Colorado, analisou os maiores lagos globais e comparou três décadas de observações.
A equipa encontrou quedas de armazenamento estatisticamente significativos para 53% desses reservatórios de água no período de 1992 a 2020.
“Os lagos estão com problemas em todo o mundo, e isso tem implicações em toda a parte”, afirmou Balaji Rajagopalan, professor da Universidade do Colorado em Boulder e coautor do estudo publicado na revista científica Science.
“Chamou a nossa atenção que 25% da população mundial vive numa bacia de lagos que está em tendência de declínio”, acrescentou, o que significa que cerca de 2 mil milhões de pessoas são afetadas pela perda de água nestes lagos— que representam 87% da água doce da superfície líquida da Terra.
Os cientistas advertem que “a perda líquida de volume em lagos naturais é amplamente atribuída ao aquecimento climático, ao aumento da evaporação e ao consumo humano de água”, e que a sedimentação domina as perdas de armazenamento em reservatórios.
A erosão de terrenos que sofreram incêndios ou foram desflorestados transporta maior quantidade de sedimentos, que se alojam nesses locais, retirando espaço ao pouco volume de água que já existe.
“O resultado da sedimentação pode ser verificada na capacidade dos reservatórios, que armazenam menos água, tornando-se menos confiáveis para o abastecimento de água doce e energia hidroelétrica, principalmente nos EUA, já que os reservatórios do país são bastante antigos”, diz Yao Fangang.
Os significativos desastres ambientais em volumosas massas de água – como o Mar Cáspio, entre a Europa e a Ásia, o Mar de Aral, na Ásia Central, e o lago Titicaca, na América do Sul, deixaram claro que estava em curso uma crise climática mais ampla, explica Yao Fangang à Phys.
O estudo deixa claro que à medida que os lagos encolhem, as zonas áridas aumentam — um desequilíbrio que contribui para tornar mais árida as bacias hidrográficas, devido ao aumento da evaporação e aceleração do declínio dessas bacias.
Com o crescimento da população, os investigadores alertam para o facto de a atividade humana necessitar de mais espaço. Os autores do estudo estimam que cerca de 1/4 da população mundial resida em bacias de lagos secos.
Embora os lagos cubram apenas cerca de 3% do planeta, essas áreas retêm quase 90% de superfície líquida de água doce.
Nas observações dos especialistas, os níveis de água dos grandes reservatórios flutuam de acordo com os ciclos climáticos – chuva, neve, temperatura –, mas são cada vez mais afetados pela ação humana.
O Mar Cáspio, entre a Ásia e a Europa, conhecido por ser o maior corpo de água interior do mundo – tem revelado um encolhimento de volume. Os cientistas atribuem a redução às mudanças climáticas e ao uso da água em excesso.