O nosso cérebro entra numa cadeia de reacções que tem em vista travar a persistência de pensamentos desagradáveis. Esta descoberta é útil no combate a doenças mentais como a depressão.
É algo desagradável e muitas vezes acontece quando estamos na cama. Fechamos os olhos para tentarmos adormecer e, de repente, uma memória embaraçosa de há décadas atrás ou lembranças de um momento doloroso começam a atormentar-nos.
Mas, pelos vistos, o cérebro tem estratégias próprias para nos proteger contra estes pensamentos desconfortáveis.
Segundo um novo estudo publicado na JNeurosci, a mente tem um sistema de alarme que se dedica especificamente a fazer-nos esquecer os pensamentos intrusivos, que são um sintoma comum entre vários distúrbios psiquiátricos .
A equipa internacional de cientistas chegou a esta conclusão após medir a actividade cerebral de 24 participantes através de electroencefalogramas e de ressonâncias magnéticas, com os dois métodos a serem usados em simultâneo.
Enquanto estavam a ser analisadas, as pessoas que integraram a amostra foram confrontadas com aquela vez em que foram rejeitadas pelos seus amados, quando levaram um raspanete em público, ou outras memórias perturbadoras que tenham vivido. O objectivo era causar os tão temidos pensamentos intrusivos.
Uma das chaves para o sucesso da experiência foi a resolução temporal precisa que os electroencefalogramas garantiram aos investigadores, que conseguiram assim isolar cada mudança na actividade cerebral e analisá-la 500 milissegundos antes do aparecimento do pensamento intrusivo, relata o SciTech Daily.
Estes retratos do que se passa nos nossos cérebros mostraram que, quando uma memória era reprimida, a actividade aumentava no córtex cingulado anterior — uma parte do cérebro que regula funções cognitivas, como as emoções e a aprendizagem.
Depois disto, o córtex cingulado anterior enviava informações para o córtex dorsolateral pré-frontal, que inibe a actividade no hipocampo, que por sua vez é uma região importante na retenção de memórias.
A actividade no córtex cingulado anterior e no córtex dorsolateral pré-frontal manteve-se baixa no resto do teste, o que prova que foi bem-sucedida — ou seja, a memória foi travada no seu início, de forma a que mais nenhuma supressão fosse precisa.
Caso o pensamento não fosse impedido a tempo, o córtex cingulado anterior teria de desencadear um alarme reactivo e aumentar a sua actividade para sinalizar o córtex dorsolateral pré-frontal que tinha de bloquear a memória.
Já outros estudos anteriores tinham mostrado que o córtex cingulado anterior serve quase como um “vigilante” que regula as actividades cerebrais que afectam os nossos objectivos, mas esta é a primeira investigação que comprova que esta função se estende aos pensamentos indesejados.
Dada a sua influência nos distúrbios psiquiátricos, os cientistas estão agora dedicados ao treino de pessoas para que estas consigam aprender a melhorar este mecanismo que trava os pensamentos negativos, tendo em vista uma melhoria na saúde mental.