Mel pode ajudar no tratamento de uma infeção pulmonar letal

Uma nova investigação sugere que o mel de Manuka poderia ajudar a eliminar uma infeção pulmonar mortal resistente a medicamentos.

Cientistas da Universidade de Aston desenvolveram um novo potencial tratamento que combina mel de manuka natural com um medicamento, que já é muito usado.

Potencialmente viria a reduzir em grande escala os efeitos secundários de um dos fármacos atualmente utilizados para o tratamento desta infeção.

Os resultados, publicados este mês na Microbiology, mostram que os cientistas do Grupo de Investigação de Microbactérias do Colégio de Ciências da Saúde e da Vida da Universidade de Aston conseguiram combinar o mel de Manuka e o medicamento amikacin numa forma de nebulização criada em laboratório para tratar a infeção bacteriana prejudicial do pulmão Mycobacterium abscessus.

O Mel de Manuka já é conhecido pelas propriedades medicinais, mas mais recentemente foi identificado pela sua ampla atividade antimicrobiana. Agora os cientistas descobriram que este mel tem o potencial de matar uma série de infeções bacterianas resistentes a medicamentos, tais como o abcesso de Mycobacterium — que normalmente afeta pacientes com fibrose cística ou bronquiectasia.

De acordo com o Cystic Fibrosis Trust, a Fibrose Cística é uma condição genética que afeta cerca de 10.800 pessoas — um em cada 2.500 bebés nascidos no Reino Unido — e há mais de 100.000 pessoas com esta condição em todo o mundo.

O NHS define a bronquiectasia como uma condição a longo prazo em que as vias respiratórias dos pulmões se alargam, levando a uma acumulação de excesso de muco que pode tornar os pulmões mais vulneráveis à infeção.

No estudo, os investigadores utilizaram amostras da bactéria Mycobacterium abscessus retiradas de 16 doentes infetados com FC. Em seguida, testaram o antibiótico amikacin, combinado com mel de manuka, para descobrir a dosagem necessária para matar a bactéria.

Como parte do estudo, a equipa utilizou um modelo de pulmão baseado em laboratório e um nebulizador — um dispositivo que produz um fino spray de líquido frequentemente utilizado para inalar um fármaco medicinal.

Ao nebulizar em conjunto o mel de manuka e amikacina, verificou-se que podia melhorar a limpeza bacteriana, mesmo quando se utilizassem doses mais baixas de amikacina, o que resultaria em menos efeitos secundários para o doente que mudariam a sua vida.

No Reino Unido, das 10.800 pessoas que vivem com FC, Mycobacterium abscessus infecta 13% de todos os pacientes com a doença. Esta nova abordagem é vantajosa não só porque tem o potencial de matar uma infeção altamente resistente aos medicamentos, mas também devido aos efeitos secundários reduzidos, beneficiando a qualidade de vida e melhorando as hipóteses de sobrevivência dos doentes infetados com FC.

O Mycobacterium abscessus é um organismo bacteriano da mesma família que causa tuberculose, mas este vírus difere ao causar infeções pulmonares graves em pessoas (particularmente crianças) com condições pulmonares pré-existentes, tais como a FC e a bronquiectasia, bem como ao causar infeções de pele e tecidos moles. A bactéria é também altamente resistente aos medicamentos.

Atualmente, os doentes recebem um cocktail de antibióticos, consistindo em 12 meses ou mais de quimioterapia antimicrobiana, e este tratamento muitas vezes não resulta numa cura.

A dose de amikacin normalmente utilizada num paciente para matar a infeção é de 16 microgramas por mililitro. Mas os investigadores descobriram que a nova combinação utilizando mel de manuka, exigia uma dosagem de apenas 2 microgramas por mililitro de amikacin — resultando numa redução de um oitavo na dosagem do fármaco.

Até agora, o abcesso de Mycobacterium tem sido praticamente impossível de erradicar em pessoas com fibrose cística. Também pode ser mortal se o paciente necessitar de um transplante pulmonar, porque não são elegíveis para cirurgia se a infeção estiver presente.

A autora principal e investigadora doutorada Victoria Nolan disse: “Até agora, o tratamento de infeções pulmonares por abcesso de Mycobacterium pode ser problemático devido à sua natureza resistente aos medicamentos. A variedade de antibióticos necessários para combater a infeção resultam em graves efeitos secundários.

“No entanto, a utilização deste potencial tratamento — amikacin e mel de manuka — mostra ser uma grande promessa como uma terapia melhorada para estas terríveis infeções pulmonares. Há necessidade de melhores resultados de tratamento e no futuro esperamos que este potencial tratamento possa ser testado mais profundamente”.

Inês Costa Macxedo, ZAP Notícias //

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