Condutores não querem carros autónomos porque acham que conduzem melhor

Tecnologia e psicologia misturadas: a grande maioria dos condutores acha que conduz melhor do que os outros condutores.

Há 40 anos ver um carro a circular sozinho só seria possível se estivéssemos a ver o KITT na série O Justiceiro.

No século XXI essa visão deixou de fazer parte apenas da ficção. Há alguns anos que vemos carros que se movem sem condutor.

No entanto, os carros autónomos não envolvem só tecnologia – a psicologia será um factor muito importante se (ou quando) começarem a ser uma realidade em muitas ruas, em diversos pontos do planeta.

O medo dos carros autónomos é um assunto abordado por Jean-François Bonnefon, no seu livro The Car That Knew Too Much (O carro que sabia demasiado).

Num artigo adaptado no The MIT Press Reader, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o especialista começa por alertar que muitos condutores pensam que conduzem melhor do que a maioria dos outros. Colocam-se em patamar elevado, neste assunto.

A implementação de carros autónomos só deve ser feita quando ficar provado que são mais seguros do que um condutor normal (e estima-se que, realmente, são 10% mais seguros).

Mas aí surge outra questão: sempre que houvesse um acidente, o pânico iria ser generalizado, muito devido à cobertura da comunicação social.

Além do medo, entra nestas contas a confiança – talvez excessiva – de muitos condutores.

Se uma pessoa acredita que conduz melhor do que os outros, não vai confiar num carro autónomo que é “apenas” 10% mais seguro do que o condutor médio. É que a pessoa não se inclui nesse grupo de condutores médios; acha que é superior.

O presidente de um grupo de especialistas da Comissão Europeia, que aconselha sobre a ética da mobilidade sem motorista, tirou a sua conclusão, juntamente com a sua equipa: os carros autónomos poderão mesmo ser mais seguros do que um condutor “normal” – mas o problema é que a maioria dos condutores acha que não é “normal”, acha que é muito seguro entrar num carro que conduz.

Ou seja, as pessoas não vão comprar algo que (acham) é mais inseguro do que elas.

Resumo: a investigação a nível tecnológico vai continuar, mas é preciso também uma atenção especial a nível psicológico.

Porque, quando alguém morrer devido a um acidente com carros autónomos, os condutores – e a sociedade em geral – só vão pensar naquela fatalidade; não se vão lembrar da diminuição de mortes na estrada por causa dos carros autónomos.

Jean-François Bonnefon, director do Centro Nacional de Pesquisa Científica em França, defende que um carro que circula sozinho calcula melhor as probabilidades de acidente do que um ser humano. Em média, claro.

Por isso, deveria haver mais carros autónomos na estrada, para poder mostrar às pessoas a sua segurança – mas são as pessoas que não querem ver mais carros autónomos na estrada.

ZAP //

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