Só uma disciplina no secundário teve média abaixo de 10. Associação de Professores de Português deixa aviso sobre subidas significativas.
Os resultados da primeira fase dos exames nacionais do ensino secundário revelam melhorias em perto de metade das disciplinas, incluindo Português e Biologia, mas quebras ligeiras a Matemática e Física e Química.
De acordo com os dados do Júri Nacional de Exames (JNE), divulgados esta segunda-feira pelo Ministério da Educação, não houve médias negativas nas provas finais do secundário e as notas subiram de forma significativa em 10 das 25 disciplinas sujeitas a exame.
Na comparação com os resultados obtidos no ano passado, Português é uma das disciplinas que mais se destaca. Entre os 35.065 alunos que foram a exame, a média fixou-se em 12,5 valores, acima dos 10,9 valores registados em 2021/2022.
Na disciplina mais concorrida — Biologia e Geologia, com 38.617 provas realizadas — a diferença não é significativa, mas os alunos também ficaram ligeiramente acima dos colegas avaliados no ano passado, passando de 10,8 valores para 11,4.
A maior subida foi, no entanto, a Matemática B que há um ano tinha sido a única disciplina com média negativa. Este ano, a média fixou-se em 11,3 valores.
Por outro lado, houve cinco disciplinas em que o JNE registou descidas significativas e Matemática A é uma delas. Com 33.749 provas realizadas, passou de uma média dos 11,9, no ano passado, para 11,0 este ano.
A Física e Química A, que foi também uma das mais participadas, houve uma ligeira descida, mas de apenas 0,5 valores, de 11,7 para 11,2.
Comparativamente ao ano passado, as maiores dificuldades foram a História da Cultura e das Artes, em que a média desceu dois valores para 10,3.
Este ano os exames realizaram-se em 658 escolas de todo o território nacional e nas escolas no estrangeiro com currículo português, com 263.626 inscrições na primeira fase dos exames nacionais e 208.646 provas realizadas.
Entre as disciplinas com um número de alunos superior a 2.500, a média mais elevada foi registada novamente na disciplina de Inglês (14,8 valores, igual ao ano passado). A mais baixa foi a Geometria Descritiva A, que se fixou nos 9,7 valores.
Na totalidade das 25 disciplinas, Mandarim (iniciação) lidera a tabela, com os 24 alunos que realizaram a prova a conseguirem uma classificação média 17,1 valores.
O processo de classificação das provas envolveu 8.142 docentes do ensino secundário, além de 10.000 docentes que vigiaram as provas e membros dos secretariados de exames das escolas, refere o JNE em comunicado.
“A avaliação da componente de produção e interação orais dos exames nacionais de línguas estrangeiras envolveu 11.420 avaliações da componente oral, nos seis exames nacionais de línguas estrangeiras”, acrescenta, referindo ainda 3.200 professores envolvidos na avaliação da componente oral.
A segunda fase dos exames nacionais arranca na quinta-feira e vai decorrer até dia 26 de julho.
“Muito, muito acessível”
Português passou para o pódio das notas mais altas nos exames do secundário, entre as que têm mais inscritos, destaca o jornal Expresso.
Mas essa média de 12,5 valores, a maior nos últimos 10 anos, tem uma explicação: o exame era muito fácil.
“Objetivamente este exame foi muito, muito acessível“, começa por analisar Maria do Carmo Oliveira, da Associação de Professores de Português.
“Os próprios alunos na altura, durante as reportagens à saída do exame, estavam felizes da vida“, lembra a responsável, na rádio TSF.
Maria deixou exemplos dos alunos do 12.º ano com quem se cruzou ao longo do ano lectivo passado: “Os meus alunos mais fracos foram fazer os exames e tiveram 15 ou 16. E estavam felizes e radiantes, hoje (segunda-feira)”.
“O exame foi consideravelmente acessível e as perguntas tinham todas a mesma cotação. O que acontece? Todas as perguntas valiam 13 pontos, 1,3 valores. Tinham um exercício de escrita em que tinham de escrever um texto expositivo que valia exatamente a mesma coisa que uma escolha múltipla”, descreveu Maria do Carmo.
Com este cenário, avisa Maria, daqui a um ano a média no exame de Português deve descer.
Marcelo lamenta alteração, mas promulga
Precisamente daqui a um ano, o panorama vai mudar: o único exame obrigatório para todos os alunos será exactamente o de Português. Depois, os estudantes escolhem – no mínimo – mais dois exames nacionais, enquadrados com o curso superior onde querem entrar.
Marcelo Rebelo de Sousa promulgou a medida nesta segunda-feira mas não gostou da decisão do Governo de reduzir o número de exames nacionais obrigatórios para a conclusão do ensino secundário.
O presidente da República, na nota publicada no site da Presidência, sublinha que Matemática deveria ser exame obrigatório nos cursos de ciências e tecnologia e ciências socioeconómicas.
Foi uma alteração “que não decorre da realização de estudo independente conhecido, nem de mais aprofundada discussão pública, nem sequer da consulta das associações nacionais de matemática”.
Além disso, essa retirada de Matemática dos exames obrigatórios “poderá contribuir para o enfraquecimento do sistema nacional de avaliação da qualidade das aprendizagens”.
No entanto, lembra Marcelo, o exame de matemática continuará a ser obrigatório para quem queira aceder ao ensino superior, em áreas em que a Matemática seja imprescindível.
ZAP // Lusa