Catarina Martins admite continuar à frente do Bloco de Esquerda mesmo que o resultado nas próximas legislativas não seja feliz e acusa António Costa e o PS de não quererem “fazer nada com a esquerda”.
Em entrevista à CNN Portugal, Catarina Martins assumiu-se “marxista”, pertencente a uma “esquerda feminista”, “ecologista” e a “uma esquerda por todos os direitos e todas as liberdades que não se revia no conservadorismo do PCP”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, que é umas das principais figuras femininas da política portuguesa, crê que “as mulheres são subestimadas em Portugal” e assumiu que tal acontece, sobretudo, “na política”.
Com as eleições legislativas antecipadas a baterem à porta, não teme que um mau resultado a faça abandonar o leme do partido.
Admitiu continuar à frente do Bloco de Esquerda, mesmo que o resultado do dia 30 de janeiro não seja tão animador quanto gostaria. “Estou muito empenhada em fazer o meu trabalho”, respondeu Catarina Martins, assegurando que a esquerda tem um “projeto para o país”, ao contrário da direita que se discute “a si própria”.
Durante a entrevista, Catarina Martins não se absteve de acusar o PS de encetar uma crise política ao “não querer fazer nada com a esquerda“. Aliás, os socialistas preferiram dar uma nega ao Bloco, optando pelas conversações com o PCP, que também acabou por não viabilizar o Orçamento do Estado, atirou.
“Julgo que isso surpreendeu muito as pessoas, até porque o Partido Socialista tinha vindo a repetir que tinha ali um parceiro fiável [PCP] com quem queria negociar”, afirmou Catarina Martins.
Depois, continuou, o PS “não quis negociar com ninguém, porque quis ir para eleições num momento em que o Governo estava muito desgastado”. Para a bloquista, a solução de Costa foi “precipitar uma crise política e ir para eleições”.
O cenário de eleições antecipadas não era o desejado por Catarina Martins, que preferia um “acordo à esquerda”. Aliás, na entrevista à CNN, refere mesmo que não se importaria de viabilizar um Orçamento, desde que o documento “respondesse às necessidades do país”.
Já o balanço que faz da geringonça, que terminou em 2019, é positivo, tendo sido uma solução governativa “muito importante” para Portugal.
“[O BE] foi força determinante para um dos governos que foi mais importante nos últimos anos. Afastou a direita, afastou os cortes, deu novo horizonte e perspetiva ao país”, elencou Catarina Martins, sublinhando que, ao mesmo tempo, tentava ser a “oposição mais exigente”.
Se, por um lado, assume ter sido “difícil” trabalhar com António Costa, também diz, em relação ao PCP, que é muito o que os une mas também o que os separa.
“Temos enormes convergências com o PCP, que são conhecidas. Temos também divergências”, assumiu.
Para 30 de janeiro, o objetivo está traçado: manter o Bloco de Esquerda como terceira força política.
“É muito importante que o BE seja a terceira força política do país. O Bloco de Esquerda enquanto terceira força política é a garantia de uma exigência muito grande num programa de Governo que resolva os problemas do país”, disse Catarina Martins, desta vez em entrevista à Lusa.
A manutenção enquanto terceira força política vai ser “uma garantia de que a maioria de direita será afastada e é também uma garantia de que se vence a extrema-direita” em Portugal, acrescentou.
Questionada sobre como encarava um cenário de diminuição do número de mandatos que fizesse o partido cair enquanto terceira força, dando lugar, por exemplo, ao Chega, Catarina Martins referiu que “não alcançar objetivos é sempre uma derrota”, seja “pessoal ou coletiva”.
Ainda assim, o partido está convicto de que vai conseguir impedir uma alteração de maioria na Assembleia da República.
Uma possível ascensão do partido de extrema-direita, que atualmente tem em André Ventura o único deputado, é consequência de anos de desmoralização face à persistência dos mesmos problemas, considerou.
“Um dos problemas da falta de resposta à vida concreta das pessoas é o desânimo. E quando instalada, às vezes, a raiva toma o lugar da força e da esperança de construir soluções. Isso é o que tem acontecido um pouco no resto da Europa. Por isso é que é muito importante que a política sirva para resolver problemas das pessoas”, concretizou.
No entanto, uma derrota, na ótica da coordenadora do Bloco, não está associada à redução do número de mandatos, mas sim no aumento da abstenção e no descrédito na política.
“Um mau resultado é as pessoas não irem votar. Um mau resultado é as pessoas desistirem do país, no meio desta confusão, da pandemia, do cansaço… Isso seria o pior. Este é um momento muito complicado, sentimo-lo todos, estamos todos cansados com a pandemia. Não se criaram as soluções que era preciso e as pessoas ficam fartas com isso”, elaborou.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa