“O senhor almirante nunca bebeu uns copos?” Marinha exonera capelão por críticas a Gouveia e Melo

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António Cotrim / EPA

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo toma posse como Chefe do Estado-Maior da Armada

O capelão Licínio Luís utilizou as redes sociais para defender os fuzileiros suspeitos de matarem o agente da PSP Fábio Guerra. Depois de ter criticado o discurso do almirante Gouveia e Melo, foi exonerado.

Licínio Luís fez uma publicação no Facebook contra as declarações proferidas pelo Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA), Henrique Gouveia e Melo, e em defesa dos dois fuzileiros envolvidos na agressão violenta à porta de uma discoteca de Lisboa, que resultou na morte do agente da PSP Fábio Guerra.

Na publicação, entretanto apagada, o capelão defendia que “os jovens estavam a divertir-se e foram provocados”, e perguntava a Gouveia e Melo: “O senhor almirante nunca foi para a noite? Nunca bebeu uns copos?

“Juízo com os nossos julgamentos. Aguardemos pelas investigações. Os nossos jovens têm direito a serem respeitados. Os jovens da PSP estavam no mesmo âmbito e alcoolicamente tão bem-dispostos como os nossos. Juízo com os nossos julgamentos”, lia-se no mesmo post.

Questionada pelos órgãos de comunicação social, a Marinha portuguesa respondeu que, “à data de hoje, 29 de março, o Sr. Capelão encontra-se exonerado“.

De acordo com o Observador, a Marinha confirma ainda que “o senhor Capelão Licínio teve uma audiência com o senhor almirante Chefe do Estado-Maior da Armada” e que o encontro terá servido para abordar as críticas feitas a Gouveia e Melo, mas não impediu que o padre fosse afastado.

Na terça-feira, numa nova publicação, o capelão pediu desculpas a Gouveia e Melo e aos militares da Marinha. “É muito importante reconhecer perante a Marinha que errei ao dirigir-me de forma incorreta, inapropriada, interpretativa e pública ao almirante CEMA”, escreveu, citado pelo Expresso.

Licínio Luís reconhece que Gouveia e Melo “sempre foi um adepto dos fuzileiros” e que, “agora mais a frio”, defende que o almirante “tomou a única posição possível e ética ao traçar para toda a Marinha uma linha vermelha de comportamento”.

Nenhuma agressão deve servir de resposta a qualquer ato terceiro, muito menos violência que possa ter contribuído para o falecimento de um agente da PSP”, reconheceu. “É tempo da Justiça e do direito à defesa dos arguidos, mas também é tempo de verdade e de redenção.”

O agente da PSP Fábio Guerra, de 26 anos, faleceu depois de ter passado dois dias em coma, no Hospital de São José, devido a graves lesões cerebrais, sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca MOME.

A Polícia Judiciária deteve três homens suspeitos do homicídio: dois fuzileiros e um civil, com idades entre os 21 e os 24 anos. Os três suspeitos agrediram cinco agentes da PSP que se encontravam de folga, mas que tentaram terminar com uma rixa à porta da discoteca.

ZAP //

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21 Comments

  1. Uii… um militar escrever disparates desta gravidade, ainda por cima sendo capelão?
    Claramente está no sitio errado e as palavras do almirante também eram para calhaus como ele.
    Parece-me que o capelão arruaceiro devia beber menos e pensar mais…
    O Almirante esteve muito bem.

  2. A questão não está em beber uns copos e fazer uns disparates, a questão está em matar alguém. Querer minimizar assim um assassinato só podia vir de alguém ligado a uma instituição que durante anos escondeu casos de pedofilia dentro das suas portas e não os denunciou, este senhor deveria ja saber que o tempo de esconder as coisas à muito se acabou sejam militares, capelões ou padres.

  3. Escândalos na Igreja (pedofilia, apropriação de esmolas dos lopras), escândalos nas Forças Armadas ( este caso, corrupção e roubo nas messes da Força Aérea, morte de dois instruendos nos Comandos por sadismo de instrutores frustrados, roubo de armas em Tancos, roubo e tráfico de droga e de diamantes por Comandos,etc) e agora vem um capelão militar (com que direito está a receber um ordenado pago por quem trabalha? Não vivemos num Estado laico?) defender dois assassinos cobardolas?

    • A questão dos capelães militares não tem a ver com a laicidade ou não laicidade do estado. Os capelães militares existem para dar conforto espiritual aos militares, que ao contrário do estado poderão não ser laicos. O objectivo é que os militares se sintam apoiados nas suas missões, em que arriscam a própria vida. Se a presença de um padre, de um pastor, de um imã ou de um rabino, os ajuda na sua missão, então que ela exista e que o estado a pague, tal como paga aos médicos e enfermeiros.

      Actualmente só há capelães católicos integrados nas forças armadas portuguesas porque o número de militares de outras confissões ou religiões é muito reduzido. No entanto, há capelães de outras confissões a exercer essa função em regime de voluntariado e de forma não permanente. Penso que a integração de capelães de outras confissões estará a ser estudada pelas chefias.

      • Se o “apoio espirutual” e “ajudar na missão” é isto, então é urgente acabar com os capelães!!

        Por acaso, quando fui militar, tive um capelão muito porreiro e era impensável algum militar dizer uma barbaridade destas – muito menos um capelão!

  4. Mais um julgamento em praça publica e um almirante com tiques de político a rebaixar um subalterno.
    1º O sr almirante está a par de toda a investigação ???
    2º Estar envolvido numa significa ser o responsável da morte ??
    3º Se fosse um almirante envolvido nesta rixa haveria uma novela idêntica ???
    A falta de respeito pelas autoridades deve sem duvida ser reprovável, a morte de alguém numa rixa deve sem duvida ser condenável, mas ao contrario dos nossos políticos que têm descredibilizado as autoridades enviesando a justiça. devemos condenar o verdadeiro responsável e fortalecer as nossas autoridades.

  5. Num estado laico ,estamos a pagar vencimentos a capelões militares? O costumeiro corporativismo à portuguesa em que a vida e a dignidade dos outros , pouco valem…

  6. O comentário do sr. capelão foi inapropriado, como o próprio reconhece. O problema é a invulgar personalidade de Gouveia e Melo, um “animal político” não domesticado, não é por acaso que causa tanta coceira a Marcelo Rebelo de Sousa, não jogam no mesmo “team”. Um militar não pode ter o comportamento de um vulgar arruaceiro civil que vai para a noite e bebe uns copos e a situação conhecida já seria de enorme gravidade se o assassinado fosse um civil, quanto mais tratando-se de um agente da PSP. Um militar é, por inerência, uma autoridade, não um arruaceiro à procura de sarilhos, teoricamente, tratando.se de um fuzileiro, é uma “máquina” de guerra, um indivíduo preparado para matar, mas apenas em condições que a sua própria sobrevivência justifique ou por ordens das autoridades que o ilibem do ato de roubar uma vida. Desconheço as origens deste episódio, mas para um militar , em determinadas circunstâncias, recusar a violência gratuita. é ser herói, não é nada fácil passar por cobarde não o sendo.
    É isso que diz Gouveia de Melo, a preparação militar para ser uma “máquina” de guerra exige contenção, não é uma ferramenta para ser usada às portas de um lugar de diversão e onde se bebem uns copos. Quanto mais perigosa é uma ferramenta, maiores devem ser os cuidados na sua utilização. Este caso demonstra uma evidência, a estrutura das forças especiais falharam, não estão preparadas para fazer cidadãos de potenciais criminosos e os candidatos a fazer parte das forças especiais, na sua maioria, não andam longe desta definição.

  7. O senhor almirante parece não ir em conversas de água-benta e agiu como devia! As instituições militares não servem para formar homens em arruaceiros!

  8. Parece-me que precisamos de formar mais almirantes e menos políticos.
    A decisão tomada, a prontidão com que o fez e a seriedade com que defende as linhas de funcionamento da instituição a que preside, deixam bem transparecer o carater deste homem.
    Fico espantado ao ler aqui, arruaceiros a questionar a decisão tomada e a por em causa se o Sr. Almirante sabia em que condições e as próprias razões que levaram a tão lamentável incidente. Para gente estúpida como essa, é bom que se saiba que qualquer decisão de alto nível tem sempre por base uma investigação. Aquilo que os poderá espantar é a rapidez com que a marinha apurou os factos.
    Mais uma vez as declarações foram assertivas ao declarar não querer arruaceiros na marinha e quanto ao Capelão, motivo desta noticia, é absolutamente acertada a sua exoneração. Não concordo apenas com o título da noticia que diz “Capelão exonerado por criticas a Gouveia de melo”. Não me prece acertado, penso isso sim, que o padre foi exonerado por defender aquilo a que a marinha pretende afastar da sua linha de conduta e da sua imagem enquanto instituição e que é o Arruaceirismo, posição que parece o padre defender ao tentar desculpar os militares por um ato que não tem desculpa.

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