Maria Kalesnikava, a “Marilyn Monroe” que afrontou Lukashenko, “está a morrer de fome”

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@kalesnikava / Instagram

A música e activista política da Bielorrússia Maria Kalesnikava.

A música e activista política Maria Kalesnikava está detida há quatro anos depois de ter participado nos protestos contra o presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko. A sua irmã denuncia que “está a morrer de fome”.

Maria Kalesnikava, de 42 anos, terá hoje uma imagem bem distante da figura física marcante a lembrar uma Marilyn Monroe versão “punk” com que se tornou conhecida. De flautista conceituada na Bielorrússia e na Alemanha, passou a prisioneira política depois de ter participado nos protestos contra Lukashenko em 2020.

Nessa altura, Maria Kalesnikava tomou o lugar do então líder da oposição, Viktar Babaryka, ex-banqueiro e filantropo que foi detido antes de se poder candidatar às eleições presidenciais que reelegeram Lukashenko para o seu sexto mandato – está há três décadas no poder.

A reeleição originou violentos protestos na Bielorrússia, com suspeitas de fraude sobre o sufrágio. A repressão policial foi dura e cerca de 35 mil pessoas foram detidas.

Cerca de 1400 prisioneiros políticos continuam detidos, entre os quais Babaryka e Kalesnikava. Muitos deles estarão a ser vítimas de diversas violações dos direitos humanos, incluindo tortura, segundo denunciam diversas organizações.

Babaryka já terá sido hospitalizado devido a espancamentos.

Outro opositor político de Lukashenko, Igar Lednik, morreu na prisão no início deste ano. O também jornalista tinha sido condenado por difamação ao presidente bielorrusso.

“Está a morrer de fome no centro da Europa”

A situação de saúde de Kalesnikava também se deteriorou, segundo a Amnistia Internacional que alega que foi “maltratada” pela administração da prisão, como cita a Euronews.

A irmã de Kalesnikava, Tatsiana Khomich, conta ao canal europeu que testemunhou diretamente esta deterioração durante as videochamadas monitorizadas de apenas 10 minutos que a activista pode realizar com os mais próximos de forma bimestral.

“Numa videochamada, ela parecia muito forte, mas, ao mesmo tempo, houve pequenas mudanças no seu comportamento”, conta Khomich, denunciando que a irmã “está a morrer de fome no centro da Europa”.

“A Maria perdeu muito peso [pelo menos 20 quilos desde que foi detida] e agora pesa 45 quilos“, acrescenta na Euronews.

A Human Rights Watch também já denunciou que, em 2022, Kalesnikava foi internada na unidade de cuidados intensivos do hospital prisional, onde terá sido operada a uma “úlcera perfurada”.

Kalesnikava está isolada e impedida de ver a família

Em Março passado, Kalesnikava foi transferida para uma “célula do tipo punição”, conta a irmã à Euronews.

Estas células “são salas frias e escuras“, onde só são “permitidas necessidades básicas – como uma escova de dentes e uma barra de sabão”, e os presos vivem aí em “confinamento solitário total”, segundo uma organização de direitos humanos bielorrussa citada pela Euronews.

São condições “muito duras” que “podem ser classificadas como tortura“, alega esta organização.

Kalesnikava também está impossibilitada de falar com a família, ou com o advogado, e não pode ler, nem ver notícias, revela a irmã, notando que o único exercício diário a que tem direito é ficar em pé numa área fechada “pequena” durante 30 minutos.

“Não se pode ver o sol ou o céu”, conta ainda Tatsiana Khomich que continua a lutar pela libertação da irmã mais velha.

A jovem tem feito activismo por isso nas redes sociais, onde informa que Kalesnikava está detida “em condições horríveis”, “faminta e isolada”, e “gravemente doente”, a precisar de “cuidados médicos urgentes”.

Tatsiana Khomich também apela a que contactem os políticos em países como Alemanha, Áustria, Suíça, França e EUA para que pressionem a Bielorrússia para libertar a irmã.

“Não temos muito tempo para salvar a vida de Maria”, reforça.

 

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Kalesnikava foi condenada a 11 anos de prisão por crimes de extremismo e tentativa de tomar o poder.

Recentemente, Lukashenko perdoou 30 presos condenados pelos protestos políticos de 2020, mas não incluiu Kalesnikava, nem Babaryka nessa benesse – afinal, são os seus principais adversários políticos.

Aquele que é definido por alguns como “o último ditador da Europa” já anunciou que se vai candidatar a novo mandato nas eleições presidenciais de 2025.

Susana Valente, ZAP //

5 Comments

  1. Mas há quem apoie ditaduras, só que não vão para lá viver! Aqui, no bem-bom da democracia, é fácil botar postas de pescada contra a democracia! Gostava de os ver nesses países, tipo Bielorrússia, Venezuela, Rússia, a criticar o regime!

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  2. Como é possível a humanidade aceitar ditaduras no seculo XXl, na maior parte das vezes apoiadas pelas religiões?
    Não bastava aos humanos seguirem os conceitos da moral para se governarem?

  3. Bem meus amigos, devo dizer o que penso.
    Ninguém gosta de estar em baixo, no entanto o capitalismo, obriga-nos a trabalhar. Toda a gente gosta de viver bem…mas não tem gosto pelo trabalho, sempre que alguem trabalha, está a pagar para o subsidio dependente, que é pago para não trabalhar e papar cursos a um certo centro profissional de formação. Na política é o mesmo xico espertismo, meia duzia de jovens que aproveitaram um estado que lhes deu tudo, criam um movimento partidário e, assim somos governados.
    Precisamos de exemplos de sociedade, não gente oportunista.
    O furo exige rigor, portugal precisa de todos a trabalhar e a pensar no nosso quintal e no planeta, que é a nossa casa.

  4. Mais uma a juntar a outras (os) , que a coragem dita a ação ao risco da própria Vida . Quase diria “Uma mulher com Eles no sitio” , todo o contrario dos Covardes que assassinam sem estar na linha da frente de combate !

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