A comissária europeia da Concorrência falou no palco principal da Web Summit, esta quinta-feira, tendo sido uma das intervenções mais aguardadas no último dia da cimeira de tecnologia que decorreu em Lisboa.
Margrethe Vestager não é uma cara nova na Web Summit, mas nem isso fez com que os participantes da cimeira tecnológica perdessem o interesse na sua intervenção. Minutos antes de entrar no palco principal, o Altice Arena já estava cheio para ouvir o que a comissária europeia da Concorrência tinha para dizer.
A também vice-presidente eleita da Comissão Europeia, que ganhou notoriedade por ter tido mão pesada com as grandes tecnológicas norte-americanas, defendeu que estas empresas (como a Google, o Facebook ou a Apple) têm vindo a alterar a sua abordagem, porém, tornaram-se mais ambiciosas.
“As tecnológicas estão diferentes na sua abordagem. Agora, se vejo uma grande mudança é ao nível da ambição. Elas têm ainda maiores ambições. Se olharmos para os novos serviços da Google a serem lançados, para os planos do Facebook ou para os novos serviços da Apple, vemos mais ambição”.
Sobre a relação entre tecnologia e democracia, a comissária foi clara: “Temos de chegar ao nível adequado de ter a democracia a enquadrar a tecnologia e a dizer: ‘É assim que devem servir-nos‘. Temos discutido a fundo, no mundo real, o que queremos aceitar e o que não vamos aceitar. Simplesmente não percebo porque é que não é da mesma forma no mundo digital”.
Questionada pela jornalista Laurie Segall sobre o que diria a Mark Zuckerberg, Vestager disse ser “inspirador” ver uma empresa “extraordinária”, mas deixa o alerta de que mais do que palavras são precisos atos, para garantir que haja democracia e que empresas mais pequenas tenham também capacidade de competir.
“Mais do que palavras, são importantes as tuas ações. É importante que as empresas demonstrem os seus valores”, afirmou a comissária europeia, ressalvando, no entanto, que não pretende julgar ninguém.
Durante a sua intervenção, Vestager respondeu também sobre o facto de ser encarada como uma das reguladoras mais temidas.”Sentir-me-ia sozinha se não fosse isto. Costuma-se dizer que é preciso uma vila para criar uma criança e eu creio que é preciso uma comunidade como esta para tornar as tecnológicas humanas, porque é isso que estamos a fazer”.
Antes de pisar o palco principal, a comissária europeia deu uma conferência de imprensa, na qual afirmou que gostaria de ver uma taxação das empresas digitais “não só europeia, mas um acordo global“.
“Normalmente não há nenhuma razão para sermos otimistas em termos de impostos, porque normalmente é muito lento e difícil” de aplicar, mas no que diz respeito às taxas digitais, o desenvolvimento “tem sido rápido e ambicioso da parte da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico]”, acrescentou.
“Não faz sentido que a maioria das empresas paguem os seus impostos, mas algumas empresas, dependendo da sua tecnologia ou modelos de negócio, não”, apontou.
Nos últimos anos, a comissão europeia multou gigantes como a Apple em 13 mil milhões de euros por benefícios fiscais ilegais na Irlanda, o Facebook em 110 milhões de euros por disponibilização de informação enganosa na compra do Whatsapp ou a Google num total de quase oito mil milhões de euros por práticas abusivas em determinados produtos.
ZAP // Lusa