Chefe de Estado quer evitar cenários como os vividos no final da I Guerra Mundial e após a Gripe Espanhola, onde, entende, se quis viver em pouco tempo e de forma eufórica o que se tinha perdido.
O Presidente da República defendeu hoje que “a força das democracias está na moderação, está nos moderados” e pediu convergências de médio e longo prazo e que a razão predomine sobre a emoção. Marcelo Rebelo de Sousa falava no encerramento de uma conferência promovida pela Convenção Nacional da Saúde, na sede da Associação Nacional de Farmácias, em Lisboa, na véspera da votação do Orçamento do Estado para 2022, que deverá ser chumbado, caso se mantenham os sentidos de voto anunciados.
“A força das democracias está na moderação, está nos moderados. Não está, por definição, na radicalização. E, num tempo em que a moda vai no sentido da perda de influência dos moderados, é bom que haja instituições que convidem a esse espaço de diálogo, de compreensão e de aceitação da diferença”, declarou o chefe de Estado.
Nesta intervenção, que durou cerca de meia hora, o Presidente da República apelou a que haja “menos emoção, mais razão” e que se estabeleçam “mais convergências“, com “mais visão de médio, longo prazo e menos de curto prazo”. Referindo-se em concreto ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), apontou-o como um documento de caráter nacional quanto ao qual deve “haver um acordo prévio alargado relativamente ao percurso todo, ou pelo menos a uma parte substancial do percurso” e que não deve ser entendido como “de uma fação“.
Neste discurso, Marcelo Rebelo de Sousa falou várias vezes na necessidade de “o mais rápido possível substituir a emoção pela razão”, considerando que isso implica “ir contra a corrente dos tempos”, porque “o natural à saída de uma pandemia é que prevaleça a emoção”.
“Houve um bocadinho isso, dizem alguns historiadores, nos anos 20 do século passado, à saída da Grande Guerra e da gripe espanhola: o querer viver em pouco tempo aquilo que se perdeu, e viver euforicamente, e querer viver na base da emoção e não da razão, e olhar para o curto prazo e não para o médio prazo, e dar importância às questões conjunturalíssimas, prevalecendo sobre a perspetiva de médio, longo prazo”, referiu.
O chefe de Estado disse sentir que também agora “isto está a acontecer em muitos temas, muitos domínios e muitos setores da vida nacional”, assim como “lá fora“, o que se traduz numa “sucessão de crises da mais diversa natureza”. “Algumas delas impensáveis e imprevisíveis, ou previsíveis mas não daquela forma. O que se tem sucedido é verdadeiramente impressionante”, prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, observando: “É bom que passemos essa fase“.
Segundo o Presidente da República, a reconstrução do país na sequência da crise provocada pela pandemia de covid-19 “exige médio longo prazo, exige racionalidade, racionalidade de diagnóstico, pés assentes no chão e com dados, e capacidade de definir as opções políticas para o futuro”. “Se não há estabilidade, é evidente que vamos de mini-ciclo para mini-ciclo para mini-ciclo para mini-ciclo“, advertiu, ressalvando contudo que isso “é perfeitamente legítimo, é próprio da riqueza democrática”.