“Uma espada em cima da cabeça de Costa”. Marcelo admite bomba atómica em 2024

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Mário Cruz / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (D), acompanhado pelo primeiro-ministro, António Costa (E)

Marcelo Rebelo de Sousa descarta usar a chamada “bomba atómica”, ou seja, a dissolução da Assembleia da República, de imediato. Mas avisa António Costa que tem esse trunfo e pode vir a usá-lo em 2024, numa altura política mais propícia.

“Não faz sentido neste ambiente falar periodicamente de dissolução”, considera o Presidente da República, tendo na mente um cenário actual que envolve a guerra na Ucrânia, a crise financeira e económica com inflação alta e a execução em curso dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Apesar disso, Marcelo aponta o dedo ao Governo, criticando, nomeadamente, a reunião secreta entre elementos do Governo, do PS e da gestão da TAP em véspera da audição parlamentar.

Não saiu bem aos olhos dos portugueses uma iniciativa reunindo deputados, Governo e gestão da TAP para preparar o que seria a intervenção parlamentar”, em Janeiro, refere o Presidente da República, comparando a situação a “um professor fazer uma preparação para um exame com os alunos que vai examinar”.

Este caso representa “um desgaste para as intuições” que é “desnecessário”, defende ainda Marcelo.

Neste âmbito, “aquilo que é legítimo pedir ao Governo é que faça por governar mais rápido e melhor e que esteja atento a estas situações que têm um desgaste muito superior aos factos em termos de imagem”, alerta também.

O receio de dar mais força ao Chega

Apesar do evidente “puxão de orelhas” ao Governo de António Costa, Marcelo descarta a “bomba atómica”. Até porque, “neste momento, não há uma alternativa óbvia em termos políticos“, sustenta.

Assim, o Presidente desafia a oposição a “transformar aquilo que é o somatório dos números” das sondagens numa alternativa política que seja uma realidade suficientemente forte para os portugueses dizerem: “no futuro temos esta alternativa”.

No horizonte de Marcelo, estará o desejo de que o PSD ganhe força junto do eleitorado numa altura em que o Chega continua a aumentar a sua influência no campo mediático.

Nas redes sociais, há quem note que o Presidente tem receio de dar força ao partido de André Ventura com a dissolução do Parlamento, o que seria uma “nódoa” na forma como viria a ser lembrado em termos históricos.

“Maioria absoluta não é o seguro de vida”

Contudo, apesar da cautela de Marcelo em fazer uso da “bomba atómica” no imediato, o Chefe de Estado não descarta o trunfo e deixa um aviso claro a Costa.

“Do mesmo modo que a oposição não pode dar por garantido que o Presidente empurrado, empurrado, empurrado há-de um dia dar a dissolução, também o Governo não pode dar por garantido que a maioria absoluta é o seguro de vida para não haver dissolução” até ao término do seu mandato, aponta o Presidente.

Marcelo acrescenta que “não é refém da oposição”. “O Presidente não está nem no bolso da oposição nem no bolso do Governo. Está no bolso dele, e é livre e independente“, reforça.

Eleições antecipadas depois das Europeias de 2024

Estas palavras de Marcelo devem ser analisadas com atenção e o Observador cita “uma fonte próxima” do Presidente que realça que são como “uma espada em cima da cabeça de António Costa”.

“O Presidente nunca tinha dito isto assim. Nem [Mário] Soares durante o cavaquismo disse nada parecido. É fortíssimo“, aponta esta fonte.

“O que o Presidente quer dizer é que, ou o Governo inverte o ciclo, ou há eleições no segundo semestre de 2024. Não pode ser logo em Janeiro porque há Europeias, mas logo a seguir o Presidente convoca eleições”, acrescenta o mesmo elemento.

O comentador da SIC Luís Marques Mendes, antigo líder do PSD, já tinha referido no domingo, no seu habitual espaço de opinião no “Jornal da Noite” do canal, essa possibilidade de Marcelo usar a “bomba atómica” no segundo semestre de 2024, logo depois das eleições Europeias.

Essa possibilidade pode tornar-se “inevitável” se os casos que têm abalado o Governo continuarem nos próximos tempos, salientou ainda Marques Mendes.

Costa não ouviu os avisos de Marcelo

Confrontado com as declarações do Presidente no final de uma visita à multinacional sul-coreana SK Hynix, grupo que é o terceiro maior produtor mundial de semicondutores, António Costa recusa-se a comentá-las.

“Em regra, não comento as palavras do senhor Presidente da República e muito menos quando não as ouvi. Como sabem, quando o Presidente da República estava a falar [na segunda-feira, em Murça], eu estava a voar para a Coreia do Sul”, alega o primeiro-ministro.

Quanto às consequências políticas que vai tirar face ao que se tem passado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em torno da TAP, Costa diz que é preciso esperar pelos “resultados”.

“Cada órgão de soberania deve ter o seu tempo próprio. Neste momento, o tempo é o da Assembleia da República. Devemos respeitar um trabalho que está a ser desenvolvido“, argumenta.

Após as várias audições, a CPI “vai tirar as conclusões” e, “em função disso, nós [Governo], agiremos em conformidade“, garante.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Tudo bluff. Não passa de teatro. Marcelo é grande amigo de Costa e ambos são responsáveis pela situação a que chegámos. Marcelo tem alinhado com tudo. Violam e têm violado barbaramente a Constituição Portuguesa com as suas políticas ao serviço da grande agenda internacional. Sendo Marcelo o chefe de Estado é inclusivamente ele o primeiro responsável.

  2. O PR está com medo de AV e desta maneira anda a segurar o governo, não acredito que PR dissolva o Parlamento e convoque eleições antecipadas até LM assumir-se como grande oposição ao governo, mas o PR será tão responsável como AC pela falência, mais uma vez, deste País e o Povo é que tem estado a sofrer e continuará se não for para a rua insurgir-se contra este descalabro.

  3. Desde o falecido Álvaro Cunhal que eu não via um “cassetes ” tão grande como este Marcelo. Nem mesmo o Jerónimo ou este sucedâneo Raimundo.
    O homem está a ficar “ché-ché”. Só dessa forma se consegue explicar porque é que fez exatamente o contrário daquilo que agora está a apregoar.
    Já sei que vão justificar com a saída do BE e do PC da esfera do poder mas se assim foi porque não os “casou” de vez com o PS?

  4. Não oiço o comentador Marcelo, falar sobre a TAP e a indemnização tão criticada por todos.
    Será porque o advogado é o seu irmão?

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