Mais dois mortos nos protestos em Myanmar. Facebook remove página principal do exército

Lynn Bo Bo / EPA

Protestos em Rangum, Myanmar

Mais duas pessoas morreram em Myanmar, este sábado, depois de uma carga policial na cidade de Mandalay. Várias pessoas ficaram gravemente feridas.

Na sexta-feira, os birmaneses receberam a notícia da morte de Mya Thwate Thwate Khaing, uma jovem, de 20 anos, baleada na cabeça no dia 9 deste mês durante um protesto na capital, Naypyidaw.

Este domingo, uma multidão assistiu ao funeral da jovem. Várias pessoas levantaram silenciosamente as mãos, mostrando os três dedos – um sinal de desafio e resistência adotado pela vizinha Tailândia – e muitos cantaram “A nossa revolta tem de ser bem-sucedida”.

As manifestações prosseguiram noutras cidades, nomeadamente em Mandalay, a segunda maior cidade do país, onde as forças de segurança mataram a tiro duas pessoas, este sábado, perto de um estaleiro onde as autoridades tinham tentado forçar os trabalhadores a carregar um barco.

Uma das vítimas, descrita como um adolescente, também foi baleada na cabeça e morreu imediatamente, enquanto outra foi baleada no peito e morreu a caminho do hospital. Foram também relatados vários outros ferimentos graves.

Relatos de testemunhas e fotografias de cápsulas de balas indicaram que as forças de segurança utilizaram munições reais, além de equipamento convencional de controlo de motins e de fisgas, uma arma de caça tradicional em Myanmar.

A polícia também tem usado balas de borracha, canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar as multidões. Entretanto, a Associação de Assistência aos Presos Políticos birmaneses (AAPP) dá conta da existência de 640 detenções.

Na sua conta do Twitter, o secretário-geral da ONU condenou “o uso da força letal” neste país. “O uso de força letal, intimidação e assédio contra manifestantes pacíficos é inaceitável”, continuou António Guterres.

“Todos têm o direito a uma reunião pacífica. Apelo a todos os partidos para que respeitem os resultados das eleições e regressem ao governo civil”, acrescentou o chefe das Nações Unidas.

Este domingo, o Facebook removeu da sua plataforma a página principal do exército de Myanmar por não cumprir os requisitos de não incitação à violência.

“De acordo com as nossas políticas globais, eliminámos a página Tatmadaw True News por repetidas violações dos nossos padrões, que proíbem o incitamento à violência”, precisou um porta-voz desta rede social numa declaração enviada à agência EFE.

Hoje, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) afirmaram “estar dispostos” a adotar medidas restritivas contra as pessoas “diretamente responsáveis” pelo golpe militar.

“Em resposta ao golpe militar, a União Europeia está disposta a adotar medidas restritivas que visam aqueles diretamente responsáveis. Todas as outras ferramentas à disposição da UE e dos seus Estados-membros serão mantidas sob revisão”, lê-se nas conclusões relativas ao Myanmar do Conselho de Negócios Estrangeiros, publicadas enquanto a reunião ainda decorre.

Nesse âmbito, e ainda que ressalvando que irão “evitar medidas que possam afetar adversamente a população do Myanmar, em especial os mais vulneráveis”, os chefes da diplomacia europeia convidam a Comissão Europeia e o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, a “desenvolverem propostas apropriadas” para esse efeito.

 

O golpe militar atingiu a frágil democracia da Birmânia, depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi (Liga Nacional para a Democracia) nas eleições de novembro de 2020. Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes.

A junta militar disse que irá manter-se no poder durante um ano, antes da realização de um novo ato eleitoral.

ZAP // Lusa

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