Mais de metade dos seniores inquiridos num estudo que tentou perceber quem são os “idosos de hoje” confessam não gostar de viver sozinhos e um terço diz que vive sem “qualquer tipo de apoio”.
O estudo “Novos idosos, idosos novos“, realizado pelo Centro de Investigação Interdisciplinar e Intervenção Comunitária do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo (ISCET), teve como principal objectivo saber quem são os idosos de hoje, do que gostam e como vivem.
Os autores do estudo explicam que estas questões “permitem compreender esta fase da vida e ainda ajustar as respostas e intervenções sociais no sentido de proporcionar níveis compatíveis de bem-estar e felicidade” a esta população.
O inquérito envolveu 100 idosos residentes em Cedofeita, no Porto, mas o estudo ressalva que, tendo conta que nesta freguesia residem 5.365 pessoas com 65 ou mais anos, segundo o Censos 2011, a amostra não é representativa da população.
Os dados preliminares do estudo, divulgados esta terça-feira no colóquio “Novos idosos, idosos novos”, no Porto, referem que 53% dos inquiridos não têm apoio da família, 78% não tem ajuda de amigos, 73% dos vizinhos e 33% dizem não ter qualquer tipo de apoio.
A esmagadora maioria (94%) diz que não beneficia de apoio de uma instituição de solidariedade, uma situação que Fátima Vilela, uma das autoras do estudo, atribui ao facto de estes idosos ainda terem alguma autonomia e conseguirem gerir a sua vida.
Os que passam despercebidos
Para o coordenador do estudo, Adalberto Carvalho, estes “números são alarmantes” e demonstram a solidão em que vivem os idosos.
“Estamos a lidar com uma amostra de apenas 100 pessoas, mas são indicadores que nos devem pôr em alerta”, disse Adalberto Carvalho, comentando que são estes idosos que ainda vivem nas suas casas que “passam despercebidos aos mecanismos de intervenção social”.
O estudo refere que quanto mais velha é a pessoa, “maior é a propensão para o agregado ser mais pequeno” e para a pessoa ter menos apoio da família e dos amigos.
Para Adalberto Carvalho, “o ciclo biológico da vida”, que leva à morte dos familiares, não está a ser contrariado pela sociedade: “As pessoas mais idosas são as mais necessitadas e são aquelas que ficam sozinhas”.
Perfil dos inquiridos
Traçando o perfil dos inquiridos, o estudo refere que 65% são mulheres, com uma média de idade de 78 anos, 41% são viúvos e 35% casados.
Mais de metade (54%) tem o ensino primário e 16% não sabe ler nem escrever. Nove por cento ainda trabalham.
A grande maioria (86%) é pensionista, sendo que 35% aufere um rendimento entre os 100 e os 300 euros e 41% entre 301 e 600 euros.
“Atendendo que a maioria dos idosos tem casas arrendadas, despesas com a medicação e com as restantes necessidades básicas, os rendimentos são muito baixos para sobreviverem”, observa o estudo.
Relativamente ao número de filhos, 31% têm dois, 25% não tem e 23% têm um filho.
Metade dos inquiridos vive em apartamentos, 26% numa moradia e 23% numa parte de casa, sendo que 73% vivem numa casa arrendada.
O drama da solidão
Para Fátima Vilela, estes dados mostram a existência de “uma população bastante envelhecida que vive ainda no seu domicílio” e “uma fragilidade nas dimensões de solidariedade social”.
“É importante reflectir sobre novas respostas sociais para contrariar esta solidão”, que vão para além das respostas tipificadas que existem (lares, centros de dia e apoio domiciliário), adiantou.
Adalberto Carvalho acrescentou que “o drama” destes idosos é a solidão: “Precisamos de pessoas com o sentido comunitário que façam companhia a estas pessoas”.
Lusa