Macron pede “calma e responsabilidade” após assassínio de líder nacionalista corso

Philippe Wojazer / EPA

Yvan Colonna, líder nacionalista da Córsega, esteve cerca de 20 dias em coma depois de ter sido asfixiado por outro preso e morrer esta segunda-feira.

O ataque motivou protestos violentos na ilha mediterrânica e levou o Governo francês a aceitar discutir a sua autonomia, segundo o Público.

Após o líder nacionalista corso Yvan Colonna morrer na prisão onde cumpria uma pena perpétua, os receios de uma nova vaga de protestos e de violência na Córsega aumentam.

Emmanuel Macron, Presidente francês, apelou esta terça-feira à “calma” e à “responsabilidade” e realçou a importância das discussões sobre a autonomia da ilha mediterrânica francesa, prometidas pelo Governo na semana passada.

“Temos de estar muito vigilantes, morreu um homem. É uma situação muito grave. Foi requisitado um inquérito e serão aplicadas consequências. Não podemos permitir que tais atos sejam cometidos nas nossas prisões”, sublinhou, em entrevista à rádio France Bleu.

“O mais importante é que se mantenha a calma, que as discussões continuem e que possamos estar todos ligados à ideia de que os corsos podem viver melhor”, disse Macron. “Isto pressupõe, precisamente, este espírito de calma e de responsabilidade”.

Yvan Colonna, de 61 anos, era uma das grandes figuras do movimento independentista da Córsega.

Cumpria, desde 2003, uma pena de prisão perpétua pelo assassínio, em 1998, de Claude Érignac, o prefeito da ilha na altura. Mas sempre se declarou inocente.

A 2 de março deu entrada num hospital de Marselha, depois ter sido alvo de uma tentativa de homicídio, por asfixia, na prisão de Arles, no Sul do país.

O seu agressor, condenado em 2016 por “associação com um grupo que preparava um ato terrorista”, terá tentado matar Colonna por alegados comentários críticos contra o Islão.

Pouco depois do ataque, decorreram protestos violentos em cidades como Ajaccio, Bastia ou Calvi, com os manifestantes a pedirem justiça por Colonna e a reivindicarem exigências antigas de maior autonomia e um novo estatuto para a ilha.

Os confrontos entre manifestantes e a polícia de Bastia causaram 102 feridos, incluindo 77 agentes policiais, num só dia, fazendo temer o regresso dos fantasmas da luta armada independentista.

A Frente Nacional de Libertação da Córsega, que em 2014 renunciou à luta armada após várias décadas de ataques, avisou mesmo que estava a ponderar pegar de novo nas armas, caso Paris se mantenha num estado de “negação desrespeitadora”.

Quando o ministro do Interior, Gérald Darmanin, visitou a ilha na semana passada, os protestos acalmaram, em parte por causa das promessas que fez: abrir a discussão sobre a autonomia da Córsega.

O Governo francês coloca, porém, dois limites às negociações, que devem começar oficialmente em abril.

“A Córsega mantém-se como parte da República [Francesa]” e “nunca serão aceites duas categorias de pessoas”, informou Gabriel Attal, porta-voz do Governo.

“O trabalho de apaziguamento [da situação na Córsega] feito pelo ministro do interior [e] requisitado pelo primeiro-ministro [Jean Castex] e por mim próprio, era necessário”, explicou Macron.

Os adversários do Presidente francês nas eleições presidenciais de abril acusam-no, no entanto, de “oportunismo político“.

Valérie Pécresse, candidata dos Republicanos (conservadores), defendeu que “não se negoceia sob pressão da rua” e disse que Macron (centrista) “cedeu à violência”, segundo noticiou o Le Monde.

Já Marine Le Pen, da União Nacional (extrema-direita), denunciou uma postura de “clientelismo cínico” do Presidente e, citada pela France 24, insistiu que “a Córsega tem de permanecer francesa“.

“Como sempre, com este Governo, as coisas precisam de ficar feias antes de se começar à procura de soluções“, criticou ainda Yannick Jadot, dos Verdes, da Europa Ecologia-Os Verdes (ambientalistas).

ZAP //

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