Centenas de turistas forçados a abandonar apressadamente a joia peruana e uma das sete maravilhas do mundo. Protestos contra a “privatização sistemática” da cidade inca partem para o quinto dia consecutivo.
Saída de turistas, protestos, encerramento de empresas e uma “greve por tempo indeterminado”. É este o cenário atual em Machu Picchu, o icónico local arqueológico do Peru considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno.
A situação conturbada ocorre depois de uma empresa privada, Joinnus, assumir a comercialização dos bilhetes do local. Os manifestantes consideram que a novidade representa uma “privatização sistemática” da cidade inca e, pelo quarto dia consecutivo desde quinta-feira, os operadores turísticos e residentes mantiveram esta segunda-feira os seus negócios fechados e bloquearam o acesso à região em protesto.
As atividades dos comboios que levam as pessoas ao parque arqueológico também foram suspensas por precaução, provocando a saída apressada de centenas de turistas.
That sucks. That visit usually requires some serious long term planning 😳
Peru: nearly 700 tourists evacuated from Machu Picchu amid strike.
https://t.co/w3WbPCktVd— Napoleon X (@P0rtmanMichael) January 28, 2024
Machu Picchu, uma das joias do turismo peruano, atraiu cerca de 4,5 milhões de visitantes ao país antes da pandemia em 2020.
O que pedem os manifestantes?
Os manifestantes exigem o cancelamento do contrato com a Joinnus.
Após negociações infrutíferas entre os ministros da Cultura e do Comércio Externo e Turismo, o presidente da câmara de Machu Picchu e o governador Werner Salcedo declararam este domingo a “radicalização” da greve.
Grande parte dos protestos são dirigidos contra a ministra da Cultura peruana, Leslie Urteaga, a quem é atribuída culpa por permitir a venda de bilhetes pela Joinnus.
“Ministra da Cultura, não alugue Machu Picchu, alugue a sua casa“, dizia uma das faixas carregadas pelos manifestantes, que também questionam “a cobrança de uma comissão de 3,9% por bilhete vendido” pela empresa, segundo comunicado do coletivo popular de Machu Picchu.
This Thursday, the indefinite general strike began, called by social organizations and supported even by the mayor of the #Machupicchu district, Elvis La Torre Uñaccori, who declared that they are doing it to “defend the non-privatization of income . “#Peru
Despite the rain,… pic.twitter.com/C3mBS2woeE— ⚡️🌎 World News 🌐⚡️ (@ferozwala) January 26, 2024
Urteaga negou que a venda de bilhetes estivesse a ser privatizada, defendeu que “Machu Picchu pertence a todos os peruanos” e propôs uma mesa de diálogo para encontrar uma solução.
A empresa Joinnus, por outro lado, disse que se colocou “à disposição” do Ministério da Cultura para iniciar um novo processo seletivo caso seja necessário e que “renunciou voluntariamente ao recebimento da comissão variável por bilhete por um período de seis meses.”
No entanto, as declarações não parecem ter acalmado os manifestantes, que aguardam agora o resultado de negociações marcadas para esta terça-feira, 30 de janeiro.
“Impacto de milhões” na economia
O turismo está a ser a grande vítima da paralisação por tempo indeterminado. Centenas de visitantes não conseguiram aceder à atração turística ou voltar para as suas acomodações, o que levou as autoridades a intervir para realojá-los.
Vários órgãos de comunicação social publicaram imagens de turistas a completar a viagem a Machu Picchu a pé e sob chuva.
Carlos González, presidente da Câmara de Comércio e Turismo de Ollantaytambo, outro importante ponto de acesso às ruínas, estimou que 1.800 turistas tiveram de ser retirados.
O Defensor do Povo do Peru “rejeitou o bloqueio de estradas pelos manifestantes” e insistiu que “todas as reivindicações devem ser canalizadas através do diálogo”. O direito de protestar “não confere poder aos manifestantes para impedir a livre circulação ou afetar os direitos de outras pessoas”, acrescentou.
Os encerramentos também prejudicaram a economia local.
Roland Llave, reitor da Faculdade de Turismo de Cuzco, disse à rádio peruana RPP que “o impacto é de milhões de soles” para as famílias da região. Elas dependem em grande parte do fluxo de viajantes que necessitam de guias, hotelaria e alojamento.
Machu Picchu, declarado em 1983 Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), enfrentou vários desafios nos últimos tempos.
No final de dezembro, os ministérios da Cultura, do Comércio Externo e Turismo e do Meio Ambiente anunciaram o aumento do número de visitantes para até 5.600 pessoas em dias específicos e 4.500 em datas comuns.
Durante décadas, a região sofreu com problemas de conservação e sustentabilidade devido ao elevado número de visitantes.
Em setembro, o próprio Ministério da Cultura anunciou o encerramento da visita a três setores da cidade inca devido ao desgaste dos seus elementos líticos. Antes, no início de 2023, a atração ficou fechada por cerca de um mês devido a bloqueios feitos por protestos contra o governo.
ZAP // BBC