O anúncio do plano de vacinação Joe Biden suscitou aplausos do lado Democrata, mas muitas críticas de governadores Republicanos, que estão a processar a administração norte-americana.
Ainda não passou uma semana desde o anúncio, mas o plano de vacinação de Joe Biden não tardou a suscitar dúvidas e críticas por parte de adversários políticos e sindicatos.
O plano afecta 100 milhões de americanos e obriga os funcionários públicos a serem vacinados para poderem trabalhar. Já as empresas com mais de 100 funcionários têm de garantir que os trabalhadores estão vacinados ou então sujeitá-los a testes semanais. Os profissionais de saúde e educadores de empresas que recebam fundos federais também têm de se imunizar.
As medidas surgiram para pressionar a população a vacinar-se depois do grande aumento de casos que os EUA têm registado nas últimas semanas devido à variante Delta, dado que cerca de 80 milhões de norte-americanos continuavam sem se vacinar. Vários especialistas aplaudiram a medida, como Georges Benjamin, director executivo da Associação de Saúde Pública Americana, que considera que só peca por tardia.
No entanto, o plano não demorou a levantar críticas no Partido Republicano. Um dos opositores foi Asa Hutchinson, governador Republicano do Arkansas, que afirmou que o pacote de medidas “endurece a resistência” daqueles que se recusam a ser vacinados.
“Temos de ultrapassar a resistência. Este é um vírus muito sério e mortal e estamos todos juntos a tentar aumentar a vacinação na população. O problema é que estou a tentar ultrapassar a resistência, mas as acções do Presidente endurecem-na”, afirmou à NBC.
No estado do Arizona, tanto o governador como o procurador-geral também deixaram críticas à Casa Branca. “Aquilo que a administração Biden está a fazer é ultrapassar os poderes do governo, pura e simplesmente. Quantos negócios vão perder funcionários? Quantas escolas vão fechar? Quantas empresas vão ser multadas?“, questionou Doug Ducey, governador Republicano, que acredita que o plano não se vai segurar em tribunal.
O procurador-geral do estado, Mark Brnovich, também do Partido Republicano, caracteriza as medidas como “um passo devastador no caminho até à nacionalização dos nossos sistemas de saúde e da força de trabalho privada e uma grande erosão das nossas liberdades individuais.
Brnovich prometeu também avançar com um processo contra a administração Biden, e cumpriu a promessa. A cidade de Tucson, controlada por Democratas, avançou com a vacinação obrigatória dos funcionários públicos, mas Brnovich já afirmou que a medida é ilegal e que a cidade tem 30 dias para voltar atrás ou arriscar-se a perder milhões de dólares de financiamento estadual.
Os líderes de outros estados como o Texas, Georgia, Montana, Tennessee usaram argumentos semelhantes, com o governador Henry McMaster, da Carolina do Sul, a prometer que vai “lutar até aos portões do inferno” contra os Democratas para “proteger a liberdade” da população.
No Indiana, o governador Republicano Eric Holcomb enfatizou o seu apoio à vacinação, mas defende que não é da responsabilidade do governo obrigar a população a imunizar-se. O procurador-geral Todd Rokita disse que está a preparar uma acção legal.
“A minha equipa e outros procuradores-gerais que concordam estão a rever a acção legal para lutarmos contra estas medidas autoritárias da administração Biden. Estamos preparados para processar se Biden continuar com estas restricções ilegais na liberdade dos Hoosiers”, ameaçou Rokita.
No Congresso, o líder na minoria Republicana na Câmara dos Representantes foi curto e grosso, escrevendo no Twitter: “NÃO À VACINA OBRIGATÓRIA“. Já a congressista Elise Stefanik condenou o pacote de medidas como “autoritário” e a obra de “um governo com sede de poder”, enquanto que o representante Jim Banks disse que a vacina obrigatória é “não-americana”.
O Comité Nacional Republicano revelou também que vai processar a administração Biden quando as medidas entrarem em vigor para proteger os pequenos negócios que não têm capacidade de lutar contra o governo.
Ronna McDaniel, presidente do Comité, afirma que Biden mentiu quando “prometeu aos Americanos quando foi eleito que não ia impor a vacina”, referindo-se à posição da Casa Branca em Julho, quando a porta-voz afirmou que a obrigatoriedade da vacina “não é da responsabilidade do governo federal”.
A retórica dos políticos está também a preocupar as autoridades de saúde, já que não estão a especificar ser contra a vacinação obrigatória só neste caso, o que pode colocar em causa medidas semelhantes na imunização contra outras doenças como o sarampo, escreve o The Washington Post.
“Estejam à vontade”
Entretanto, Joe Biden respondeu às críticas dos adversários políticos e aos processos abertos contra o pacote de medidas. “Estejam à vontade“, disse o Presidente dos Estados Unidos durante uma visita a uma escola em Washington quando questionado pelos jornalistas.
“Estamos a agir a sério aqui, isto não é um jogo. E não conheço nenhum cientista neste campo que não ache que faça um sentido considerável as seis medidas que propus”, acrescentou Joe Biden.
Sobre as críticas dos Republicanos, o chefe de Estado mostra-se desapontado. “Estão tão desiludido que, alguns governadores Republicanos em particular, tenham sido tão descuidados com a saúde destas crianças, tão descuidados com a saúde das suas comunidades”, rematou.