Luta pelo poder. Rio e Rodrigues dos Santos tentam todas as vias para chegar como líderes às legislativas

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José Coelho / Lusa

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos e o presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio

Rui Rio, presidente do PSD, e Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, concordam que a as eleições legislativas devem acontecer no dia 16 de janeiro. O objetivo é chegar às urnas como líderes dos partidos que representam.

Marcelo Rebelo de Sousa está prestes a decidir qual será a data das próximas eleições legislativas e a pressão aumenta no PSD e no CDS. Com questões internas por resolver, os líderes dos dois partidos de direita lutam por continuar no poder no momento em que os portugueses irão as urnas escolher quem será o próximo primeiro-ministro.

Reunidos com o Presidente da República no passado sábado em Belém, tanto Rui Rio como Francisco Rodrigues dos Santos mostraram o desejo de que as eleições se realizem no dia 16 de janeiro. Arrastar a data para o início de 2022 será benéfico para os atuais líderes que já estão a trabalhar para que a sua vontade seja concretizada. No caso do CDS-PP, a direção já conseguiu adiar o congresso para depois das legislativas e agora é a do PSD que tenta o mesmo, numa mensagem da direção enviada por email aos militantes.

Numa reunião do Conselho Nacional, realizada via Zoom na noite de sexta-feira passada para sábado, Francisco Rodrigues dos Santos conseguiu adiar para depois das legislativas o congresso do partido que já estava agendado para os dias 27 e 28 de novembro, em Lamego.

O líder do CDS conseguiu que a sua vontade fosse concretizada para já, mas decisão vai ser impugnada nos órgãos do partido e porventura no Tribunal Constitucional. O que está claro é que Rodrigues dos Santos quer continuar líder quando o país for a votos e está no caminho certo para o conseguir.

Debaixo de fogo no CDS por ter adiado a disputa interna, Rodrigues dos Santos citou Francisco Sá Carneiro. “Em primeiro lugar o país, depois o partido e só depois as circunstâncias políticas de cada um”. “O país não pode esperar” e a “vida interna dos partidos não deve condicionar o interesse nacional”, defendeu o líder centrista, que voltou a admitir a “possibilidade de uma coligação pré-eleitoral” com o PSD, escreve o Diário de Notícias.

“Excelente oportunidade para o PSD”

Por sua vez, Rui Rio tem o mesmo objetivo. O líder dos sociais-democratas não desiste de tentar desmarcar as eleições diretas do presidente do partido (agendadas para dia 4 de dezembro) onde se vai confrontar com a candidatura de Paulo Rangel.

Para justificar a rapidez das eleições, Rio defendeu, à saída da reunião que manteve com Marcelo em Belém, que “quanto mais depressa a crise política for resolvida melhor”, não só para a economia recuperar rapidamente da pandemia, mas pelo prazo limitado que as verbas do PRR têm para ser executadas, “três anos que já estão a contar”.

Já no dia de ontem, a comissão permanente do PSD – o órgão mais restrito de decisão na cúpula do partido – fez distribuir aos militantes do partido, via email, uma nota onde volta a pressionar para que o processo eleitoral interno seja adiado para depois das legislativas – o que permitiria a Rui Rio manter-se como o candidato do PSD a primeiro-ministro.

“A antecipação das eleições internas para uma altura em que devemos estar todos concentrados nas legislativas, parece afigurar-se totalmente desajustada das circunstâncias que o País está a viver e dos objetivos que o PSD deve prosseguir”, lê-se no comunicado.

O que agora está em causa é “uma excelente oportunidade para o PSD aproveitar o bom resultado das autárquicas e ganhar essas eleições, substituindo, assim, uma governação totalmente à esquerda por uma outra mais moderada e liderada pelo nosso partido”.

Assim, “em nome do interesse nacional e do nosso próprio partido, temos de estar unidos e totalmente focados no combate com os nossos verdadeiros adversários”. Dito de outra forma: “Na qualidade de primeiros responsáveis pela condução política do partido, sentimos a obrigação de lhe enviar esta reflexão, para que a(o) companheira(o) melhor possa pensar sobre este importantíssimo momento que o País e o PSD estão a viver”.

Paulo Rangel, por sua vez, mostra-se contra esta posição. “Não precisamos de suspender democracia para ganhar legislativas, mas que novo líder esteja legitimado”. É assim que o candidato se dirige também aos militantes do PSD, defendendo as diretas marcadas para 4 de dezembro.

“O PSD tem de honrar a sua tradição democrática e plural, tem de olhar para as eleições internas como um momento para debater o país e preparar as legislativas. Não precisamos de ‘suspender’ a democracia para ganharmos as legislativas”, defendeu.

Numa carta dirigida às bases do PSD, à qual o DN teve acesso, Rangel afirma: “a nossa candidatura é a única que reúne todas as condições para unir o PSD, para o fazer crescer e para o fazer vencer as próximas eleições legislativas. Só com um partido unido podemos realizar a nossa vocação maioritária e dar ao país uma solução de governo estável e reformista”.

O antigo eurodeputado aproveita a missiva aos militantes para relembrar as suas propostas políticas. A aposta na mobilidade social, a criação de riqueza para combater a pobreza e o ambiente, saúde e educação e a justiça como as alavancas para a progressão do país.

Rio e o comentário de Marques Mendes

Rui Rio recorreu às redes sociais para abordar o habitual comentário de Luís Marques Mendes ao domingo na SIC, depois de o Conselheiro de Estado falar sobre alguns temas que marcaram os últimos dias, nomeadamente as eleições legislativas antecipadas e a situação interna do PSD.

No seu habitual espaço de comentário, Marques Mendes revelou que o Governo discutiu, em Conselho de Ministros, a possibilidade de fazer um acordo com o PSD Madeira, para que os três deputados eleitos pelo PSD/Madeira pudessem fazer passar o Orçamento do Estado para 2022, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros travou esse acordo. “Quem travou [esse cenário] foi o ministro Augusto Santos Silva que disse que era uma perda de credibilidade para o Governo”, revelou o comentador, que elogiou a posição de Santos Silva.

Sobre as legislativas, nomeadamente sobre a data 16 de janeiro que reuniu o consenso dos partidos, Marques Mendes mostrou-se “incrédulo” com esta data e considerou que a mesma “mata” as hipóteses de Paulo Rangel, que pode ser eleito presidente do PSD no congresso agendado para 4 de dezembro.

“Fiquei a perceber que está meio mundo com medo de Paulo Rangel”, afirmou, referindo que as eleições a 16 de janeiro “só têm um efeito prático: ‘matar’ o candidato à liderança do PSD”.

No entanto, estas palavras não caíram bem a Rui Rio que fez duras críticas a Marques Mendes nas redes sociais.

“Nunca vejo o comentário de Marques Mendes. Mas hoje vou abrir uma exceção e vou ver o que ele disse sobre as eleições legislativas antecipadas e a situação interna no PSD. As mensagens que recebi a ridicularizá-lo, para não dizer a insultá-lo, são tantas, que fiquei curioso”, escreveu numa publicação partilhada no Twitter.

Ana Isabel Moura, ZAP //

 

 

 

 

 

4 Comments

    • Mansinho, o rapaz do CDS?!
      Várias vezes fez concorrência (ou até ultrapassou) o Ventura nos ataques ao governo!…
      Infelizmente nunca foi para acrescentar nada positivo para o país…

      Já o Rui Rio concordou várias vezes com o governo porque é realista e, como é mais honesto, percebeu que, na maior parte dos casos, faria exatamente igual e por isso não ia estar a fazer “ruido” só para mostrar “trabalho” e prejudicar o país – além de que, na maior parte do tempo, esteve em luta com oposição interna do PSD – que não descansou desde que o R. Rio voltou a vencer as directas do PSD em Janeiro 2020.
      O oportunista Rangel e companhia que o digam…

  1. Azar o nosso! Está visto no que toca a Rui Rio realista e honesto, não se vai safar como 1º ministro, pois pelos vistos o povo aprecia mais os vendedores de banha da cobra, é que isto de honesto, mas caladinho o povo também acaba por não perceber o que vai na cabeça da pessoa.

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