Lula defende que corrupção seja investigada. UE quer acelerar acordo com Mercosul, diz Bolsonaro

Filipe Araújo / AGPT

Ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva

O antigo Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva declarou, na quinta-feira, em entrevista ao Jornal Nacional, que se for novamente eleito vai trabalhar para pacificar o Brasil e dará liberdade à polícia para investigar denúncias.

Lula, citado pela agência Lusa, afirmou que vai tentar “pacificar o país” e defendeu que a polarização que divide o Brasil é saudável quando se mantêm no campo das ideias e não no do “estímulo ao ódio”.

“Quando você tem democracia e quando você tem mais que um disputando, a polarização é saudável. Ela [polarização] é importante, ela é estimulante, ela faz a militância ir para rua, carregar bandeira. O que é importante é que a gente não confunda a polarização com o estímulo ao ódio”, salientou.

Questionado diversas vezes sobre casos de corrupção ocorridos nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), liderados por Lula e pela antiga Presidente Dilma Rousseff, lembrou vários mecanismos de combate à corrupção criados naquele período e disse que dará liberdade para instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público (MP) investigarem crimes.

“Vamos continuar criando mecanismos para investigar qualquer delito que aconteça na máquina pública brasileira”, afirmou.

O antigo chefe de Estado também reconheceu que houve corrupção na petrolífera estatal Petrobras, mas criticou a forma como as investigações foram conduzidas pela Operação Lava Jato, autora de processos que geraram duas condenações para Lula.

Uma dessas condenações era sobre a alegada posse de um apartamento de luxo, levando-o à prisão por 580 dias. Estas e outras as ações abertas pelos procuradores acabaram anuladas ou foram arquivadas pela Justiça. Atualmente, Lula não está a responder em nenhum processo judicial.

“Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram. O que é mais grave é que as pessoas confessaram, e por conta das pessoas confessarem, ficaram ricos por conta de confessar”, respondeu, numa referência aos casos investigados na Petrobras e benefícios oferecidos a acusados que confessaram.

Lula considerou que o MP atuou politicamente para o condenar e também apontou o que considerou um erro das investigações de corrupção na Petrobras provocar a falência de grandes empresas de construção civil.

“O correto era fazer a investigação que tinha que fazer da forma mais correta possível, como fizeram no meu tempo que eu era Presidente, e depois se a pessoa for inocente você absolve. Se a pessoa for culpada, você condena”, indicou.

O candidato do PT também aproveitou para atacar o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de forma indireta, ao insinuar o que podia ter feito, mas não fez, como decretos de sigilo de cem anos imposto pelo Exército numa investigação sobre o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ou como podia ter atuado para a polícia não investigar denúncias de corrupção como alegadamente estaria a acontecer.

Questionado sobre a escolha de Geraldo Alckmin – rival de Lula nas presidenciais de 2006 – para o cargo de vice-Presidente, o antigo chefe de Estado defendeu que juntos farão um governo forte e que o PT já aceitou a aliança.

“Alckmin já foi aceito pelo PT de corpo e alma. Alckmin é uma pessoa que vai me ajudar, tenho confiança que a experiência como governador de São Paulo vai me ajudar a consertar esse país”, declarou.

“Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica, que eu utilizei para mostrar aos militantes do PT a entrada de Alckmin no PT. De vez em quando, a gente precisa estar junto com os divergentes para vencer os antagónicos. E agora, nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo, da ultradireita”, declarou.

No final da entrevista, Lula pediu aos brasileiros que quando forem votar “coloquem esperança, otimismo. Não coloquem rancor na urna, porque não dá certo”.

UE quer acelerar acordo com Mercosul devido à seca

Bolsonaro garantiu, na quinta-feira, que a União Europeia (UE) quer acelerar a ratificação do acordo com o Mercosul por medo dos efeitos que a seca pode ter na região em relação à segurança alimentar.

“Dentro dessa onda de calor e fogo na Europa, a UE quer acelerar esse acordo com o Mercosul porque, obviamente, é certo que a fome estará presente em todo o mundo”, disse Jair Bolsonaro, durante a transmissão semanal nas redes sociais.

O bloco europeu “está preocupado em importar alimentos” e o Brasil, parte do Mercosul junto com a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, produz cada vez mais, disse.

O chefe de Estado brasileiro mencionou que a maior seca experimentada no território da UE nos últimos 500 anos, de acordo com o Centro Conjunto de Pesquisas da Comissão Europeia, está a causar “a morte lenta” dos rios europeus, antes navegáveis, e a provocar dificuldades na irrigação das colheitas.

“O que está acontecendo na Europa é algo que ninguém poderia acreditar que aconteceria”, frisou Bolsonaro.

O acordo comercial entre a UE e o Mercosul foi assinado em 2019, depois de duas décadas de negociações, mas desde então está parado e pendente de ratificação pelos países signatários.

Vários países europeus estão relutantes em avançar devido às preocupações suscitadas pelas políticas ambientais agressivas de alguns parceiros sul-americanos.

No caso do Brasil, Bolsonaro defende a exploração de recursos minerais em terras indígenas na Amazónia e durante o mandato, que começou em janeiro de 2019, as taxas de desflorestamento e o número de incêndios florestais dispararam.

Na última segunda-feira, Lula da Silva foi a favor da reabertura das negociações com a UE sobre o acordo comercial com o Mercosul, por considerar que, com base nos termos atuais, o mesmo não vai promover uma reindustrialização do Brasil.

Com 47% das intenções de voto, Lula lidera as sondagens para as presidenciais, seguido por Bolsonaro com 32%, de acordo com o Instituto Datafolha. A eleição presidencial no Brasil tem a primeira volta marcada para 02 de outubro e a segunda volta, caso seja necessária, no dia 30 do mesmo mês.

Ao todo, 12 candidatos disputam as presidenciais: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luís Felipe D’Ávila, Soraya Tronicke, Roberto Jefferson, Pablo Marçal, Eymael, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia.

ZAP // Lusa

 

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