Os nossos corpos impulsionam-nos para a frente a impressionantes velocidades, com os nossos músculos e tendões a desempenhar um papel vital. Mas houve uma altura no nosso passado em que os primeiros membros da nossa árvore genealógica não eram assim tão rápidos.
Há cerca de 3,2 milhões de anos, um hominídeo conhecido como Australopithecus afarensis vivia na África Oriental.
Em 1974, os fósseis de um dos seus membros mais famosos, Lucy, foram encontrados na Etiópia, uma importante descoberta que permitiu apurar um pouco mais sobre como é que os nossos parentes se moviam e ficavam de pé.
Segundo o Live Science, o esqueleto de Lucy mostrou que a sua espécie conseguia andar ereta sobre duas pernas, mas as suas proporções e o seu arranjo muscular eram muito diferentes dos humanos atuais.
Depois de estudar a sua estrutura usando simulações de computador 3D, os investigadores concluíram que Lucy conseguia correr sobre duas pernas, mas nunca terá conseguido igualar as velocidades que, tão naturalmente, os humanos modernos conseguem alcançar.
“A velocidade máxima de corrida de Lucy era consideravelmente inferior à do nosso modelo humano” – cerca de 18 km/h. Para referência, a velocidade máxima de Usain Bolt é de mais de 43 km/h e a velocidade máxima de corrida de um corredor recreativo é de cerca de 22 km/h.
Além disso, a investigação permitiu descobrir que Lucy usou entre 1,7 e 2,9 vezes mais energia do que os humanos modernos para correr tão rápido, o que sugere que ela teria exigido significativamente mais energia para percorrer uma determinada distância do que um humano moderno.
Australopitecos como Lucy tinham corpos superiores grandes, braços longos e pernas curtas, o que provavelmente limitava a sua velocidade de corrida.
Ainda assim, os cientistas descobriram que uma outra razão que pode explicar a corrida lenta e ineficiente de Lucy pode ter sido um tendão de Aquiles e tríceps sural com formatos diferentes, um grupo de músculos na panturrilha (ou barriga da perna).
Nós, humanos modernos, temos um tendão de Aquiles longo e elástico que liga os músculos da panturrilha e do tornozelo ao osso do calcanhar. Este arranjo anatómico permite-nos ter um tornozelo poderoso e eficiente, importantíssimo para o alto desempenho na corrida.
Quando a equipa modelou o movimento de Lucy com os músculos do tendão de Aquiles e da panturrilha semelhantes aos dos humanos, ela mostrou ser ainda mais lenta. As diferenças deviam-se, principalmente, ao seu tamanho corporal inferior.
“Este contexto enfatiza o papel crucial do tendão de Aquiles e da arquitetura do tríceps sural na evolução da energética de corrida dos hominídeos”, escreveram os cientistas, no artigo científico publicado na Current Biology. “Características-chave no plano do corpo humano evoluíram especificamente para melhorar o desempenho na corrida.”