A história de Los Alamos, a cidade secreta onde Oppenheimer criou a bomba atómica

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Robert Oppenheimer, pai da bomba atómica

O novo filme sobre o pai da bomba atómica coloca o foco na pequena vila de Los Alamos, no Novo México, onde o Oppenheimer criou e testou as primeiras armas nucleares.

Com o lançamento do novo filme de Christopher Nolan, o nome de J. Robert Oppenheimer anda outra vez pelas bocas do mundo, quase 80 anos depois de o físico ter estado por trás de uma invenção que mudou a história da Humanidade para sempre — a bomba atómica.

O palco de todo o processo de investigação foi Los Alamos, uma pequena cidade com 12 mil habitantes no estado norte-americano do Novo México. Para celebrar o lançamento do filme, a vila até organizou um festival sobre Oppenheimer.

Apesar de o trabalho do físico continuar a dividir opiniões, a cidade orgulha-se da sua ligação ao pai da bomba nuclear, tendo baptizado uma estrada em sua honra. O centro histórico conta ainda com uma estátua de bronze de Oppenheimer e os cafés locais fazem passatempos com curiosidades sobre a sua vida.

A famosa “experiência Trinity” — o nome de código do primeiro teste de uma bomba nuclear, que decorreu no deserto do Novo México — também emprestou o seu nome a uma estrada, umas urgências hospitalares e a uma igreja em Los Alamos.

boom no turismo

De acordo com o The Economist, quando Oppenheimer foi nomeado pelo Governo norte-americano para chefiar o Projecto Manhattan, em 1942, escolheu construir o seu laboratório em Los Alamos.

Os responsáveis políticos concordaram, considerando que o deserto e as florestas na região seriam perfeitas para encobrir os testes das bombas. Mas o físico tinha uma razão especial para escolher o Novo México para ser o palco das suas experiências, já que era, juntamente com o seu irmão, dono de um rancho no estado.

No filme, a personagem interpretada por Cillian Murphy admite isso mesmo. “Achei que se arranjasse uma forma de misturar a física e o Novo México, a minha vida seria perfeita”, refere o protagonista.

A cidade ainda abriga o Laboratório Nacional de Los Alamos, sucessor do campus científico de Oppenheimer, onde a investigação sobre armas nucleares continua até aos dias de hoje.

Para os turistas interessados em saber mais sobre o lugar onde o mundo mudou para sempre, há ainda o Parque Histórico Nacional do Projecto de Manhattan. Wendy Berhman, gerente do parque, afirma que, por estes dias, o número de visitantes mais do que duplicou em comparação com a mesma altura no ano passado.

Um dos visitantes de Los Alamos que ficou fascinado com a vila terá sido nada mais nada menos do que o próprio Christopher Nolan, realizador do blockbuster. “Acho que estava lá quando Nolan decidiu filmar na casa dos Oppenheimer. Eu podia ver isso nos seus olhos. Eu perguntei-lhe ‘sente a aura nesta casa?‘ E ele disse: ‘Ah, sim!”, afirma Leslie Linke, da Sociedade Histórica de Los Alamos, ao The Economist.

O passado complicado de Los Alamos

O legado de Oppenheimer continua a dividir as opiniões e o lançamento do filme veio reacender o debate. Para uns, o cientista foi um herói cuja criação ajudou a pôr um ponto final à guerra mais mortífera de sempre e que continua a dissuadir a escalada nos conflitos globais até hoje. A Guerra Fria, por exemplo, muito provavelmente nunca chegou a vias de facto porque ambos os lados tinham um arsenal nuclear.

Por outro lado, é practicamente impossível desassociar o nome de Oppenheimer a uma das páginas mais negras da História — os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, que mataram entre 129 mil e 226 mil pessoas, a grande maioria civis, e cujos efeitos continuam a ser sentidos até hoje.

Oppenheimer deu também à Humanidade as chaves para a sua auto-destruição, que continuam a alimentar muitos receios sobre o risco de de alguma vez uma bomba cair nas mãos erradas ou de um tirano se apropriar do arsenal nuclear de um país. Esta perspectiva parece ser algo com que até o próprio física parecia concordar, como mostra a sua famosa frase “tornei-me a morte, a destruidora de mundos”.

Esta dualidade de opiniões sobre o legado de Oppenheimer está espelhada na própria história de Los Alamos. Apesar de a cidade geralmente se orgulhar do seu papel na invenção da bomba, nos últimos anos, há um reconhecimento crescente das injustiças históricas que protagonizou — como a deslocação forçada dos habitantes hispânicos e tribos nativas ou a exposição à radiação dos habitantes do Novo México próximos ao local da experiência Trinity.

Talvez a nova fama que a vila ganhou à boleia do filme ajudou a acelerar este reconhecimento. Mas, por enquanto, o foco está só em Oppenheimer.

Adriana Peixoto, ZAP //

1 Comment

  1. Desafio:
    …já que, juntamente com o seu irmão, dono de um rancho no estado.
    Talvez a nova fama que a vila ganhou à boleia do filme ajudou a acelerar este reconhecimento.

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