O candidato à liderança do CDS Filipe Lobo d’Ávila acha que o partido “não deve cair na tentação” nem cometer o “erro tremendo” de tornar-se num “Chega II”, porque há “um mundo de diferenças” entre os dois.
“No dia em que quisermos ser um Chega II não seremos o CDS”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o antigo secretário de Estado da Administração Interna, que é um dos cinco candidatos anunciados à sucessão de Assunção Cristas no 28.º Congresso nacional do CDS, em 25 e 26 de janeiro, em Aveiro.
Lobo d’Ávila posicionou o CDS como um partido de “direita democrática, de “direita moderada”, e confessou que não tem “pedras no sapato nenhumas com o Chega ou com a Iniciativa Liberal”, dois partidos que entraram no parlamento, com um deputado cada um, nas legislativas de 6 de outubro de 2019.
“O CDS é muito diferente do Chega ou da Iniciativa Liberal e não deve cair na tentação de os copiar. Portanto, se o objetivo deste congresso for encontrar uma solução que seja transformar o CDS num partido ultraconservador, idêntico em termos de mensagem, em termos de postura ao Chega, acho que seria um erro tremendo. No dia em que quisermos ser um Chega II não seremos o CDS”, disse.
O dirigente centrista que foi um dos rostos da oposição interna a Assunção Cristas, que sai da liderança devido aos maus resultados nas legislativas de outubro de 2019, não exclui o partido de André Ventura dos cenários de eventuais entendimentos num futuro próximo, mas avisa que o CDS não deve deixar-se cair na tentação “de se transformar num partido de protesto”.
“Para isso, o sistema já tem esse espaço ocupado”, disse. Pelo contrário, “o CDS tem que assumir claramente, sem vergonha, que é um partido de direita, um partido de uma direita moderada e democrática” e tem de ser “útil aos portugueses que confiam” nele.
E diz que o partido “não se deve preocupar nem com o Chega nem com a Iniciativa Liberal”, dado que o “CDS é diferente” e “sempre conseguiu ter dentro da sua casa uma enorme pluralidade de diferentes matrizes”, da democracia-cristã, liberais e conservadores.
Para um “entendimento mínimo” que defende para o centro-direita, acrescentou, não bastam cálculos aritméticos “de conquista do poder”, é preciso “mobilizar o centro-direita” com ideias.
Mas se esse entendimento pode ir até ao ponto de juntar CDS, PSD e Chega numa maioria parlamentar ou de Governo, Lobo d’Ávila tem algumas dúvidas e respondeu: “Sim e não.”
“Não acho que teoricamente tenha de haver qualquer barreira à direita que nunca foi colocada à esquerda. Se o PS pode fazer acordos de incidência parlamentar ou qualquer outra com o PCP ou com o BE, com partidos comunistas ou trotskistas, porque é que a direita não pode haver outro tipo de entendimentos e maior abertura?”, interroga-se, para depois admitir que “há ainda um mundo de diferença entre aquilo que é a visão que o CDS tem e a visão que alguns partidos novos têm”.
“Se me pergunta se eu acho que deve haver uma plataforma de entendimento que mobilize? Sim. Se essa plataforma deve incluir ou não estes partidos é uma questão que o tempo dirá” e também se relaciona “com as ideias que cada um tem”.
Lobo d’Ávila assumiu a sua proximidade, até pessoal, ao seu adversário João Almeida, mas garante que vai levar até ao fim a sua moção de estratégia, do grupo Juntos pelo Futuro.
“Já disse que a minha moção vai a votos e não alimentarei qualquer tipo de teorias sobre outros para conseguir diminuir a sua expressão, a sua força, ou diminuir até aquilo que é a sua mensagem política”, sustentou.
Com João Almeida, diz ter uma amizade de muitos anos, pelo “percurso de vida juntos, com relações pessoais fortes” e que vão manter-se independentemente do que acontecer em Aveiro: “Cada um tem um projeto para o CDS e quer ir até o fim. É legítimo que o faça e o partido que escolha.”
“Assistimos, na política portuguesa, a um discurso de normalização do salário mínimo nacional, mas a verdade é que quando olhamos para o salário médio nacional e o salário médio nacional é cada vez mais baixo e cada vez mais próximo do salário mínimo”, afirmou.
“O CDS vale a pena, o CDS pode fazer a diferença também aqui com discurso social forte”, afirmou.
Lobo d’Ávila olha de forma crítica para os anos após as legislativas de 2015, ganhas pela coligação PSD/CDS, que não conseguiu formar Governo e colocou os centristas na oposição sob a liderança da ex-ministra Assunção Cristas e aponta um erro estratégico: o CDS quis transformar-se num partido “catch all”, para tentar chegar a todos.
“Essa ambição, como se dizia”, recordou, “acabou por se traduzir num partido com uma mensagem que não ficou clara”, que “não passava”, e que acabou “por perder um pouco de identidade”.
Com o “tal pragmatismo” defendido pela anterior direção, “não interessava tanto a identidade” – “o que interessava era ir ao encontro daquelas que eram as preocupações das pessoas em determinado momento”.
A conclusão é que “essa ambição fez com que a mensagem não passasse”, afirmou o candidato à liderança que, nos últimos congressos, apresentou listas ao conselho nacional, órgão mais importante entre congresso, com o grupo Juntos pelo Futuro.
É por isso que à pergunta sobre o que o distingue dos outros quatro candidatos responde com esse “percurso diferente”, um “caminho de liberdade e de autonomia”, deixando, porém, o poder da escolha para os delegados que vão escolher o novo presidente do partido fundado por Adelino Amaro da Costa e Freitas do Amaral.
Os candidatos à liderança do CDS são Abel Matos Santos, João Almeida, Filipe Lobo d’Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos e Carlos Meira.
O 28.º Congresso nacional, marcado para 25 e 26 de janeiro em Aveiro, vai eleger o sucessor de Assunção Cristas na liderança dos centristas, que decidiu deixar o cargo na sequência dos maus resultados nas legislativas de outubro de 2019 — 4,2% e cinco deputados.
// Lusa