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Livro sobre Marcelo aponta para segundo mandato

José Sena Goulão / Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa “não tem margem para ir embora no final do primeiro mandato” e, nas próximas eleições, quer ser o Presidente eleito com o “maior número de votos de sempre”, é defendido no livro.

O livro “Marcelo — Presidente todos os dias” foi escrito por Felisbela Lopes, investigadora na área do jornalismo, e Leonete Botelho, repórter do jornal Público, e é apresentado publicamente esta quinta-feira, em Lisboa.

No último capítulo do livro, que se debruça sobre o futuro, lê-se que “este Presidente, que distribui afetos por onde passa, que profere em público sucessivos votos de fidelidade aos portugueses e que se constitui como um ponto de equilíbrio da política portuguesa, não tem margem para ir embora no final do primeiro mandato”.

“Isso seria falhar o lugar na História que tanto ambiciona. Mas, continuar em jogo durante dez anos também comporta riscos, muitos”, acrescentam as autoras.

Já num capítulo sobre política interna, intitulado “cumplicidade e vigilância”, as autoras escrevem sobre a relação entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, apontando que as duas figuras “precisam um do outro para se acomodarem aos lugares que ocupam, partilham um modo semelhante de pensar tática e estrategicamente a política, são argutos nas pontes político-partidárias e empáticos no contacto com os cidadãos”.

“Marcelo aproxima Costa do centro político partidário, um espaço algo fugidio devido ao apoio parlamentar da esquerda, dando-lhe uma almofada de conforto em momentos críticos”, escrevem.

“Costa possibilita que, num contexto de polarização dos hemisférios esquerda-direita, Marcelo vá falando ao eleitorado de esquerda, permitindo-lhe capitalizar apoio popular neste quadrante, algo que lhe é mais necessário para atingir um desejo, nunca assumido publicamente: ser o Presidente eleito com maior número de votos de sempre”, referem.

Enquanto Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa entende que “deve garantir estabilidade à solução governativa inédita e, por isso, funciona quase como sendo parte dela”.

“Na verdade, o semipresidencialismo luso, com poderes definidos na Constituição, mas bastante flexíveis, agrada ao constituinte e constitucionalista Marcelo, que sacode as críticas por exacerbar as suas funções”, continuam as autoras, que acrescentam que é possível “encontrar nos seus antecessores momentos mais interventivos e disruptivos em relação ao Governo logo no primeiro mandato”.

Já este Presidente da República “ainda não passou a fase da doçura e promete manter-se assim”, garantindo “reiteradamente que não alterará o seu estilo”.

“Por isso, quando tem algum reparo a fazer, prefere fazê-lo no site, na promulgação das leis, ou extravasá-lo pela positiva, deixando que isso se perceba nos seus discursos. Reserva as palavras duras e claras para momentos-chave, como após os incêndios de outubro de 2017 ou o assalto a Tancos”, referem Felisbela Lopes e Leonete Botelho.

O livro elenca que “ainda a considerável distância do tiro de partida para as presidenciais” de 2021, o chefe de Estado “já lançou os dados e definiu as regras do jogo” e aponta que, “ao lançar-se numa recandidatura, Marcelo Rebelo de Sousa ambicionará fazer-se eleger com um número de votos nunca antes alcançável numa eleição presidencial”.

Para tal, “poderá contar com os votos do PSD” e também com os do CDS-PP, mas “à esquerda, sabe que PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes nunca se juntarão a si”.

Já quanto aos socialistas, “tudo estará em aberto”, podendo estar em cima da mesa “a apresentação de um candidato próprio, que provavelmente será desfeiteado nas urnas por um Marcelo favorito; ou o apoio a um candidato de direita que, embora provoque um certo dano reputacional, evitaria o afastamento precoce entre Belém e São Bento e pouparia os socialistas de uma previsível derrota eleitoral”, defendem.

Na opinião das autoras, no futuro “Marcelo precisa de ser mais do que um Presidente dos afetos que assumiu ser no seu primeiro mandato”.

“No segundo mandato terá de criar um outro modelo para fazer sentido uma evolução na continuidade. E nesse tempo deveria gerir melhor as suas aparições públicas, o comentário à atualidade noticiosa, a proximidade às pessoas e a sua relação com o Governo, com o parlamento e com os partidos políticos, para que a sua palavra mantenha a autoridade e não se esvaia em futilidades”, salientam.

Felisbela Lopes e Leonete Botelho rematam o livro indicando que é “de desafios que se construirá o futuro”, restando “saber se Marcelo Rebelo de Sousa estará preparado para ser Presidente em tempos de combate”.

// Lusa

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