Milhões de pessoas param de respirar enquanto dormem, o que pode ser muito perigoso. Há uma possível estranha razão para isto: línguas gordas.
Línguas gordas parecem piorar os sintomas da apneia obstrutiva do sono (AOS), pelo menos nos casos relacionados com a obesidade, de acordo com o estudo publicado este mês na revista científica American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.
A apneia do sono é uma condição que gera interrupção ou diminuição da respiração durante a noite. Quando ocorre a interrupção, o sistema nervoso tem de trabalhar com mais intensidade para o sangue chegar a todas as partes do corpo. Com isso, o ritmo dos batimentos cardíacos fica mais acelerado e os vasos também tendem a ficar contraídos. Este quadro eleva as probabilidades da pessoa de desenvolver problemas cardiovasculares em longo prazo, como hipertensão e arritmia cardíaca.
Pessoas com sobrepeso e obesas podem representar até 70% das pessoas com AOS. A perda de peso alivia de forma confiável os sintomas do distúrbio e, às vezes, resolve o problema completamente, de acordo com um estudo de 2006.
Porém, agora, os investigadores pensam que a maior parte dessa melhoria pode ser atribuída à redução da gordura da língua. “Ninguém realmente entende a relação da obesidade com a apneia do sono” e ninguém sabe muito sobre a gordura da língua, em geral, disse Richard Schwab, autor sénior do novo estudo e chefe da Divisão de Medicina do Sono da Universidade de Escola de Medicina Perelman da Pensilvânia.
Um estudo de 2007 descobriu que pessoas com maiores índices de massa corporal (IMCs) acumulam uma percentagem maior de gordura nas suas línguas do que pessoas com IMCs mais baixos. A gordura acumula-se principalmente na parte de trás da língua, o que pode aumentar a probabilidade do tecido mole bloquear a garganta durante o sono.
Durante um episódio de AOS, os tecidos moles da garganta entram em colapso e bloqueiam parcial ou completamente o fluxo de oxigénio pelas vias aéreas superiores do corpo, fazendo com que a pessoa pare de respirar periodicamente, ofegue por ar, ronque alto e desperte do sono, de acordo com Stanford Health Care.
Para descobrir como a acumulação de gordura na língua se relaciona com os sintomas da apneia do sono, Schwab e os co-autores reuniram 67 pessoas com AOS e IMC maiores do que 30,0, o que é considerado obeso. Através de modificações no estilo de vida ou cirurgia, os participantes do estudo perderam cerca de 10% do seu peso corporal total ao longo de seis meses.
Os investigadores realizaram exames de ressonância magnética da garganta e do abdómen dos participantes antes e após a perda de peso, com o objetivo de observar como a estrutura das suas vias aéreas mudou. A equipa também avaliou a gravidade da apneia do sono dos participantes antes e depois da perda de peso.
Os índices de apneia do sono dos participantes melhoraram em mais de 30% após a perda de peso – em grande parte, graças às suas línguas emagrecidas. Os exames de ressonância magnética revelaram que a língua de cada participante perdeu volume significativo após a perda de peso da pessoa e, quanto mais magra a língua, mais os seus sintomas melhoraram. Apenas o tamanho da língua correlacionou-se com o alívio da apneia do sono.
Vários músculos ao longo das paredes da garganta e um usado para mastigar também perderam volume, o que pode ter resultado de uma redução na massa muscular ou inflamação. Embora essas alterações tenham eliminado as vias aéreas superiores, não foram associadas à melhoria significativa dos sintomas. A língua foi a principal causa do distúrbio.
Os cientistas ainda não sabem exatamente de que forma a língua aumentada se move para bloquear as vias aéreas superiores.
Entender o papel da gordura da língua na AOS pode abrir portas para novos tratamentos. Os cientistas sugeriram que intervenções destinadas a promover a perda geral de peso (incluindo dietas), terapias direcionadas com o frio (congelar as células de gordura da língua) e exercícios destinados a tonificar as vias aéreas superiores poderiam ajudar a reduzir a gordura da língua em pacientes com apneia do sono.