A recente decisão de Von der Leyen de assinar um acordo com o Mercosul à revelia da França está suscitar críticas sobre o seu estilo unilateral. Os líderes europeus pediram ajuda a Costa para reparar a sua relação com a Comissão.
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está em maus lençóis com os diplomatas e os Estados-Membros da União Europeia devido ao seu estilo unilateral de tomada de decisões, exemplificado recentemente pela sua decisão de assinar um acordo comercial controverso com o bloco sul-americano Mercosul.
O acordo, ao qual a França se opôs veementemente devido ao impacto nos agricultores, causou uma frustração generalizada entre os dirigentes da UE, levantando questões sobre a abordagem de Von der Leyen e o equilíbrio de poderes no seio do bloco.
A decisão de Von der Leyen de avançar com o acordo com o Mercosul sem um consenso alargado é vista como uma aposta ousada, mas arriscada. Os críticos argumentam que reflete a sua tendência para contornar os quadros tradicionais de colaboração.
Um diplomata da UE ouvido pelo Politico descreveu a medida como “quase uma humilhação pública” para a França, que receia que o acordo possa alimentar uma reação interna contra o sistema.
Para atirar ainda mais achas para a fogueira, o Presidente francês Emmanuel Macron, um opositor ferrenho do acordo com o Mercosul, não participará na cimeira da UE, onde se espera que a questão domine as discussões informais.
Embora a ausência de Macron esteja oficialmente relacionada com a sua deslocação a Mayotte, atingida por um ciclone, é também um sinal das relações tensas entre a Comissão Europeia e os principais Estados-Membros.
Enquanto von der Leyen procura solidificar o seu legado, enfrenta uma pressão crescente para garantir acordos críticos, incluindo o Quadro Financeiro Plurianual (QFP) da UE. Este acordo orçamental de sete anos deverá ser mais polémico do que nunca, com o bloco a lutar para financiar os custos crescentes da defesa e a transição ecológica.
Os diplomatas alertam para o facto de que, para se chegar a um consenso sobre o QFP, von der Leyen terá de reparar as relações com Estados-Membros mais influentes como a França e a Alemanha — que também ficou irritada com a sua decisão de cobrar taxas aos carros elétricos chineses.
O eurodeputado francês Christophe Grudler alerta para o facto de o estilo unilateral de von der Leyen poder minar o espírito de colaboração da UE. “Ela tem de jogar a carta do consenso, não chocar de frente com este ou aquele país”, sublinhou Grudler.
Para resolver estes choques diplomáticos, há um nome na ponta da língua: António Costa. De acordo com dois diplomatas europeus, nas reuniões que Costa teve antes de tomar posse, alguns líderes de Estados-membros pediram-lhe para recalibrar o equilíbrio do poder entre a Comissão e os países.
Apesar de ter tido uma vários conflitos com o antecessor de Costa no Conselho Europeu, Charles Michel, os diplomatas estão otimistas de que o pragmatismo de Costa e a sua boa relação com von der Leyen serão úteis para sarar a relação entre a Comissão e os Estados-membros.
Quando os líderes da UE se reunirem para a cimeira, espera-se que as discussões nos corredores se centrem menos na agenda formal e mais na questão dos limites de von der Leyen. A sua capacidade de navegar neste equilíbrio precário entre uma liderança decisiva e a apoio dos Estados membros determinará não só o sucesso do seu atual mandato, mas também o futuro rumo da União Europeia.