De terrorista a líder “pragmático” da Síria. Al-Jolani mudou de nome e já não tem a cabeça a prémio

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O líder dos rebeldes do HTS, Ahmad al-Charaa, que tomaram o poder de Bashar al-Assad na Síria.

O líder dos rebeldes do HTS, Ahmad al-Charaa, que tomaram o poder de Bashar al-Assad na Síria.

Os EUA suspenderam o prémio pela “cabeça” de Abu Mohammad al-Jolani, o nome de guerra do líder dos rebeldes do HTS, Ahmad al-Charaa, que tomaram o poder de Bashar al-Assad na Síria.

Abu Mohammad al-Jolani é um dos nomes que está na “lista negra” dos EUA como “terrorista”. Mas o Departamento de Estado norte-americano para o Médio Oriente suspendeu a recompensa de 9,5 milhões de euros pela “cabeça” do homem que se tornou no novo líder da Síria.

A decisão foi tomada após um encontro “positivo” em Damasco, a capital síria, entre uma delegação norte-americana e Ahmad al-Charaa, o novo líder “pragmático” da Síria, como já é definido depois de ter abandonado o nome de guerra Abu Mohammad al-Jolani.

Al-Charaa é o líder do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), um grupo radical islâmico que liderou a coligação rebelde que depôs o Presidente sírio Bashar al-Assad a 8 de Dezembro passado.

Esta coligação rebelde é classificada como “terrorista” por vários países, incluindo os Estados Unidos.

Mas, para já, dá-se um sinal de esperança na liderança de Al-Charaa e a chefe do Departamento de Estado norte-americano para o Médio Oriente, Barbara Leaf, revelou que os EUA não vão “avançar com a oferta de recompensas pela justiça, que está em vigor há vários anos”, pelo líder sírio.

“Resultados serão positivos, se Deus quiser”

O primeiro contacto entre Washington e as novas autoridades sírias desde o início da guerra civil no país, em 2011, foi descrito à agência noticiosa francesa AFP como “positivo” por um responsável da Síria.

“Os resultados serão positivos, se Deus quiser”, disse o responsável sírio à AFP, sob condição de anonimato.

Um responsável norte-americano também descreveu o encontro como “bom e útil” em declarações ao diário sírio Al-Watan.

A 14 de Dezembro passado, altos representantes dos EUA, da França, da Turquia e de oito países árabes, bem como das Nações Unidas e da União Europeia (UE), participaram numa reunião convocada pelo rei jordano Abdullah II para chegar a acordo sobre uma posição unificada relativamente à Síria pós-Bashar al-Assad.

As conversações em Damasco centraram-se nos “princípios acordados pelos Estados Unidos e os seus parceiros em Aqaba” na Jordânia, nomeadamente “o apoio a um processo político inclusivo, liderado pela Síria, que resulte num governo representativo que respeite os direitos de todos os sírios“, referiu na rede social X a embaixada norte-americana na Síria.

“Os acontecimentos regionais, a intenção da Síria de adoptar uma política de boa vizinhança e a importância de esforços conjuntos na luta contra o terrorismo” foram igualmente discutidos, segundo a embaixada.

EUA dispostos a levantar sanções económicas

Leaf também se reuniu com membros da sociedade civil em Damasco, “para ouvir em primeira mão a sua visão para o futuro do seu país e como os Estados Unidos podem ajudar”, informou também a embaixada.

Os Estados Unidos afirmaram na terça-feira estarem dispostos a levantar as sanções económicas que impuseram ao governo de Assad durante anos.

A delegação irá também solicitar informações sobre o destino dos cidadãos norte-americanos desaparecidos durante o antigo regime.

Os EUA seguiram a mesma posição da França, da Alemanha, do Reino Unido e da ONU, que já haviam enviado diplomatas a Damasco para estabelecer contactos com as novas autoridades do país, conscientes do risco de fragmentação e do ressurgimento do grupo radical Estado Islâmico, que nunca foi completamente erradicado na Síria.

Rebeldes garantem afastamento do radicalismo islâmico

Na quinta-feira, centenas de pessoas manifestaram-se em Damasco a favor da democracia e dos direitos das mulheres no país.

Ao mesmo tempo, milhares de pessoas manifestavam-se em Qamichli, no nordeste do país, em apoio às forças curdas que tentam repelir as ofensivas dos combatentes apoiados pela Turquia, um aliado do novo poder sírio.

A comunidade curda teme perder a autonomia limitada que conquistou desde o início da guerra civil que fez mais de meio milhão de mortos e provocou uma vaga seis milhões de refugiados.

O HTS, um antigo ramo sírio da Al-Qaeda, afirmou ter-se afastado do radicalismo islâmico e procura tranquilizar a população numa altura em que, segundo a ONU, o país necessita urgentemente de ajuda humanitária.

Al-Sharaa tem dado sinais de moderação em entrevistas a vários órgãos internacionais, realçando que o país está “farto da guerra” e que não constitui “uma ameaça para o mundo”.

Numa entrevista à BBC, onde aparece com roupas civis, garantiu que acredita na educação para as mulheres, realçando os números que revelam que elas estão em maioria no Ensino Universitário em algumas zonas da Síria.

Contudo, tratou de realçar que não lhe caberá a ele definir uma nova Constituição para o país, frisando que será esse documento a definir a Lei a aplicar na Síria.

A população continua receosa e o mundo também teme que os novos líderes da Síria assumam uma governação islâmica da linha mais dura, como aconteceu com os talibãs no Afeganistão.

Apelo a cessar-fogo entre turcos e curdos sírios

A diplomata norte-americana apelou também a um cessar-fogo entre os combatentes pró-turcos e os curdos sírios nos arredores da cidade emblemática de Kobane, no norte da Síria, e disse estar a trabalhar para encontrar uma “transição gerida” para o papel das Forças Democráticas Sírias (SDF), uma aliança armada liderada pelos curdos.

“Estamos a trabalhar energicamente em discussões com as autoridades turcas e com as SDF. Acreditamos que a melhor solução é um cessar-fogo em torno de Kobane”, realçou Leaf.

Os curdos, cujo principal apoiante são os EUA, estabeleceram uma administração autónoma no nordeste da Síria, que tem sido palco de ofensivas da Turquia, que considera as facções curdas como “terroristas” devido às suas ligações ao grupo armado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

“Discutimos com os nossos parceiros curdos e o que tenho ouvido de forma consistente é que os sírios querem que todas as comunidades sírias se considerem sírias“, afirma ainda a diplomata norte-americana.

ZAP // Lusa

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