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Líder do CDS justifica antecipação do congresso e lembra que “não é tempo de insistir nos erros do passado”

Rodrigo Antunes / Lusa

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos

O presidente do CDS-PP justificou a antecipação do congresso defendendo que o partido não pode perder tempo “em guerras internas” e tem de preparar as eleições legislativas, e considerou que os opositores “estão em campanha há muito tempo”.

Numa declaração aos jornalistas na sede do CDS, em Lisboa, depois de se dirigir ao Conselho Nacional, que está hoje reunido à porta fechada por videoconferência, Francisco Rodrigues dos Santos foi questionado sobre as críticas do candidato à liderança Nuno Melo, que falou em falta de democraticidade interna da direção ao propor a antecipação do 29.º congresso para o final de novembro.

“Todos aqueles que se assumem portistas, que se dizem fiéis sucessores de Paulo Portas, hoje criticam por usar rigorosamente a mesma fórmula que Paulo Portas usou quando era presidente do partido”, afirmou, acusando os críticos de “discrepância e incoerência” no discurso.

Considerando que se tem “criado artificialmente uma divisão entre portistas e não portistas”, Rodrigues dos Santos disse sentir-se “mais próximo de Paulo Portas do que aqueles que se apregoam portistas”.

O líder, e recandidato, respondeu que decidiu “antecipar este congresso precisamente com os mesmos motivos” do antigo presidente, argumentando que “quatro meses é muito tempo em política”.

Não podemos desperdiçá-lo em guerras internas, temos que preparar o partido para o próximo ciclo político que tem pela frente, que são as eleições legislativas e levar a marca do CDS ao Governo de Portugal”, considerou.

Francisco Rodrigues dos Santos recusou também retirar espaço aos opositores internos, e afirmou que “estão em campanha há muito tempo”.

“Eu estive em campanha pelo país só com um único propósito, fazer com que o CDS saísse mais forte e maior em urnas das eleições autárquicas, mas cruzei-me com muita gente que em vez de estar a fazer campanha pelo nosso partido, esteve a fazer campanha para o congresso”, criticou.

Apontando que seus opositores estão a fazer campanha para o derrotarem no congresso desde o dia em que foi eleito, em janeiro do ano passado, disse que “não será certamente por falta de tempo, de disponibilidade e de meios que não farão oposição e não tentarão” derrubá-lo como líder do partido.

“Esse argumento para mim não colhe”, considerou.

Sobre os resultados nas eleições autárquicas, o líder centrista afirmou que, do ponto de vista dos critérios que definiu, como manter a liderança das seis câmaras, conquistar municípios à esquerda em coligação e eleger mais autarcas, “todos foram atingidos e superados”, o que levou o líder a falar no “melhor resultado das últimas décadas”.

Indicando estar “muito confortável com os resultados que o partido teve”, o democrata-cristão recusou “faltar à verdade e aos factos”.

“Eu nunca falei em percentagem de votos nem número de votos, falei sempre em objetivo de exercício do poder, e isto foi alcançado”, defendeu, falando num “ritmo de crescimento” face às últimas autárquicas, em 2017, e voltando a citar “a fórmula” de Paulo Portas, que deixou a presidência do CDS-PP em 2016, para dizer que o CDS deve contar autarcas eleitos e não percentagens.

O presidente criticou ainda a “tortura de números” e “contabilidade criativa” por parte da oposição.

Francisco Rodrigues dos Santos afirmou também não perceber “como é que a equipa do Nuno Melo [que contestou os resultados apresentados pelo líder] consegue ter dados e apurá-los antes da direção do partido” e apontou que “seria bom” que o opositor “pudesse provar os números dos autarcas eleitos em 2017”, indicando que a secretaria-geral encontrou “muitas irregularidades em mandatos que são dados como sendo do CDS que não correspondem”.

“Não é tempo de voltar a insistir nos erros do passado”

O presidente do CDS-PP considerou que “não é tempo” de o partido “voltar a insistir nos erros do passado”, mas de “olhar para a frente”, e que o futuro se faz de novas ideias e protagonistas.

“Não queremos olhar para trás, queremos olhar para a frente”, indicou, considerando que “o futuro faz-se de novas ideias, de protagonistas que refresquem a direita”.

Considerando que se vive um “tempo de futuro, tempo de anseio por novos rotos, protagonistas e ideias”, o presidente afirmou que “a política faz-se a cores e não a preto e branco”.

Eu estou absolutamente seguro que sou a pessoa certa para continuar a atingir os objetivos, e estou certo que juntos vamos conseguir reerguer este partido apesar da herança que recebemos”, salientou também, realçando que a estratégia que seguiu ao longo do mandato “deu frutos” e “permitiu ao partido crescer e afirmar-se no exercício do poder regional e autárquico”.

Indicando que cumpriu o seu dever, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu inclusivamente que “ninguém, nas mesmas condições, era capaz de fazer melhor” do que a sua direção.

Por isso, disse possuir, “no atual ciclo político nacional e no atual momento do CDS, melhores características pessoais e políticas” do que o seu opositor, o eurodeputado Nuno Melo.

“Estou empenhado em reconstruir o partido há dois anos, desde que fui eleito, não me lembrei agora num momento que é para alguns mais propício de me disponibilizar para servir o meu partido”, criticou.

Dizendo ter “um rumo para o partido com pessoas e ideias”, o presidente frisou que o CDS-PP “nunca será um partido de grupo”.

“Agora é momento certo de prepararmos legislativas, unir o partido em torno da minha liderança para derrotar a esquerda no governo do país e permitir ao CDS ser também alternativa de governo”, continuou.

Estabelecendo como um dos objetivos “entregar um partido robusto e rejuvenescido às novas gerações”, Rodrigues dos Santos disse querer “contar com todos, os de antigamente, os de sempre e os que se possam vir a juntar” ao CDS para “unir o partido” e levar a que fale “a uma só voz”.

Nuno Melo apresentou a sua candidatura à liderança do partido no sábado, no Porto, com cerca de centena e meia de convidados presentes, entre os quais o líder da bancada parlamentar centrista, Telmo Correia, o ex-deputado Hélder Amaral e os deputados Cecília Meireles, Pedro Morais Soares e João Almeida.

O presidente da distrital de Braga do CDS-PP e antigo vice-presidente nacional justificou que a sua candidatura é “uma obrigação e um imperativo de consciência” face à “progressiva perda de relevância” do partido, propondo-se “unir” e “chamar os que estão afastados”.

Questionado sobre o apoio do líder parlamentar a Nuno Melo, Francisco Rodrigues dos Santos disse que vê “com normalidade e espírito democrático” e que “não é surpresa” para si “nem para ninguém”.

O Conselho Nacional do CDS-PP está reunido por videoconferência e à porta fechada desde cerca das 11:00, para analisar os resultados das eleições autárquicas e marcar o 29.º congresso do partido, que será antecipado, e deverá realizar-se em 27 e 28 de novembro.

As reuniões magnas centristas decorrem de dois em dois anos e se esta acontecesse na data prevista seria no final de janeiro ou início de fevereiro de 2022.

ZAP // Lusa

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