O palácio, que incluiu o único fresco conhecido de Caravaggio num dos tectos, foi avaliado em 471 milhões de euros, mas ainda não atraiu compradores. O leilão foi remarcado e o preço vai ter um corte de 20%.
A residência da família Boncompagni Ludovisi em Roma foi a leilão na tarde desta terça-feira. Mas esta não é uma casa qualquer, já que conta com um fresco de Caravaggio no tecto de uma divisão — o único que é conhecido.
A avaliação do leilão era de 471 milhões de euros e a venda foi decidida por um tribunal romano em Outubro como forma dos herdeiros de Nicolò Boncompagni Ludovisi liquidarem as dívidas fiscais, depois da sua morte em 2018, e para que resolvessem a disputa pelos bens.
O testamento do marido atribuía a Rita o direito de usufruir do palácio enquanto fosse viva e que, caso este fosse vendido, que o dinheiro da compra fosse dividido entre ela e os três enteados. No entanto, os filhos contestaram o testamento do pai e o tribunal decidiu impor a venda da propriedade para acabar com o conflito.
Correm boatos na imprensa italiana de que uma grande lista confidencial de bilionários foi convidada a participar e de que apenas o acesso ao leilão implicaria um depósito de 10% da licitação de base de 353 milhões de euros, correspondentes a 75% do preço de referência proposto pelo tribunal, para pagar os restauros.
O multibilionário e fundador da Microsoft Bill Gates, o sultão do Brunei Muda Hassanal Bolkiah ou Rita Jenrette, a última mulher de Nicolò Boncompagni Ludovisi, eram apontados como possíveis compradores.
Mas a venda desta casa do século XVI, que estava marcada para as 15 horas de hora, não atraiu qualquer oferta e até já foi remarcada. O preço vai ter um corte de 20% e já se antecipava que houvesse algumas dificuldades na venda, já que as obras de arte incluídas, como o Caravaggio avaliado em 350 milhões de euros, são bens classificados e não podem ser retirados da residência.
Alessandro Zuccari, professor de História da Universidade de Sapienza, em Roma, que acompanhou a avaliação do mural, não ficou chocado com a falta de ofertas, nota o The Guardian.
“Não me surpreende que não tenham havido ofertas, de facto ficaria chocado de um comprador tivesse aparecido. O preço é demasiado alto. Vamos ver o que acontece em Abril, mas duvido que apareça alguém na altura — o que é que alguém como Bill Gates faria com a Villa Aurora, especialmente com todos os custos extra?”, afirma
Muitos italianos querem proteger este património cultural e criaram uma petição no site change.org para que o Ministro da Cultura, Dario Franceschini, reclame o direito de preferência e use os fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência para comprar a mansão e “evitar que se venda outro pedaço de Itália”. O texto já conta com mais de 35 mil assinaturas, aponta o Público.
Segundo a imprensa italiana, Franceschini escreveu ao primeiro-ministro Mario Draghi e ao Ministro da Economia, Daniele Franco, para os tentar sensibilizar para o interesse público da compra, mas sem sucesso, pelo menos até agora. A compra pelo preço original seria cerca de um quarto do orçamento anual para a Cultura em Itália, mas pode ser que com o corte de 20%, o Governo italiano reconsidere.
A lei define também que o executivo só pode exercer o direito de preferência após a aquisição do bem por um particular, tendo um prazo de 60 dias para igual o valor pago pela compra, que (ainda) não aconteceu.
Rodeada de grandes muralhas, a Villa Aurora fica perto da Via Veneto, no centro de Roma, e é tudo o que resta de um retiro criado pelo Cardinal Francesco Maria Del Monte, sobrinho do Papa Gregório XV.
O mural Jupiter, Neptune and Pluto de Caravaggio foi comissionado pelo Cardinal em 1957 para adornar o tecto do seu pequeno laboratório de alquimia. Do imóvel principal, o Palazzo Grande, resta apenas a fachada e a escadaria originais, que foram incorporados no edifício oitocentista onde viveu a primeira rainha consorte da Itália unificada, Margarida de Sabóia, que emprestou o nome à famosa pizza.
O tecto de Caravaggio é de longe a peça mais importante do palácio, mas o seu nome deve-se a um fresco da deusa Aurora pintado pelo bolonhês Guercino. A família nobre dos Ludovisis, que tinha ligações ao Papado, comprou a propriedade em 1621.