A lei a Amnistia propõe que os crimes cometidos durante a crise no país não sejam investigados. A medida já libertou 50 detidos.
O Governo da Nicarágua aprovou na segunda-feira a controversa Lei da Amnistia, que a oposição acusa de servir para encobrir os crimes cometidos pelo regime no âmbito dos protestos contra o Presidente Daniel Ortega.
No mesmo dia, e com base nessa mesma lei, o Ministério do Interior ordenou a libertação de 50 pessoas que estavam detidas “por crimes contra a segurança e a paz públicas” e que a oposição reconhece como presos políticos.
O Comité para a Libertação dos Presos Políticos da Nicarágua opôs-se de imediato e acusou Ortega de aprovar “a amnistia para encobrir os crimes cometidos pela polícia e paramilitares do regime”, no âmbito dos protestos.
O Parlamento, controlado pelo regime, aprovou este sábado, com caráter de urgência, a lei que concede “ampla amnistia a todas as pessoas que tenham participado nos eventos ocorridos em todo o território nacional desde 18 de abril de 2018 até hoje”. A lei propõe que as autoridades não comecem a investigar os delitos cometidos durante a crise no país e que se abstenham de executar sentenças.
A iniciativa foi rejeitada pela oposição nicaraguense por não oferecer justiça às vítimas dos protestos contra o Governo e porque se baseia na tese de que as manifestações foram uma tentativa de golpe de Estado.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também se pronunciou contra a lei, salientando que “o Governo tem o dever de garantir a justiça das vítimas”. “Mais de 300 pessoas foram mortas, duas mil pessoas ficaram feridas, centenas foram detidas nos protestos contra o Governo e 700 foram processadas”, resumiu Michelle Bachelet numa declaração.
Para Bachelet, “amnistias por violações graves dos direitos humanos são proibidas pelo direito internacional. Geram impunidade, o que pode levar a mais violações”.
De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a crise na Nicarágua deixou pelo menos 325 mortos desde abril de 2018, embora os órgãos de comunicação locais elevem o número para 594 e o Governo só reconheça 199.
ZAP // Lusa