Leão XIII caminhou para Francisco correr. Agora, Leão XIV “quer continuar o papel” que o seu antecessor argentino desempenhou no campo da justiça social, dizem reverendos amigos e colegas de casa.
O conclave decidiu: Robert Prevost, de Chicago, é o novo Papa — o primeiro americano a ocupar o cargo. Escolheu o nome Papa Leão XIV, uma decisão que deu logo que falar esta quinta-feira.
Embora o novo Sumo Pontífice, de 69 anos, não tenha explicado a escolha do nome durante o seu primeiro discurso, esta está a ser vista dentro da Igreja como uma homenagem ao Papa Leão XIII, “O Papa dos Trabalhadores”, e ao seu legado na luta pela justiça social e apoio à classe trabalhadora.
Nascido Gioacchino Pecci em 1810, na região italiana de Carpineto, foi eleito para ser uma figura de transição, após o longo reinado — e o último de um papa — de Pio IX.
É visto como um revolucionário na Igreja Católica, pela sua postura firme, inédita, contra a injustiça económica. Disse, por exemplo, que “defraudar qualquer pessoa do seu salário” é “um grande crime que clama pela ira vingativa do Céu”, um passo fundamental na doutrina social católica.
O Papa mais antigo registado em vídeo acabou por servir por 25 anos — o terceiro papado mais longo da história da Igreja, depois dos de Pio IX e João Paulo II.
Conhecido pela sua encíclica de 1891, Rerum Novarum — “Sobre a condição dos operários” — Leão XIII era conhecido por defender os direitos dos trabalhadores, apoiar a formação de sindicatos e denunciar a exploração. Nessa doutrina, falou sobre as tensões da Revolução Industrial, o trabalho versus capital, a exploração dos trabalhadores e a ascensão dos movimentos socialistas que ameaçavam corroer a autoridade moral da Igreja e a instituição da propriedade privada. Mas nela também condenou os abusos do capitalismo industrial.
“Os direitos, em que eles se encontram, devem ser religiosamente respeitados e o Estado deve assegurá-los a todos os cidadãos, prevenindo ou vingando a sua violação. Todavia, na proteção dos direitos particulares, deve preocupar-se, de maneira especial, com os fracos e os indigentes“, lê-se na histórica carta.
Citou “a vasta expansão das atividades industriais”, “as enormes fortunas de alguns poucos indivíduos” e “a pobreza extrema das massas” como sinais de uma ordem social em crise. Dizem os especialistas em Vaticano que procurou sempre um equilíbrio entre manter a ortodoxia doutrinária e, ao mesmo tempo, abrir caminhos para o diálogo entre a Igreja e um mundo em rápida modernização.
Um nome associado ao “anti-americanismo”
Por outro lado, a escolha do nome de Leão XIV, o primeiro papa norte-americano acaba por ser algo irónica.
Leão XIII era um crítico do “americanismo”, um termo que usava para descrever os esforços para modernizar ou liberalizar a doutrina da Igreja em consonância com os valores contemporâneos, apesar de ser defensor das reformas sociais.
Numa carta de 1899 aos bispos dos Estados Unidos, Leão XIII advertiu contra permitir que a cultura nacional influenciasse a autoridade eclesiástica, insistindo que a Igreja deveria manter a consistência universal.
Leão XIII exortou os bispos americanos a “repudiar e condenar [o americanismo] como sendo extremamente prejudicial para eles próprios e para o seu país”.
Novo papa “quer continuar o que Francisco fez”
Amigo do novo Papa, o reverendo Art Purcaro acredita que Prevost escolheu este nome para sinalizar um compromisso com o avanço da missão social da Igreja. Prevost “quer continuar o papel que Papa Francisco” desempenhou no campo da justiça social, admite o reverendo à CNN.
No seu primeiro discurso, esta quinta-feira, depois de o fumo branco levar a multidão à loucura, Leão XIV disse que quer uma “igreja que constrói pontes e diálogo” e que esteja “sempre aberta a receber todos“.
O reverendo John Lydon já morou com o novo Papa. Também ele acredita que o nome Leão foi escolhido “para fazer referência ao primeiro papa que nos deu a doutrina social católica da Igreja”.
O que sabemos (e o que não sabemos) sobre Leão XIV
Leão XIV serviu como bispo em Chiclayo, no Peru, e ocupou o influente cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, onde supervisionou as nomeações episcopais em todo o mundo.
Nascido em Chicago, tem ascendência espanhola e nacionalidade peruana. Feito cardeal pelo antecessor Francisco, pertence à Ordem de Santo Agostinho e é considerado um progressista.
No entanto, é ainda um mistério a forma como o Papa Leão XIV, considerado mais centrista do que Francisco, abordará questões polémicas, como os direitos LGBTQ+ e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em 2012, o agora Leão XIV disse ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, recorda o The New York Times: “lamentou que os media ocidentais e a cultura popular promovessem ‘simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o Evangelho’. Citou o ‘estilo de vida homossexual’ e ‘famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos'”, recorda o jornal norte-americano.
Foi nas Encíclicas de Leão XIII que Salazar e o Estado Novo foram buscar influência ideológica e basearam as suas políticas, sobre o actual Papa Leão XIV ainda é muito cedo para se perceber e analisar qual será o rumo do seu Papado, até agora sabe-se que é um forte apoiante do Presidente Trump.