Uma equipa de investigadores criou moléculas potentes derivadas do ADN de lamas que têm como alvo estirpes ocultas do VIH.
Estas moléculas, conhecidas como nanocorpos, estão a revelar-se muito promissoras na luta contra o VIH-1, a forma mais comum do vírus da SIDA.
O estudo foi publicado este mês na revista Advanced Science. Os cientistas utilizaram nanocorpos derivados dos lamas para neutralizar uma vasta gama de estirpes do VIH-1.
O VIH desenvolveu mecanismos para escapar ao sistema imunitário humano, o que torna difícil para os anticorpos convencionais encontrarem e atacarem o vírus.
“Os anticorpos convencionais são volumosos, pelo que é difícil encontrarem e atacarem a superfície do vírus. Estes novos anticorpos podem fazer isso de uma forma mais fácil”, explicou o autor principal do estudo, Jianliang Xu, citado pelo Futurity.
Nos últimos 15 anos, os cientistas têm vindo a explorar anticorpos de animais da família dos camelídeos, como os lamas, devido à sua forma e características únicas. Estes anticorpos são mais eficazes na identificação e neutralização de objetos estranhos como o VIH.
Os nanocorpos, que são o foco da investigação de Xu, são fragmentos de anticorpos concebidos com cerca de um décimo do tamanho dos anticorpos normais.
No seu estudo, os investigadores imunizaram lamas com uma proteína especialmente concebida para produzir nanocorpos neutralizantes. A equipa de Xu identificou então nanocorpos que visam locais vulneráveis do vírus. Ao criar estes nanocorpos num formato de tandem triplo, os cientistas conseguiram uma grande eficácia, neutralizando 96% de um grupo de estirpes de VIH-1.
Uma análise mais aprofundada revelou que estes nanocorpos imitam o reconhecimento do recetor CD4, um interveniente crucial na infeção pelo VIH. Para aumentar a sua potência, os nanocorpos foram fundidos com um anticorpo amplamente neutralizante (bNAb).
“Em vez de desenvolver um cocktail de anticorpos, agora podemos criar uma única molécula capaz de neutralizar o VIH”, elucidou Xu. “Estamos a trabalhar com um nanocorpo amplamente neutralizante que pode neutralizar mais de 90% das estirpes de VIH em circulação. Quando combinado com outro bNAb, que também neutraliza cerca de 90%, juntos podem neutralizar perto de 100%”.
“Estes nanocorpos são os melhores e mais potentes anticorpos neutralizantes até à data, o que considero muito promissor para o futuro da terapêutica do VIH e da investigação de anticorpos. Espero que um dia estes nanocorpos sejam aprovados para o tratamento do VIH”, acrescentou o coautor do estudo, Payton Chan.