Uma equipa de cientistas descobriu vacinas contra a varíola usadas nos Estados Unidos, durante a Guerra Civil, e usou as estirpes do vírus para reconstruir o seu genoma.
“A erradicação bem-sucedida da varíola via vacinação mostra a importância crucial que essa prática teve na história da humanidade”, diz a líder da equipa de investigadores, Ana Duggan, citada pela New Scientist.
O vírus da varíola, cujo único reservatório era o ser humano, é transmitido por gotas de saliva, aerossóis e, em menor grau, por roupas contaminadas. O risco de morte após contrair a doença era de cerca de 30%, sendo superior em bebés. Entre os sobreviventes, as sequelas mais comuns eram a extensa cicatrização da pele e cegueira.
A vacina contra a varíola foi desenvolvida no fim do século XVIII, quando um médico britânico descobriu que a inoculação do vírus da varíola da vaca protegia os humanos. Em maio, celebraram-se 40 anos desde a erradicação oficial do vírus, em 1980.
Antes da vacinação, a população praticava a variolização, uma prática que envolvia infetar pessoas com vírus relacionados para induzir um caso mais brando de doença que os inoculasse contra a varíola. Isto geralmente era feito através da aplicação de pus ou crostas infetadas num corte na pele.
Duggan e os seus colegas analisaram cinco kits de vacinação usados por médicos na região da Grande Filadélfia, em meados do século XIX. Os kits continham lancetas, caixas com crostas e pequenas placas para misturar o fluido que era recolhido das bolhas de pessoas infetadas.
Foi através das crostas e fluido das bolhas que os cientistas conseguiram reconstruir o genoma deste vírus histórico. Os investigadores recorreram a um algoritmo de computador e a uma sequência genética de um vírus intacto como referência. Os resultados do estudo foram publicados esta segunda-feira na revista científica Genome Biology.
Duggan explica que se verificou uma redução na diversidade das estirpes de varíola durante o século XX, algo que “quase certamente foi uma resposta à vacinação generalizada”.