Os Estados Unidos obtiveram, esta quarta-feira, junto da justiça britânica, uma extensão do seu recurso contra a recusa de extraditar o fundador do portal WikiLeaks, que querem julgar por divulgação maciça de documentos.
A audiência de mérito do caso foi marcada para 27 e 28 de outubro.
Em janeiro, a juíza britânica Vanessa Baraitser rejeitou o pedido de extradição apresentado por Washington devido ao risco de suicídio do australiano, de 50 anos, que pode ser condenado a 175 anos de prisão nos Estados Unidos.
Segundo apoiantes de Julian Assange, o recurso concedido aos Estados Unidos estava inicialmente limitado a “questões técnicas”.
Mas depois de uma audiência processual no Supremo Tribunal de Londres, esta quarta-feira, os magistrados britânicos concederam a Washington uma vitória, ao estender o âmbito do recurso, depois de os EUA terem posto em causa a fiabilidade de um especialista que testemunhara a favor do fundador do WikiLeaks.
Em representação dos Estados Unidos, a advogada Clair Dobbin argumentou que a magistrada não “tinha avaliado o peso” dos elementos apresentados por um especialista que concluiu que Assange não apresentava risco de suicídio.
Em vez disso, baseou-se em elementos apresentados pelo especialista psiquiatra de Assange, Michael Kopelman, que admitiu ter enganado a justiça ao “esconder” o facto de o seu cliente se ter tornado pai enquanto esteve refugiado na embaixada do Equador em Londres.
Segundo o advogado de Assange, Edward Fitzgerald, o professor Kopelman não revelou a verdadeira natureza das relações de Assange com a sua advogada Stella Moris, que se tornou sua companheira e mãe de dois filhos concebidos com Assange, devido à “situação humana” em que ela se encontrava na altura – a isso acrescendo temor quanto à segurança das duas crianças e de Julian Assange, acrescentou.
O juiz Tim Holroyde sublinhou que a justiça deveria “ser capaz de responder pela imparcialidade de um perito”, estimando, em consequência, “defensável que uma consideração mais pormenorizada e crítica pudesse ter sido apresentada para a razão pela qual a reação humana compreensível [do professor] tivesse resultado num relatório enganoso”.
No final da audiência, Stella Moris, em lágrimas, declarou que a vida de Julian Assange estava “ameaçada de forma permanente” há dez anos: “É a nossa vida, temos o direito de existir. Que este pesadelo termine de uma vez por todas”, disse.
Assange foi detido pela polícia britânica em abril de 2019, depois de ter passado sete anos recluso na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou quando estava em liberdade sob fiança, por temer uma extradição para os Estados Unidos ou para a Suécia, onde era alvo de uma acusação de violação que foi posteriormente abandonada.
O australiano, apoiado por muitas organizações de defesa da liberdade de imprensa, incorre nos Estados Unidos num total de 175 anos de prisão por ter divulgado, a partir de 2010, mais de 700 mil documentos secretos sobre as atividades militares e diplomáticas norte-americanas, nomeadamente no Iraque e no Afeganistão.
Durante a audiência desta quarta-feira, dezenas de apoiantes de Assange concentraram-se em frente ao Supremo Tribunal de Londres, munidos de cartazes onde se lia “Dez anos, já chega!” e “Libertem Assange”.
“Claramente, o Governo norte-americano tem a intenção de levar este caso até ao fim”, lamentou Rebecca Vincent, da organização Repórteres Sem Fronteiras, no final da audiência, embora acrescentando que “a qualquer momento, a Administração Biden poderá pôr-lhe termo”.
“[Assange] é um jornalista cujo único crime foi revelar as questões sujas e podres deste mundo”, afirmou Mario Mantilla, de 58 anos, citado pela agência francesa AFP, envergando um traje da estátua da liberdade manchado com sangue falso.
// Lusa