Resistentes, mas com táticas desatualizadas. É assim que os norte-coreanos na Rússia continuam a lutar pela sobrevivência, sem nunca capitular perante os inimigos. Por amor ao líder, preferem suicidar-se.
Desde o acordo de cooperação assinado entre Putin e Kim Jong UN, foram enviados para a Rússia cerca de 12 000 soldados norte-coreanos, dos quais cerca de 4 000 foram mortos ou feridos. Deverão ser enviados reforços em breve, avança a CNN.
“Eles podem entrar em combate descaradamente até serem neutralizados”, diz o comandante ucraniano com a alcunha “Pokémon”, que acrescenta: “Apesar de todas as tentativas de os chamar à rendição, eles continuarão a lutar“.
Não só os soldados norte-coreanos não se rendem, como preferem suicidar-se do que serem feitos prisioneiros pelo inimigo.
Um vídeo partilhado com a CNN mostra um soldado ucraniano aproximar-se de um norte-coreano e puxar-lhe a perna para ver se está vivo. O soldado norte-coreano solta, então, um grito, “general Kim Jong Un”, e faz explodir uma granada junto à própria cabeça, cometendo suicídio.
“Usam granadas, o que significa que se podem fazer explodir“, explica Pokémon. E as suas últimas palavras são de homenagem ao presidente.
O comandante ucraniano garante que os soldados norte-coreanos são “jovens e resistentes”, mas “estão preparados para as realidades da guerra em 1980, na melhor das hipóteses”. Mas têm armamento moderno, fornecido pela Rússia.
Algumas das táticas mais utilizadas consistem em, por exemplo atrair um drone através do envio de um “soldado isco”. Tentam, de seguida, abater o drone com tiros.
“São muito manobráveis e correm e deslocam-se muito rapidamente”, disse. “São difíceis de apanhar, especialmente com um drone”, acrescentou outro comandante, Amur. “Todos os abrigos, todos os carros são destruídos com lança-granadas anti-tanque. Eles movem-se muito depressa”.
E é com muito pouco conforto que são enviados para combater por um país que não é o seu. “Nas suas mochilas há o mínimo de água, pequenas garrafas, até um litro”, diz Amur. “Não há roupas quentes adicionais — nem chapéus, nem cachecóis, nada.”
Quando os corpos de norte-coreanos são encontrados por soldados ucranianos, estes levam os seus documentos, num deles, partilhado com a televisão americana, é possível perceber que os asiáticos se fazem passar por russos, com bilhetes de identidade falsos.
Papéis, auto-motivação e obediência ao líder
A CNN teve ainda acesso a notas e papéis que os soldados ucranianos encontraram nos corpos de soldados norte-coreanos, inclusive um código de rádio, mas também apontamentos escritos à mão.
“O martelo da morte do desconhecido e do lixo fantoche não está longe. Empunhamos a força poderosa que os faz tremer de medo. Uma batalha invencível e com certeza ganha“, escrevia um militar num papel.
A fixação pela vitória em prol de um bem maior (O Estado) está muito presente nos apontamentos. “Vou demonstrar uma bravura sem paralelo. Mundo, observem com atenção”, escrevia-se noutro papel rabiscado.
Algumas notas são quase como um diário de guerra. Há, por exemplo, quem denuncie o comportamento errático de colegas, que se envolveram “num ato inimaginavelmente vergonhoso ao roubar mantimentos”, ou falharam “em respeitar a dignidade do Comandante Supremo e colocado os seus interesses pessoais acima de tudo”.
Na verdade, o respeito pela autoridade é um os valores máximos para os norte-coreanos, pelo que a devoção ao líder está presente em muitos dos documentos encontrados.
Alguns papéis parecem textos de auto-motivação. “A minha unidade conseguia eliminar cerca de 30 soldados inimigos num dia de trabalho, apenas atirando-lhes granadas à cabeça. Eles não sabiam o que fazer”, escreve um soldado.
Também se apontam táticas. “Como destruir drones” é o título de um dos documentos, escrito à mão, como se de um apontamento de escola se tratasse.
“Quando um drone é avistado… a uma distância de cerca de 10-12 metros, uma em cada três pessoas deve atraí-lo incondicionalmente, e as outras duas devem fazer pontaria e disparar. Outro método é, como os projéteis não voltam a cair na mesma cratera, abrigar-se na cratera…”, lê-se.
Os comandantes ucranianos descrevem-nos como adversários implacáveis: “Eles não fazem prisioneiros. Todos os nossos militares que encontrámos foram baleados na nuca.”
Guerra na Ucrânia
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