Facebook, Twitter, Instagram, ou YouTube não são solução. Estudo revela que os jovens portugueses que passam muito tempo nas redes sociais se sentem mais sozinhos.
Investigadores do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), em Lisboa, descobriram que o sentimento de solidão entre os jovens portugueses mantém-se, mesmo quando o tempo que passam online não interfere com o tempo que passam a falar com amigos fora da Internet, frente a frente.
“O nosso estudo sustenta que há qualquer coisa na comunicação online que causa a solidão, que é a forma como a comunicação acontece online que cria esse sentimento”, explica ao Público o investigador Rui Costa. Em causa, revela, pode estar a falta de riqueza sensorial das conversas online.
“Nas raparigas, em particular, o sentimento de solidão não se explicava por passarem menos tempo com os amigos. Foi uma das questões que nos chamou a atenção.” O estudo foi publicado na International Journal of Psychiatry in Clinical Practice.
Os participantes, 548 jovens portugueses, revelaram que as redes sociais eram a sua atividade preferida. Os jovens foram avaliados quanto à perceção de solidão, ambiente familiar e se têm um “uso problemático da Internet”.
No caso dos rapazes, um uso problemático da Internet estava associado a menos tempo para os amigos ou parceiros fora da Internet. Contudo, com as raparigas, embora o tempo online interferisse com algumas relações familiares, não interferia com o tempo que passavam a falar com os amigos em pessoa. Só que, mesmo assim, reportavam sentimentos de solidão.
“Isto foi muito interessante. Até agora pensava-se que a Internet levava as pessoas a passar menos tempo a falar com amigos e que isso levava à solidão. Mas agora podemos ver que é a própria Internet que causa a solidão“, resume o investigador.
Para os investigadores, o motivo pode estar relacionado com a evolução da espécie humana, durante a qual a vida em sociedade foi necessária para a sobrevivência. Como tal, os mecanismos cerebrais aprenderam a reconhecer a satisfação em interações sociais apenas quando há informação sensorial suficiente a acompanhar.
Os cientistas sugerem que, no caso da comunicação online, não acontece o mesmo, uma vez que este tipo de comunicação não tem a mesma riqueza sensorial que a comunicação offline. “Quando falamos da Internet, não há informação a nível do olfato, por exemplo, e a forma das pessoas falam é diferente”, detalha Rui costa.
Raquel Carvalho, que trabalha com adolescentes e crianças na Oficina da Psicologia, concorda. “Nota-se que com o mundo digital os jovens se refugiam muito na tecnologia e, por isso, as interações com os pares são mais pobres. É com relacionamentos cara a cara que se desenvolvem capacidades como a empatia e a cooperação”, sustenta.
Ao diário, Raquel Carvalho adianta ainda que, ao nível das neurociências, “há hormonas que são produzidas como resposta à sensação de toque. É o caso da oxitocina“.
A “hormona do amor” – ou “hormona do abraço” -, é libertada durante o toque com outros humanos. No cérebro, o neurotransmissor está relacionado com fenómenos como a criação de laços afetivos, empatia, desenvolvimento de confiança com outras pessoas, e diminuição da agressividade.
“O refúgio na Internet da adolescência pode ser visto como normal, porque atualmente é uma forma de se criarem ligações aos pares. Mas é preciso garantir que não se estão a substituir encontros reais”, remata Raquel Carvalho.