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Jovens saudáveis em ambientes de risco devem ser vacinados, defendem especialistas

Abir Sultan / EPA

Especialistas são contra a existência de um único critério, o das doenças pré-existentes, e defendem que deve ser criado um regime de “porta aberta” que permita a vacinação de todos os jovens entre os 12 e os 15 anos.

Era já um dado conhecido e afirmado por diversos especialistas: mesmo as pessoas vacinadas contra a Covid-19 podem transmitir o vírus, já que, quando expostas, são capazes de desenvolver cargas virais semelhantes às dos não vacinados — mesmo que durante o processo não tenham qualquer tipo de sintoma.

Esta constatação, atestada por Manuel Santos Rosa, imunologista e professor catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra, leva-o a afirmar que “a haver vacinas, devemos indubitavelmente vacinar todas as crianças e jovens sem nenhuma restrição” — uma posição oposta à norma recentemente anunciada pela DGS.

O especialista defende que, na falta de vacinas, “temos de ter estratégias de vacinação que devem sempre colocar em primeiro lugar os que são mais suscetíveis. Mas estas devem incluir também os que podem ser maiores transmissores do vírus”, argumenta.

Na mesma linha, o infecciologista pediátrico do Hospital D. Estefánia Luís Varandas também defende que todas as crianças e jovens nas faixas etários entre os 12 e os 15 anos devem ser vacinados, dizendo que é preciso considerar que a vacinação tem “uma proteção individual e uma proteção indireta”.

“O critério não pode ser só um, porque se for só o de doenças preexistentes, na prática, mesmo com algumas crianças vacinadas, haverá sempre algum risco, porque não estão todas. E, como sabemos, os adolescentes são transmissores e as vacinas dão uma proteção individual, mas também uma proteção indireta”, resumiu.

Em declarações ao Diário de Notícias antes da norma da DGS ser totalmente publicada, Luís Varandas afirma que as posições assumidas pelo próprio e por outros colegas de profissão se baseiam na “decisão de que as vacinas só seriam para grupos de risco, mas depois colocaram a questão de que jovens saudáveis também poderão ser vacinados, dependendo de uma avaliação médica, e isto está a gerar confusão“.

O clínico serve-se do exemplo de outros países que definiram “grupos de risco para a vacinação dos mais jovens”. No entanto, relembra, “todos sabemos que os grupos de risco só estão protegidos se os outros à sua volta também estiverem. E isto coloca-se em relação à vacinação dos adolescentes, quer estejam em ambiente escolar ou familiar, a viverem com pessoas que integram grupos de risco.”

Os dois profissionais de saúde concordam que a vacinação dos jovens não pode ficar dependente apenas de um critério, o das doenças preexistentes, e exemplificam. “Um jovem que não tem uma doença preexistente mas que tem uma história clínica de sistema imunitário mais frágil ou que está inserido num ambiente em que pode ser um potencial transmissor para pessoas de risco. Estas situações têm de ser equacionadas”, explica Santos Rosa.

O imunologista e professor catedrático defende a existência de “uma porta aberta para as crianças saudáveis, mas que tenham histórico de resposta imunitária diminuída ou de resposta inflamatória exacerbada, que são situações que colocam qualquer ser humano em risco. E a avaliação médica pode ser importante para não estrangular o grupo de crianças vacinadas aos grupos de doenças tipificadas como morbilidades”.

O mesmo raciocínio deve ser aplicado ao meio em que as crianças e os jovens vivem, assim como às circunstâncias de habitação. “Há benefício individual, mas o desejável é que uma vacina tenha também benefício para terceiros. Por exemplo, uma criança que esteja num ambiente de eventual contacto com o SARS-CoV-2, no caso de viver numa localidade em que há um surto e que este persiste, tem maior probabilidade de ser infetada, e isto justifica a sua proteção com a vacina.”

Finalmente, o especialista argumenta que é preciso encarar a vacinação como um critério de proteção individual, e não como um critério de fortalecer a imunidade de grupo, já que isso nos pode levar a pensar que basta proteger determinada percentagem da população, e não é assim. “É fundamental perceber que, estando vacinado, estou mais protegido. Se todos estivermos vacinados, estamos todos mais protegidos“, disse.

ARM, ZAP //

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