“My Dream – Um Amor para toda a vida” é o primeiro livro de Ana Luísa Sousa. Com um condição motora que a acompanha desde a nascença, a jovem não desistiu dos seus sonhos e esta é uma das provas: um romance sentido, onde fala sobre o amor, a esperança e a persistência.
[boxright]Hemiparesia ocorre quando metade do seu corpo está enfraquecido ou sofreu perda parcial do movimento, causada geralmente por lesões no cérebro, no tronco cerebral, no cerebelo ou na medula espinal, que podem afetar o sistema piramidal (trato nervoso que une o córtex cerebral à medula) e produzir a debilidade[/boxright]
“Eu nasci assim, portanto a minha realidade sempre foi esta”, disse ao ZAP a jovem de 24 anos, residente no Porto. Portadora de hemiparesia esquerda associada a um atraso cognitivo ligeiro – problema que lhe afeta maioritariamente o lado esquerdo do corpo -, assumiu que não foi fácil lidar com a doença. “Foi terrivelmente difícil aceitar-me como sou”, disse a jovem, que é acompanhada no Centro de Paralisia do Porto.
Apesar desta e de outras adversidades, Ana Luísa nunca desistiu dos seus sonhos e já realizou um dos grandes: escrever um livro. “My Dream – Um amor para toda a vida” é um romance onde retrata a história de Constança, que, à sua semelhança, tem problemas motores. “A mensagem que pretendo transmitir é a de que um amor verdadeiro ultrapassa qualquer obstáculo, independentemente de estes não parecerem ultrapassáveis”, referiu.
Segundo a própria, Constança é uma menina que nasceu com uma deficiência física, mas com um coração forte, “capaz de amar com intensidade e de não desistir jamais”. Na juventude, apaixonou-se por Rodrigo, um colega de liceu. De um momento para o outro, este mudou-se para a Inglaterra. “Depois de muito sofrer e acreditar que era apenas uma amor juvenil, ela contenta-se em casar com Rafael, um querido amigo”.
Tempos depois, surgiu a oportunidade de ir para Londres. Aí, num café local, encontrou o seu antigo amor. “Bastou só vê-lo para perceber que o sentimento não cedera com o tempo. Como resistir? Como abandonar uma história de amor interrompida? Justo ela, Constança, que nunca desistira das dificuldades que a vida lhe trouxera”.
Escrito ao longo de vários anos, o livro foi publicado em novembro de 2018, não tendo tido a autora qualquer apoio económico para a sua divulgação. Neste romance, criou “uma história sutil de Shakespeare: um caso que contamos aos amigos, com a surpresa de algo que parece mentira, com o assombro de quem narra uma peça que o destino pregou”.
“Trata-se de um romance verdadeiramente inspirador, um amor adolescente que não foi correspondido. Eles seguiram caminhos diferentes, ambos casaram e tiveram filhos, mas o destino resolveu juntá-los novamente”, contou sobre o livro.
A paixão pela escrita, contudo, já é antiga. Em 2016 Ana Luísa criou o seu próprio blog, do qual tem “um orgulho enorme” e onde partilha informações sobre o seu trabalho, sobre as vivências e sobre o que a motiva.
Depois destas conquistas, Ana Luísa quer mostrar aos outros que é possível. “Acho que posso servir de exemplo a outros jovens pela minha condição física, e não só. Apesar das diversas dificuldades que sempre estiveram e estão patentes na minha vida, nunca desisti dos meus sonhos mesmo que as outras pessoas me dissessem ou digam que é impossível”.
“Hoje em dia, acho ainda mais importante o meu testemunho pois vivemos num mundo de facilitismos. Acho importantíssimo que as pessoas possam ver outras realidades”, afirmou o jovem, considerando que Portugal não está preparado para pessoas como ela.
“Como tenho um problema de equilíbrio, não posso andar de autocarro por medo que me dêem um encontrão. Não posso andar de comboio sozinha, nem circular à vontade no meu próprio país e isso entristece-me muito”, notou a jovem.
Outras das adversidades relaciona-se com algo que afeta um grande número de pessoas: o ‘bullying’. “Há gente muito má, que sempre fez questão de me tratar como lixo. Sofri muito ‘bullying’, tanto a nível físico como psicológico, tendo este último sido mais intensivo. Depois, precisei de acompanhamento psicológico e, graças a isso, posso dizer que recuperei do meu trauma e, assim, a minha vida”.
Segundo dados do estudo ‘EU Kids Online’, coordenado em Portugal pela Universidade Nova de Lisboa e divulgado em fevereiro deste ano, o ‘bullying’ – que inclui atos de violência física ou psicológica repetidos contra determinada vítima – tem crescido em Portugal entre as crianças e jovens, principalmente na Internet.
O estudo mostrou que quase uma em cada quatro crianças (23%) foi vítima de ‘bullying’ no último ano. Em 2014, essa percentagem era de apenas 10%. Os que admitem fazer ‘bullying’ são agora 17%, valor que também duplicou face a 2010.
Nesta análise foram inquiridas 1974 crianças e jovens, entre os 9 e os 17 anos, em 2018, tendo a percentagem dos que afirmam sentir-se perturbados com a exposição a conteúdos negativos no último ano passado de 10%, em 2014, para 23%.
Mas as situações adversas não conseguiram demover o seu sorriso e resiliência. Por isso a mensagem que pretende passar é a de que “nunca se deve perder a esperança“. Acredita que “não se deve deixar de perseguir os sonhos, seja em que circunstância for”. São eles que “vos vão dar a felicidade”, concluiu Ana Luísa.