Jovem norueguesa controla 450 perfis no Instagram para tentar evitar suicídios

Uma norueguesa de 22 controla 450 perfis privados no Instagram para tentar evitar suicídios, conta a emissora britânica BBC, revelando ainda que a jovem recebeu já o apelido de “salva-vidas” devido ao trabalho que leva a cabo.

Ingebjørg Blindheim é o nome por detrás desta iniciativa. Apesar de não ter qualquer formação para monitorizar e/ou identificar perfis suicidas, a jovem sentiu necessidade de agir, tentando ajudar aqueles que partilham o seu desespero online.

“Vejo [nas redes sociais] muitas pessoas que querem morrer (…) Não vou ficar apenas a ver uma pessoa a dizer que se quer matar, ignorar isso e esperar pelo melhor”, disse, citada pela BBC. “Sinto que quando não estou ao telemóvel a monitorizar as contas, as pessoas podem fazer algo com elas mesmas e ninguém verá”.

O trabalho de Ingebjørg consiste em controlar várias contas de Instagram de forma constante, identificando eventuais casos de tendências suicidas. Depois, a jovem norueguesa alerta a polícia e os serviços de socorro médico.

Atualmente, são 450 contas, pertencendo a maioria destas a mulheres que nas suas publicações falam dos seus sentimentos mais obscuros. Há também alguns homens.

De acordo com a BBC, estes membros inserem-se numa espécie de mundo secreto de pensamentos, imagens e confissões privadas, onde a regra “não denuncie”reina. Por isso, quando Blindheim contacta as autoridades, tem especial cuidado para não dizer muito sobre a comunidade e alienar os seus membros.

Quando faz as denúncias, a jovem recebe reações diversas: há autoridades que agradecem pelo seu trabalho, mas há também quem não acredite no que diz.

No início deste ano, Ingebjørg contactou a polícia para que interviesse no caso de uma rapariga que dizia que iria tirar a sua própria vida. Na resposta, as autoridades disseram que a jovem em causa já tinha ameaçado acabar com a sua vida 16 vezes e, por isso, decidiram não reagir. No dia seguinte, Ingebjørg foi avisada de que o suicídio tinha mesmo acontecido. “Implorei para que confirmassem se [a jovem] estava bem, mas não me levaram a sério”, revelou, citada pela emissora britânica.

Iniciativa surge da experiência própria

Ingebjørg conhece o poder da partilha online por experiência própria: como jovem adolescente a lutar contra distúrbios alimentares, começou a seguir contas no Twitter que partilhavam de forma aberta publicações sobre a sua anorexia e auto-utilização.

“Vi que recebiam muita atenção de pessoas que entendiam e se importavam e eu queria a mesma coisa porque não sentia o mesmo em relação a minhas amigas”.

Este apoio pode ser entendido pelos utilizadores pelas redes sociais como o aspeto positivo das comunidades online, um lugar onde podem ser ouvidos e compreendidos, longe dos profissionais de saúde que, por vezes, aparentam julgar estes problemas.

Contudo, estas redes não são lugares seguros: as coisas boas que são encontradas, explica Ingebjørg, acabam por ser descompensadas pelas coisas negativas. A jovem contou que existem nestes comunidades recompensas para publicações de pensamento e imagens extremas – quanto mais extremo o pensamento ou o corte, maior é a atenção recebida.

Pode mesmo criar-se uma espécie de competição, com um manual de formas para se mutilar ou até mesmo matar. “Acredito que as comunidades fazem as pessoas piores, porque dão ideias de como se podem suicidar, passar fome, livrar-se da comida que ingeriu ou até esconder a doença das pessoas”.

Depois de publicar fotografias do seu corpo desnutrido no Twitter, Ingebjørg foi contactada por uma terapeuta que a alertou de que as suas imagens estavam a encorajar outras pessoas. A jovem conta que as pessoas que conheciam que se mutilavam migraram do Twitter para o Instagram, onde é mais fácil esconder o conteúdo que postam das pessoas que não querem que o encontrem.

Há quatro anos, Ingebjørg e a sua melhor amiga de 15 anos foram tratadas dos seus problemas de saúde mental e receberam alta na mesma altura. Ingebjørg estava confiante de que melhoraria, mas a sua amiga ameaçou matar-se caso fosse enviada para casa.

Apesar da jovem lhe pedir para que não acabasse com a sua vida, a melhor amiga de Ingebjørg acabou por se matar.  “É por isso que faço” a monitorização destas contas, disse.

“Prometi a mim mesma que, depois de ter perdido a minha melhor amiga, que faria qualquer coisa para prevenir que as pessoas se sentissem da mesma forma que eu me senti quando aconteceu”, rematou.

ZAP // BBC

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