Jornalistas e políticos ameaçados por polícias no Capitólio

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José Sena Goulão/Lusa

Polícias em protesto junto ao Capitólio, 19 de fevereiro de 2024

“Sensação de sequestro” na noite de segunda-feira, em protesto não autorizado das forças de segurança junto ao Capitólio. Socialistas querem que o presidente da Câmara de Lisboa faça queixa. PSP vai investigar.

Não autorizados a protestar junto ao capitólio, onde decorria, ao mesmo tempo, o debate eleitoral entre os líderes do PS e do PSD, elementos das forças de segurança da PSP e GNR insultaram e ameaçaram jornalistas, políticos e comentadores, segundo relatos de alguns profissionais presentes no local.

“És uma vergonha, filho da p*ta” foi uma das frases dirigida ao comentador da SIC Pedro Marques Lopes. “Toda a cena foi absolutamente inqualificável”, diz ao Diário de Notícias esta quarta-feira.

Outro comentador da SIC, José Eduardo Martins, ficou impressionado com o ambiente. “Filha da p*ta, hás-de pousar, cabrão”, disseram-lhe.

“A sensação era a de que estava no meio de uma manifestação de motards, de Hell’s Angels. Se não me tivessem dito que eram polícias, eu confesso que não adivinhava”, descreve ao DN, que ouviu diversos relatos de insultos, provocações e tentativas de intimidação no encontro espontâneo da noite de segunda-feira.

Viveu-se uma “sensação de sequestro”, conta a deputada do PS Isabel Moreira. “Havia várias pessoas a perguntar como iam sair dali”, disse.

“Fiquei impressionado com a facilidade com que este grupo de manifestantes cortou a única saída daquele espaço. Mas nunca senti receio nenhum nem por mim nem pelas nossas equipas. Sei que são portugueses que querem lutar pelos seus direitos e aproveitaram a visibilidade da presença da comunicação social”, disse ao jornal o diretor-adjunto de informação da SIC, José Gomes Ferreira.

Durante o percurso entre a Praça do Comercio e o Capitólio, junto à Avenida da Liberdade, os manifestantes percorreram a rua da Prata, Rossio e Avenida da Liberdade, onde o trânsito teve de ser interrompido, uma vez que esta manifestação estava autorizada não para aquele local, mas sim para a Praça do Comércio.

PSP abre inquérito

O diretor nacional da PSP determinou esta terça-feira a realização de um inquérito interno sobre as circunstâncias do protesto, “com o objetivo de apurar as circunstâncias em que decorreu o desfile e concentração junto ao Capitólio, confirmar a eventual participação de polícias da PSP no referido desfile e concentração, de forma a apurar eventual responsabilidade disciplinar, bem como a elaboração de auto de notícia a narrar estes factos, para ulterior remessa ao Ministério Público”, refere uma nota divulgada pela direção nacional da PSP.

No mesmo documento, a Direção Nacional da PSP explica que para segunda-feira foi marcada e comunicada à Câmara Municipal de Lisboa uma manifestação na Praça do Comércio, em Lisboa, pela plataforma que representa os vários sindicatos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e associações socioprofissionais da Guarda Nacional Republicana (GNR), adiantando que a manifestação “decorreu sem qualquer incidente e dentro dos limites legais e com civismo”.

“Todavia, a determinada altura, fora do quadro legal que regula o direito à reunião e manifestação, uma parte dos manifestantes decidiu iniciar um desfile por várias artérias da cidade de Lisboa até à zona do Capitólio, onde se concentraram, desfile esse para o qual não existiu qualquer comunicação à Câmara Municipal de Lisboa (CML), obrigando ao corte inopinado de várias artérias da cidade”, refere a PSP.

A Polícia de Segurança Pública salienta que “o local final de concentração (junto ao cineteatro Capitólio), também não foi comunicado à CML, conforme obriga o atual quadro legal”.

PS quer que Moedas faça queixa

Vereadores socialistas da CML querem forçar o presidente da autarquia, Carlos Moedas, a fazer queixa ao Ministério Público. Vão a votos esta quarta-feira.

“Perante o cerco ao Capitólio, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa capitulou. Como de resto já se tinha verificado num cerco à sede nacional do Partido Socialista, convocado pela extrema direita, e que decorreu a 13 de maio de 2023″, acusam, em nota enviada às redações.

Protestos devem abrandar

O porta-voz da plataforma que junta os sindicatos da PSP e associações do GNR já disse esta terça-feira que a concentração espontânea junto ao Capitólio não põe em causa a legitimidade dos protestos e elogiou o comportamento dos polícias.

“Espelha alguma irregularidade do ponto de vista legal. Ainda assim, os polícias souberam comportar-se com maior elevação e respeito, sem ter, em momento algum, coagido e isso merece destacar”, disse Bruno Pereira, em declarações à agência Lusa.

“O que se passou a seguir (à concentração na Praça do Comércio) foi puramente espontâneo e mostra que os policias estão bastante insatisfeitos, intranquilos e quiseram fazer-se ouvir de forma mais audível, simbolicamente, no sítio onde decorreu o debate entre os líderes do PS e do PSD”, sublinhou.

Bruno Pereira insistiu que a marcha decorreu de forma tranquila e elogiou o comportamento “sereno, elevado e democrático” dos polícias. “Não estou a ver onde é que isso possa macular a legitimidade do protesto, mas mostra o sentimento dos polícias aos dias de hoje”, acrescentou.

Questionado sobre se a contestação se manteria, a menos de um mês das eleições legislativas, Bruno Pereira admitiu que “provavelmente abrandará”, para “dar espaço a que se faça a discussão e combate político”.

Até agora, acrescenta, o objetivo foi influenciar e apelar ao debate. “Já sabemos que quem vai ter de resolver esta questão será um dos líderes, que irá formar o novo governo. Ambos já assumiram que iriam dar a maior prioridade à resolução desta questão. Respeitamos os tempos da democracia, da constituição do novo governo, até que possam renovar os votos do que prometeram”, concluiu.

Encontro nacional adiado

Em comunicado, a plataforma explicou que o encontro nacional de polícias foi adiado para o “pós 10 de março, já num novo quadro político”, garantindo que não irá deixar de “manter acesa a chama da legítima, justa e incontornável reivindicação”.

“A Plataforma manterá a reivindicação do suplemento de missão, através de ações de luta a outros níveis, sendo ela que marcará a diferença no futuro de todos vós e destas instituições seculares”, pode ler-se na nota divulgada nas rede sociais.

No pós-eleições, a plataforma garante que os cidadãos podem “contar com o regresso em força” das reivindicações, alicerçadas “na exigência da reposição de uma das maiores injustiças alguma vez praticada” para com estas forças de segurança.

A plataforma garantiu também que solicitará “uma audiência imediata ao futuro líder do Governo tendo em vista, como prometido amplamente por todos, a resolução imediata desta desigualdade”.

“Que possa constituir o pontapé de saída para a resolução consequente do miserabilismo que se tem instalado em torno das nossas carreiras e que tem afastado as novas gerações de carreiras tão nobres quanto a Nossa”, destacam as forças de segurança.

Os elementos da PSP e da GNR estão em protesto há mais de um mês para exigir um suplemento idêntico ao atribuído à Polícia Judiciária.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Jornalistas, políticos e cidadãos médios, toca a berrar por subsídios de risco. Faz sentido, perante os perigos que, para fazerem o vosso trabalho, tiveram que enfrentar.
    Senti arrepios, e só os vi na televisão.
    Pareciam um bando de trogloditas desembestados.

  2. Estes policias e GNR, estão a dar um exemplo de primeira, a eles ninguem impede de fazerem o que querem, tudo lhes é permitido, são uns arruaceiros de primeira e quando for outros cidadões que se queiram manifestar eles vão logo a bruta como é o normal desta classe.. que mau exemplo

  3. essas ditas força de segurança não mostraram que são gente de bem mas sim umas associações de malfeitores que não honram a farda que vestem

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