Jornalista que exibiu cartaz contra a guerra na televisão russa libertada após 14 horas de interrogatório

Kira Yarmysh / Twitter

Maria Ovsyannikova na televisão estatal russa, Canal 1

Jornalista incorre num crime que lhe poderá valer 15 anos de prisão, à luz da nova lei implementada após a invasão da Ucrânia.

Marina Ovsyannikova, a funcionária do Channel One que invadiu o cenário de um dos noticiários para exibir um cartaz com mensagens a alertar para a guerra na Ucrânia e para a campanha de desinformação imposta pelo Kremlin, foi multada em 30 mil rublos (256 euros) por um tribunal russo, depois de as autoridades políticas terem denunciado o seu gesto como “holiganismo”.

A manifestante foi considerada culpada de violação das leis de protesto, no entendimento dos juízes, no entanto, não é claro se pode enfrentar acusações mais graves, já que ainda poderá ser ser sujeita a julgamento. O seu representante legal, à saída do tribunal e após 14 horas de interrogatório, optou por não fazer mais declarações.

No cartaz exibido por Ovsyannikova podiam ler-se ideias como “Não à guerra. Parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Eles estão a mentir-vos.” Na Rússia, à luz da forte censura imposta pelo Kremlin, os meios de comunicação não estão autorizados a referir-se à situação na Ucrânia como uma “guerra”, com “operação especial militar” a ser o termo usado. Longe dos ecrãs e dos olhos dos russos ficam as imagens que ilustram a crise humanitária que se vive no país vizinho, os danos causados nas principais cidades e o verdadeiro número de mortes que a invasão já provocou.

O ato já mereceu palavras elogiosas de Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, as quais foram prontamente substituídas por críticas dos representantes do Kremlin. “No que diz respeito a esta mulher, trata-se de holiganismo”, descreveu Dmitry Peskov, porta-voz do regime russo. “O canal e aqueles de direito ficarão responsáveis por tratar do assunto irão fazê-lo.”

Depois de ser libertada, Ovsyannikova afirmou aos jornalistas estar exausta depois das 14 horas de interrogatório, nas quais não foi autorizada a falar com familiares ou a ter assistência legal. O protesto gerou preocupação entre os seus mais próximos, por ter acontecido na sequência de uma nova legislação, adotada oito dias após a invasão da Ucrânia, segundo a qual qualquer tentativa de descredibilizar as forças russas ou difundir informação falsa sobre as mesmas incorre num crime correspondente a 15 anos de prisão.

Num vídeo gravado antes do gesto, a jornalista dirige-se a Putin pelo nome, dizendo que as “próximas 10 gerações não conseguirão limpar a vergonha desta guerra fratricida”.

ZAP //

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