Nunca foram beijados: os adolescentes japoneses estão a perder o amor em vez de nele se perderem. Também fazem menos sexo e a COVID-19 é uma das culpadas.
Em muitos países, o primeiro beijo é um ritual de passagem da adolescência, mas um novo inquérito aos estudantes japoneses do ensino secundário revelou que 4 em cada 5 rapazes entre os 15 e os 18 anos ainda não atingiram esse marco.
E as coisas não parecem ser muito diferentes para as raparigas, com pouco mais de uma em cada 4 estudantes do ensino secundário a ter dado o seu primeiro beijo.
Estes são os números mais baixos registados desde que o Japão começou a perguntar aos adolescentes sobre os seus hábitos sexuais em 1974 — e são provavelmente uma preocupação, num país com uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo.
O estudo da Associação Japonesa para a Educação Sexual (Jase), citado pelo jornal japonês Mainichi, inquiriu 12.562 estudantes de escolas secundárias, liceus e universidades, perguntando-lhes sobre tudo, desde beijos a relações sexuais.
O inquérito é realizado de seis em seis anos e tem vindo a registar uma queda nos primeiros beijos desde 2005, altura em que o número se aproximava de um em cada dois.
Não é surpresa: também fazem menos sexo
O relatório deste ano revelou que o beijo não foi a única área que registou uma queda nos números. Talvez não seja surpresa, mas também registou uma queda no número de jovens japoneses que têm relações sexuais.
De acordo com o estudo, o rácio de rapazes do ensino secundário que afirmam ter tido relações sexuais diminuiu 3,5 pontos percentuais desde 2017, passando para 12%. No caso das raparigas do ensino secundário, diminuiu 5,3 pontos, para 14,8%.
Os especialistas apontam o impacto da pandemia de COVID-19 como uma das possíveis razões para a queda.
O encerramento das escolas e as restrições ao contacto físico durante a pandemia de Covid tiveram provavelmente impacto em muitos destes estudantes, uma vez que aconteceu “numa altura sensível em que [estavam] a começar a interessar-se pela sexualidade”, explica Yusuke Hayashi, professor de sociologia na Universidade de Musashi.
Subida recorde… na masturbação
Apesar dos valores recordistas baixos, inquérito detetou uma subida numa área: a masturbação.
O número de adolescentes que admite a masturbação em todos os grupos demográficos atingiu níveis recorde.
Baixa natalidade: um problema de longa data
Os resultados surgem depois de um outro inquérito realizado no início deste ano ter revelado que quase metade dos casamentos no Japão não têm sexo.
Em 2023, o então primeiro-ministro avisou que a baixa taxa de natalidade do país estava a levá-lo ao limite da sua capacidade de funcionamento.
Alguns investigadores sugeriram que a população — atualmente de 125 milhões de pessoas — poderia cair para menos de 53 milhões até ao final do século.
Uma série de outros fatores foram apontados como possíveis contribuintes — incluindo o aumento do custo de vida, mais mulheres a estudar e a trabalhar, bem como um maior acesso à contraceção, que leva as mulheres a optar por ter menos filhos.
O Japão já tem a população mais idosa do mundo, medida pela ONU como a proporção de pessoas com 65 anos ou mais. No final de 2023, o Japão afirmou que, pela primeira vez, uma em cada 10 pessoas no país terá 80 anos ou mais.
ZAP // BBC