Uma equipa de arqueólogos espanhóis identificou o nome da deusa ibérica ligada ao culto do planeta Vénus — a principal divindade feminina dos ibéricos durante a Idade do Ferro.
Num novo estudo, uma equipa de investigadores liderada por Daniel Iborra Pellín, da Universidade de Alicante, lança luz sobre o nome e o culto da Dea Mater ibérica, a principal divindade feminina dos ibéricos durante a Idade do Ferro.
De acordo com o estudo, publicado na revista Complutum, esta divindade, símbolo da fertilidade e associada ao planeta Vénus, era conhecida como Iunstir, um nome que revela ligações culturais e religiosas com outras civilizações mediterrânicas.
A descoberta representa um avanço significativo no estudo da religião ibérica, uma área tradicionalmente limitada pela falta de fontes escritas claras e pelos desafios de decifrar a língua ibérica.
A investigação combina dados arqueológicos, linguísticos e astronómicos para propor que o termo Iunstir, recorrente nos textos ibéricos, corresponde ao nome desta divindade ligada à fertilidade e ao cosmos.
O estudo indica que a Dea Mater ibérica era uma figura central na espiritualidade ibérica. O seu culto teria sido uma manifestação local de tradições universais, influenciadas tanto pelas crenças neolíticas como pelas interações com os colonizadores fenícios e outras culturas mediterrânicas.
Os investigadoressugerem que o termo Iunstir pode ser dividido em duas partes: “Iun”, possivelmente o nome da deusa, e “stir”, que significa “estrela”. Esta estrutura faz lembrar outras divindades astrais veneradas no Mediterrâneo, como Ishtar ou Astarte, ambas associadas a Vénus.
O planeta Vénus, com o seu ciclo de visibilidade único e a sua ligação simbólica à fertilidade, teria sido central na conceção da Dea Mater ibérica, observa Iborra, citado pelo LBV.
Esta ligação é reforçada por numerosos achados arqueoastronómicos em santuários e necrópoles ibéricos, tais como as suas orientações para pontos-chave do ciclo sinódico de Vénus.
A orientação dos templos e grutas sagradas para Vénus é um aspeto fundamental da descoberta. Em locais como El Cigarralejo e La Osera, em Espanha, foi documentado que as estruturas se alinham com eventos astronómicos específicos, como o conjunto de Vénus meridional.
Segundo os autores do estudo, este facto indica que os ibéricos não só observavam o céu com grande precisão, como também integravam esse conhecimento nos seus rituais e crenças religiosas.
Entre os achados mais notáveis está a Gruta de La Nariz, onde foi descoberta a chamada Deusa da Salchita, uma figura feminina com uma estrela no peito, possivelmente representando Vénus. Esta representação reforça a ideia de que a Dea Mater ibérica estava profundamente ligada a este planeta.
Outro exemplo é o chamado vaso de Verdolay, encontrado perto do santuário de La Luz, em Múrcia, onde as decorações astrais sugerem rituais dedicados a uma divindade feminina. A orientação do templo para o conjunto de Vénus meridional confirma a importância de Vénus na visão do mundo ibérico.
O termo Iunstir não é novo nos estudos da epigrafia ibérica, mas o seu significado foi objeto de numerosas teorias. Alguns investigadores interpretaram-no como um título honorífico ou mesmo como uma fórmula ritual.
No entanto, a equipa de Iborra defende que se trata de um teónimo, ou seja, o nome de uma divindade, com base na sua posição proeminente nos textos e na sua associação com o termo neitin, outra possível divindade ibérica.
Além disso, a análise fonética de Iunstir sugere semelhanças com palavras relacionadas com o divino noutras línguas antigas, como o basco “Jaun” (senhor) ou termos indo-europeus associados a estrelas. A hipótese de Iunstir ser a designação de uma grande divindade feminina ibérica é cada vez mais sólida, conclui o autor.
Não eram ibéricos eram Iberos, da mesma maneira que os nossos antepassados eram Celtas e não célticos