O Irão, a Turquia, o Paquistão e a Rússia estão a tomar medidas para preencher o vácuo militar e diplomático que se abriu no Afeganistão como resultado da saída das forças norte-americanas e dos avanços militares dos Talibãs.
Em Teerão, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, reuniu com membros dos Talibãs para discutir questões relativas ao Afeganistão, garantindo, em nota conjunta, que estes últimos não apoiam ataques a civis, escolas, mesquitas e hospitais e que querem um acordo sobre o futuro do país, avançou esta sexta-feira o Guardian.
Do lado dos Talibãs a representação coube a Abbas Stanekzai, negociador e chefe do gabinete político do grupo no Qatar, enquanto o lado do governo afegão foi liderado pelo ex-vice-Presidente Yunus Qanooni. Outras três delegações afegãs estiveram em Teerão ao mesmo tempo.
As estimativas sugerem que cerca de 1 milhão de afegãos cruzarão a fronteira para evitar o conflito. Com cerca de 700 quilómetros da sua fronteira com o Afeganistão sob o domínio dos Talibãs, o Irão já recebeu 780.000 refugiados afegãos registados, enquanto entre 2,1 a 2,5 milhões sem documentos já viviam no país.
A Rússia tem procurado garantias de que os Talibãs não permitirão que as fronteiras ao norte do Afeganistão sejam usadas como base para ataques às ex-repúblicas soviéticas. Numa possível aliança com a Hungria, a Turquia ofereceu tropas para um projeto supervisionado pela NATO, que visa proteger o aeroporto internacional de Cabul.
A delegação dos Talibãs, que visitou o Irão na terça e quarta-feira a convite de Teerão, foi informada por Zarif que pode ter que tomar decisões difíceis. De acordo com o próprio, a continuidade dos conflitos entre os dois lados teria consequências “desfavoráveis” para o Afeganistão e um retorno às negociações seria a “melhor solução”.
Para o economista Saeed Laylaz, o “Irão enfrenta uma crise demográfica” e “a melhor, mais próxima e menos custosa forma de superá-la é aceitar a emigração do Afeganistão. A estabilidade no Afeganistão é importante para a segurança nacional, contribuindo para o envelhecimento da crise e para a economia do Irão”.
“Os Talibãs não poderiam ter sobrevivido tanto tempo sem apoio político e agora podem servir aos interesses diplomáticos regionais do Irão. Os Talibãs não são mais os do passado, perceberam que se deve interagir com o mundo, que se deve cooperar com os países da região”, acrescentou.
Já Rasoul Mousavi, responsável no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão pelos assuntos da Ásia Ocidental, referiu que os Talibãs provêm “do povo afegão”. “Não estão separados da sociedade tradicional do Afeganistão, sempre fizeram parte dela. Além disso, têm poder militar”, sublinhou.