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Role play ao serviço da Ciência. Investigadores fingem ser Neandertais para estudar caça a aves

Erich Ferdinand / Flickr (OD)

O Homem do Neandertal

Uma equipa de investigadores espanhóis decidiu adotar a “dramatização” científica para reconstruir um novo elemento do comportamento Neandertal: a cooperação com os membros do grupo enquanto usa fogo e ferramentas para caçar gralhas no interior das cavernas.

Os Neandertais, excelentes predadores, também se alimentavam de gralhas, pássaros que pernoitam em cavernas. Neste estudo, explicou Guillermo Blanco, investigador do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid, os cientistas reconstruiram o comportamento Neandertal e como usaram fogo para ofuscar, encurralar e agarrar as aves durante a noite.

Depois de analisarem alguma literatura científica, os investigadores confirmaram a coexistência entre Neandertais e gralhas. Aliás, segundo o Phys, na Europa, estas aves estão entre os fósseis de pássaros mais abundantes encontrados nas cavernas de Neandertais.

Na Península Ibérica, os fragmentos fósseis apresentavam, muitas vezes, marcas de corte das ferramentas de pedra “musterianas”, produzidas pelos Neandertais entre 300 mil e 35 mil anos atrás.

“Essas marcas são uma forte evidência de que os Neandertais pegavam nas gralhas e as cortavam em pedaços. A carne das aves não só rendia calorias, como também micronutrientes. Já as penas pretas brilhantes, os bicos e as garras amarelas ou vermelhas poderiam ser usados para decoração pessoal”, disse Juan Negro, da Estação Biológica de Doñana, em Sevilha.

A equipa decidiu usar uma espécie de “encenação” científica para descobrir a melhor forma de caçar gralhas por tentativa e erro. Em equipas de dois a dez, os “Neandertais” fugiram durante a noite com cordas, escadas e lâmpadas para imitar tochas – todas as ferramentas que os Neandertais poderiam construir na altura.

“Concluímos que as gralhas teriam sido excecionalmente vulneráveis ​​aos Neandertais se estes usassem luz artificial, como fogo”, disse Antonio Sánchez-Marco, do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont, em Barcelona.

“Mostramos que, quando ofuscadas, as gralhas tentam fugir para o lado de fora – neste caso, podem ser apanhadas com redes -, ou para o teto – onde muitas vezes é possível caçá-las com as próprias mãos”, acrescentou.

De acordo com o estudo, duas a três gralhas produziriam energia suficiente para ser uma refeição completa para um Neandertal adulto, sendo que “alguns caçadores habilidosos poderiam facilmente caçar 40 a 60 gralhas por noite”

O artigo científico foi publicado no dia 9 deste mês na Frontiers in Ecology and Evolution.

ZAP //

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