Os testes feitos a partir da Estação Espacial Internacional podem ser esclarecedores quanto à ligação entre a viagem espacial e a alta incidência de condições dolorosas.
A viagem dos astronautas para o Espaço podem originar mudanças inesperada nos seus corpos. Muitas delas escapam mesmo às previsões dos profissionais de saúde que fazem um acompanhamento próximo nos meses que antecediam a aventura. No entanto, há outros fenómenos que podem acontecer, alguns dos quais mais comuns e registados até por quem nunca tirou os pés do chão. O aparecimento de pedras nos rins é uma delas.
Segundo a NASA, as pedras nos rins foram relatadas mais de 30 vezes pelos astronautas após o seu regresso à Terra. Agora, os investigadores começam a tentar estabelecer a razão pela qual as viagens espaciais estão ligadas a esta condição dolorosa.
“A dor que se sente quando se tem uma pedra nos rins é a pior dor que se pode sentir”, explicou Stephen Walsh, professor catedrático de medicina experimental e consultor honorário no University College London, que está envolvido na investigação. “Um dos cosmonauta que teve cólicas renais [onde uma pedra fica bloqueada no trato urinário] em órbita e quase tiveram de o retirar por causa desse problema”, disse, citado pelo The Guardian.
Os cientistas já conheciam a relação da microgravidade com uma queda na densidade óssea. De facto, esta perda de cálcio no sangue oferece uma explicação possível para o crescimento de pedras renais ricas em minerais nos astronautas, sendo a desidratação outra causa potencial.
No entanto, o projeto visa aprofundar estes mecanismos. A equipa está a analisar os rins de 10 ratos que estavam na Estação Espacial Internacional (ISS) no final de 2020 antes de serem colocados a bordo e os rins de 20 ratos que foram expostos à radiação cósmica galáctica em laboratórios na Terra. Os cientistas compararam os rins com os dos ratos de controlo.
Embora a investigação ainda não tenha sido publicada, a equipa diz ter indicações precoces de que a radiação cósmica galáctica pode causar danos ao ADN nos rins, bem como afetar o transporte e metabolismo das gorduras. Os investigadores disseram que havia mesmo alguns sinais de alterações nas proteínas em torno das células do rim, indicando potencialmente quer a adaptação quer a danificação dos órgãos.
Além disso, os ratos expostos à radiação cósmica galáctica tinham níveis mais baixos de proteínas envolvidas no transporte de iões, tais como os de sódio, cálcio e fosfato. Os resultados também sugerem danos nas potências das células – as mitocôndrias. Isto é problemático como componente chave do rim, as células tubulares proximais, dependem inteiramente da energia que produzem.
“Quando as células tubulares descem, isso origina uma falha renal”, disse Walsh. “Pode chegar a Marte, mas recomendamos a diálise no regresso”, acrescentou ele.
Foi encontrada uma coleção semelhante de resultados para os ratos que tinham passado tempo a bordo da ISS. “Para mim, isso é surpreendente”, disse o Keith Siew, um investigador e especialista renal da UCL, pois disse que os ratos expostos à radiação no laboratório receberam uma dose equivalente a uma viagem de ano e meio a Marte; os que viajaram para o espaço só estiveram a bordo da ISS durante um mês.
Siew disse que a equipa acredita que ser possível que o ambiente da microgravidade possa estar a amplificar o impacto da radiação, embora seja necessário mais trabalho para explorar esta questão. O cientista adiantou ainda que o estudo poderia revelar-se útil não só para os astronautas.
“Estamos a assistir a aumentos ano após ano das pedras nos rins que ocorrem na Terra”, disse, acrescentando que melhorar as formas de identificar como e o porquê de se formarem, contrariar a sua formação ou tratá-las poderia trazer benefícios. Além disso, os conhecimentos sobre os efeitos da radiação nos astronautas poderiam abrir novos caminhos para a preservação de tecidos saudáveis em pacientes na Terra que estão a ser submetidos a radioterapia.