Num mundo dominado por homens, a inventora Josephine Cochrane criou nos finais do século XIX um dos eletrodomésticos mais usados no mundo.
Em 1893, a Feira Mundial, em Chicago, foi uma montra de invenções inovadoras, mas um aparelho destacou-se no Pavilhão das Máquinas – a Máquina de Lavar Loiça Garis-Cochran.
Inventada por Josephine Garis Cochrane, foi a única máquina da enorme exposição concebida por uma mulher. Capaz de lavar mais de 200 pratos em apenas dois minutos, a máquina de lavar loiça não era apenas uma peça de exposição, mas uma parte integrante da feira, limpando milhares de pratos diariamente nos seus muitos restaurantes.
A máquina recebeu um prémio pela sua construção mecânica e durabilidade, marcando um ponto de viragem na história dos aparelhos de cozinha. Mas afinal, qual é a história da sua inventora?
Nascida em 1839 no Ohio, Cochrane provinha de uma linhagem de inventores – o seu bisavô detinha uma patente de um barco a vapor e o seu pai era engenheiro civil. Casou com William Cochran, um homem de negócios, em 1858, adoptando uma grafia mais europeia do seu apelido, “Cochrane ”, para refletir o seu sofisticado estatuto social.
Depois de se instalar em Shelbyville, no estado norte-americano do Illinois, o casal viveu confortavelmente, recebendo frequentemente convidados com a preciosa porcelana do século XVII de Josephine. Mas a sua frustração com a loiça partida, quer fosse lavada pelos criados ou por ela própria, levou-a a ter uma ideia: uma máquina para automatizar a lavagem da loiça. “Se mais ninguém vai inventar uma máquina de lavar loiça, eu própria o farei”, terá dito.
Uma mulher num mundo de homens
A sua vida sofreu uma reviravolta quando William morreu em 1883, deixando dívidas e apenas 1500 dólares. Determinada a sustentar-se, Cochrane empenhou-se em desenvolver a sua máquina de lavar loiça, contratando o mecânico George Butters para a ajudar a construir um protótipo. Em 1886, recebeu a patente americana 355.139 pela sua “máquina de lavar loiça”, que utilizava a pressão da água em vez da lavagem manual — um conceito ainda hoje utilizado nas máquinas de lavar loiça.
Apesar da sua intenção de aliviar as tarefas domésticas das mulheres, a máquina era demasiado cara para as famílias. Em vez disso, a máquina foi direcionada para hotéis e restaurantes, fazendo a sua primeira venda em 1887 ao Palmer House Hotel de Chicago, explica o Popular Science.
Vender a hoteleiros do sexo masculino era assustador, mas Cochrane avançou. “O átrio parecia ter uma milha de largura. Pensei que ia desmaiar a cada passo, mas não desmaiei – e recebi uma encomenda de 800 dólares como recompensa”, recordou mais tarde.
O seu sucesso chegou com a Feira Mundial de Chicago de 1893, onde a sua máquina de lavar loiça ganhou enorme atenção. Surgiram encomendas de hotéis, restaurantes e até hospitais. Em 1898, abriu a sua própria fábrica, rebaptizada Crescent Washing Machine Company, e promoveu Butters a capataz.
Cochrane faleceu em 1913, mas o sucesso da sua empresa continuou. Em 1926, a Hobart Manufacturing Company adquiriu-a, lançando máquinas de lavar loiça com a marca KitchenAid. Mais tarde, a Whirlpool Corporation assumiu o controlo em 1986, assegurando que a invenção de Cochrane se tornasse um produto conhecido por todo o mundo.
Olhando para trás no seu percurso, Cochrane disse uma vez: “Se soubesse tudo o que sei hoje quando comecei, nunca teria tido a coragem de começar. Mas, nesse caso, teria perdido uma experiência maravilhosa”.
Há mulheres que todos os dias nas suas preces às deusas do Feminismo, agradecem aos inventores das máquinas de lavar roupa e louça. O caminho da emancipação feminina passou por aqui.