No início do século XX, Wu Lien-teh lutava contra uma praga na China e fez uma proposta radical. Atualmente, a inovação é comum um pouco por todo o mundo, graças à sua engenhosidade e coragem.
Filho de imigrantes chineses da cidade de Taishan, Wu Lien-teh nasceu em Penang, um dos Estados federados da Malásia. Aos 17 anos, foi estudar para Cambridge, no Reino Unido, graças a uma bolsa de estudos que o tornou o primeiro aluno de ascendência chinesa a frequentar a faculdade de Medicina, em 1896.
Wu Lien-teh era brilhante: além de ter conseguido o seu diploma dois anos antes do previsto, recebeu todos os prémios académicos possíveis. As bolsas de estudo que foi ganhando ao longo do seu percurso permitiram-no viajar para o Reino Unido, Alemanha, França e Estados Unidos, para levar a cabo investigações científicas.
Anos mais tarde, foi convidado a embarcar para Tianjin, na China, onde assumiu o papel de vice-diretor do Imperial Army College, conta o Inverse.
Em 1910, começaram a proliferar notícias de uma praga mortal, no norte da Manchuria, quase 100% letal. Lien-teh foi convidado a ajudar a impedir a rápida propagação da doença, que mais tarde se veio a descobrir que se tratava de peste pneumónica, originada pela peste negra e causada pela bactéria Yersinia pestis.
O surto teve origem em caçadores de marmotas, na fronteira com a Sibéria, e matou 60 mil pessoas em apenas quatro meses.
Lien-teh realizou uma autópsia numa mulher japonesa que morreu vítima da doença – a primeira feita na China – depois de enfrentar muita resistência devido aos costumes culturais chineses que condenavam a prática.
O médico propôs uma nova teoria que ia contra a narrativa comum daquela época: em vez de se espalhar através de pulgas e ratos, a praga espalhou-se pelo ar em humanos.
Foi nessa altura que Lien-teh apresentou uma versão mais protetora de máscaras anti-peste, adicionando mais gaze, camadas protetoras e introduzindo uma forma mais eficiente de a amarrar para evitar movimentos.
Hoje, as suas máscaras são reconhecidas como as primeiras precursoras das máscaras N95.
Lien Teh também insistiu para que os corpos das vítimas da peste pneumónica fossem cremados. O médico sabia que os cadáveres que tinham sido enterrados representariam um grave perigo para a saúde pública e decidiu convencer as autoridades locais, apesar da forte oposição cultural à prática.
Com o aumento da cremação, o incentivo ao uso de gaze e máscaras de algodão e com o conselho de Lien-teh para monitorizar os transportes, a mortalidade começou a diminuir.
O doutor Wu Lien-teh morreu vítima de um derrame cerebral no dia 20 de janeiro de 1960, com 81 anos. Segundo o El País, a sua morte foi chorada pela comunidade médica e um pouco por todo o mundo.
Em 2008, foi construído o Hospital Memorial Dr. Wu Lien-teh, e uma escola também com o seu nome, em Harbin. Várias estátuas de bronze na Universidade Médica de Harbin e no Hospital Universitário de Pequim homenageiam também o criador do Serviço de Saúde Pública da China.
O legado médico de Wu Lien-teh permanece até hoje e ainda colhemos os benefícios das suas contribuições – incluindo a máscara “anti-praga”.