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A invenção do médico Wu Lien-teh, pai da saúde pública chinesa, permanece. Hoje, mais do que nunca

Library of Congress / Wikimedia

O médico Wu Lien-teh

No início do século XX, Wu Lien-teh lutava contra uma praga na China e fez uma proposta radical. Atualmente, a inovação é comum um pouco por todo o mundo, graças à sua engenhosidade e coragem.

Filho de imigrantes chineses da cidade de Taishan, Wu Lien-teh nasceu em Penang, um dos Estados federados da Malásia. Aos 17 anos, foi estudar para Cambridge, no Reino Unido, graças a uma bolsa de estudos que o tornou o primeiro aluno de ascendência chinesa a frequentar a faculdade de Medicina, em 1896.

Wu Lien-teh era brilhante: além de ter conseguido o seu diploma dois anos antes do previsto, recebeu todos os prémios académicos possíveis. As bolsas de estudo que foi ganhando ao longo do seu percurso permitiram-no viajar para o Reino Unido, Alemanha, França e Estados Unidos, para levar a cabo investigações científicas.

Anos mais tarde, foi convidado a embarcar para Tianjin, na China, onde assumiu o papel de vice-diretor do Imperial Army College, conta o Inverse.

Em 1910, começaram a proliferar notícias de uma praga mortal, no norte da Manchuria, quase 100% letal. Lien-teh foi convidado a ajudar a impedir a rápida propagação da doença, que mais tarde se veio a descobrir que se tratava de peste pneumónica, originada pela peste negra e causada pela bactéria Yersinia pestis.

O surto teve origem em caçadores de marmotas, na fronteira com a Sibéria, e matou 60 mil pessoas em apenas quatro meses.

Lien-teh realizou uma autópsia numa mulher japonesa que morreu vítima da doença – a primeira feita na China – depois de enfrentar muita resistência devido aos costumes culturais chineses que condenavam a prática.

O médico propôs uma nova teoria que ia contra a narrativa comum daquela época: em vez de se espalhar através de pulgas e ratos, a praga espalhou-se pelo ar em humanos.

Foi nessa altura que Lien-teh apresentou uma versão mais protetora de máscaras anti-peste, adicionando mais gaze, camadas protetoras e introduzindo uma forma mais eficiente de a amarrar para evitar movimentos.

Hoje, as suas máscaras são reconhecidas como as primeiras precursoras das máscaras N95.

mmmswan / Flickr

Máscara N95

Lien Teh também insistiu para que os corpos das vítimas da peste pneumónica fossem cremados. O médico sabia que os cadáveres que tinham sido enterrados representariam um grave perigo para a saúde pública e decidiu convencer as autoridades locais, apesar da forte oposição cultural à prática.

Com o aumento da cremação, o incentivo ao uso de gaze e máscaras de algodão e com o conselho de Lien-teh para monitorizar os transportes, a mortalidade começou a diminuir.

O doutor Wu Lien-teh morreu vítima de um derrame cerebral no dia 20 de janeiro de 1960, com 81 anos. Segundo o El País, a sua morte foi chorada pela comunidade médica e um pouco por todo o mundo.

Em 2008, foi construído o Hospital Memorial Dr. Wu Lien-teh, e uma escola também com o seu nome, em Harbin. Várias estátuas de bronze na Universidade Médica de Harbin e no Hospital Universitário de Pequim homenageiam também o criador do Serviço de Saúde Pública da China.

O legado médico de Wu Lien-teh permanece até hoje e ainda colhemos os benefícios das suas contribuições – incluindo a máscara “anti-praga”.

Liliana Malainho, ZAP //

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