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17 mil anos depois, instrumento musical do Paleolítico voltou a ser tocado

(dr) Carole Fritz

Depois de mais de 17 mil anos de silêncio e de várias décadas esquecida num museu francês, uma concha que pertencia aos nossos ancestrais pré-históricos fez-se ouvir novamente.

Segundo a agência France-Presse, citada pelo site Science Alert, os cientistas acreditam que esta concha, de uma espécie de grande caracol marinho ainda presente no Atlântico e no Mar do Norte, é o mais antigo instrumento de sopro deste tipo já encontrado.

A concha foi encontrada, em 1931, durante uma escavação arqueológica nos Pirinéus, perto da caverna Marsoulas, conhecida pelas suas pinturas rupestres paleolíticas e ornamentos da Cultura Magdaleniana.

Os investigadores não lhe deram grande importância, tendo presumido que se tratava de um copo cerimonial, por isso, levaram-na para o Museu de História de Natural de Toulouse, em França, onde acabou por ser esquecida.

Mas, agora, uma nova análise desta concha permitiu perceber que não só foi alterada pelos nossos antepassados, como também que tinha um propósito (que pode ser ouvido no áudio seguinte).

“Este som é uma ligação direta com o povo Magdaleniano”, afirmou Carole Fritz, cientista do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica e autora principal do estudo publicado, a 10 de fevereiro, na revista científica Science Advances.

“Do que sabemos, a concha Marsoulas é única no contexto pré-histórico, não apenas em França, mas também na escala do Paleolítico da Europa e talvez do mundo”, lê-se no artigo científico.

Quando a concha foi descoberta nos anos 30, os cientistas provavelmente presumiram que a ponta quebrada – que faz uma abertura de 3,5 centímetros de diâmetro – foi provocada por um dano acidental, disse o co-autor do estudo, Gilles Tosello, investigador do centro de arte pré-histórica da Universidade de Toulouse. Mas essa é a parte mais forte da casca, logo, era “quase impossível” que partisse naturalmente, acrescentou.

Numa análise mais detalhada, a equipa descobriu que a concha foi cuidadosamente modificada com uma “técnica elaborada”. Uma tomografia computadorizada revelou dois orifícios que os investigadores pensam ter sido feitos para instalar um bocal.

Os cientistas consideram que a concha pode ter tido um papel importante em rituais ou cerimónias daquela altura, tal como hoje ainda acontece entre alguns povos da Polinésia e da América do Sul.

Segundo o mesmo site, uma vez que o seu som era bastante alto (mais ou menos equivalente em decibéis ao de um metro a aproximar-se), o povo Magdaleniano pode ter usado a concha para fazer chamamentos.

A intensidade produzida é incrível. É fácil imaginar o que aconteceria na entrada da caverna, ou dentro dela, com este som tão forte”, concluiu Philippe Walter, diretor do laboratório de arqueologia molecular e estrutural da Universidade Sorbonne, em França, e outro dos autores do estudo.

ZAP //

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